Heineken prevê queda de vendas em 2025 com Brasil entre os piores mercados

Imagem: Carlos Felipe/Catalisi

Resultados do trimestre mostram retração de volumes em todas as regiões e forte queda no Brasil que podem sinalizar exaustão do segmento premium

O terceiro trimestre de 2025 trouxe sinais de enfraquecimento para a Heineken. A receita líquida orgânica da companhia caiu 0,3% em relação ao mesmo período do ano anterior, enquanto o volume de cerveja vendido recuou 4,3%, de acordo com o balanço oficial divulgado pela empresa. No acumulado de nove meses, a queda de volume chega a 2,3%.

As Américas e a Europa foram as regiões mais afetadas, com retrações de 7,4% e 4,7% respectivamente. Ásia-Pacífico e África/Médio Oriente tiveram leve crescimento, mas insuficiente para compensar o recuo global. A própria Heineken reconheceu que “a volatilidade macroeconômica persistiu e se intensificou no trimestre, criando um ambiente desafiador”, em contraste com os resultados positivos obtidos em anos anteriores.

Brasil tem queda acentuada e se torna ponto de atenção para o grupo

O Brasil se consolidou como um dos principais focos de deterioração no trimestre. As remessas de cerveja da Heineken no país caíram “na casa dos dois dígitos médios”, segundo o comunicado oficial, resultado de um acúmulo de estoque antes do reajuste de preços em 1º de julho. Essa antecipação derrubou o ritmo de vendas nos meses seguintes e expôs a fragilidade do mercado diante da desaceleração do consumo e da alta competitividade entre grandes grupos.

Embora a empresa afirme ter ganhado participação de mercado, o recuo reflete um cenário de demanda mais retraída e forte pressão sobre margens. O ambiente competitivo entre Ambev, Heineken e Grupo Petrópolis se intensificou, especialmente nas gôndolas e no canal on-trade, com cada player ajustando preços e promoções em busca de share num mercado que já encolhe em volume.


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Nos Estados Unidos, a Heineken também registrou queda expressiva, atribuída à redução de estoques por parte de distribuidores. Na Europa, mercados como Alemanha, França e Itália sofreram com disputas de preço entre a fabricante e redes varejistas, que em alguns casos chegaram a suspender temporariamente a venda dos produtos da marca.

Pressões econômicas e mudança de hábitos pesam sobre o desempenho da Heineken

A retração global da Heineken é resultado da combinação de fatores conjunturais e estruturais. A empresa cita o ambiente macroeconômico adverso, a inflação em mercados emergentes e os efeitos cambiais como fatores que comprimem margens e reduzem a conversão de receita em euro. Analistas também apontam a desaceleração do consumo em segmentos premium e a migração gradual de parte dos consumidores para bebidas alternativas — incluindo produtos de menor teor alcoólico ou sem álcool.

Na Europa, o impasse em negociações com grandes redes varejistas limitou a exposição das marcas e prejudicou volumes, enquanto na América Latina, o cenário de renda real comprimida e aumento de preços restringiu o consumo fora do lar. O resultado é uma pressão generalizada sobre o portfólio, inclusive sobre a marca principal Heineken, que teve retração de 0,6% no trimestre — movimento que reflete a fragilidade tanto no mainstream quanto no premium.

Revisão de metas e foco em eficiência marcam reação da companhia

Diante do cenário adverso, a Heineken revisou para baixo suas projeções para o ano. A companhia agora prevê uma leve queda no volume total de cerveja e espera crescimento do lucro operacional orgânico apenas na faixa inferior de 4% a 8%. A empresa reforçou, porém, sua confiança no plano estratégico “EverGreen”, que busca sustentação de crescimento até 2030 por meio de digitalização, expansão em mercados de alto potencial e ganhos de eficiência — com meta de gerar €500 milhões em economias até o final de 2025.

Parte do foco futuro está na ampliação de portfólios no/low alcohol e em mercados em ascensão, especialmente Ásia e África, que continuam apresentando crescimento de volume. Já em países como o Brasil, o desafio será reconquistar rentabilidade em meio à queda de consumo e aos custos elevados, exigindo um ajuste fino entre preço, volume e posicionamento de marca.

Brasil simboliza nova fase de ajuste do setor global de cervejas

O desempenho do Brasil no balanço da Heineken se tornou um indicativo de que a desaceleração atinge também mercados que antes sustentavam o crescimento global da companhia. Após anos de expansão contínua, o país agora aparece como epicentro de retração, reflexo de uma combinação de inflação, perda de renda e saturação do segmento premium.

Este resultdo, sob um ponto de vista global, pode sinalizar um ponto de virada na indústria cervejeira. A estratégia de valor agregado, baseada em portfólios premium e diferenciação, enfrenta resistência de consumidores mais sensíveis a preço e abertos a novas categorias de bebidas. A capacidade de adaptação das grandes cervejarias — ajustando portfólio, canais e comunicação — será determinante para atravessar o período de volatilidade.

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Sobre o autor

Felipe Freitas é analista do mercado de cerveja, engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação pela UFRJ. Fundador e editor do portal Catalisi.