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A witbier Blue Moon começou a chegar ao Brasil de forma mais consistente recentemente, após entrar no portfólio da importadora Interfood e tem ganho as prateleiras do varejo pelo país.
A cerveja, oriunda dos Estados Unidos, tem uma trajetória iniciada nos anos 90, como um projeto da cervejaria Coors, uma das gigantes do mercado americano, para se aproximar do mercado artesanal que iniciava uma trajetória de crescimento atraente às grandes cervejarias naquele momento.
O homem responsável pela criação da receita da Blue Moon é Keith Villa, cervejeiro icônico da Miller Coors que recentemente deixou a companhia para fundar sua própria empresa que foca na produção de cervejas sem álcool com infusão de cannabis (um mercado com crescimento meteórico atualmente nos EUA).
Villa entrou no negócio da cerveja de forma despretensiosa. Enquanto exercitava o homebrewing que havia acabado de ser legalizado e estudava biologia na Universidade do Colorado para se preparar para a faculdade de medicina, ele descobriu um posto de trabalho para um pesquisador de fermentação na Coors e decidiu apostar no emprego.
Após se familiarizar com os processo de produção de cerveja, Villa recebeu em 1988 um suporte da Coors para realizar um pHD sobre bioquímica complexa em fabricação de cerveja na Universidade de Bruxelas na Bélgica.
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Ao retornar em 1995, o então Doutor em Bioquímica, tentou vender a ideia da produção da witbier Blue Moon aos executivos da empresa. A proposta não foi tão bem recebida, pois os diretores da Coors não acreditavam no apelo de uma cerveja turva e com aromas cítricos ao grande público. Ao mesmo tempo a Coors já tinha suas apostas de cervejas diferenciadas que na época estavam concentradas na Irish Red Ale George Killian.
Ao menos Villa conseguiu uma pequena cervejaria de propriedade da empresa para testar a produção de seu produto. Ao longo deste caminho os executivos da Coors tentaram descontinuar o projeto inúmeras vezes.
“O pessoal da Coors, os líderes mais antigos, tentaram matar Blue Moon”, revelou Villa em entrevista ao portal Food and Wine em 2017. “Eles não entendiam o que era, não gostavam da turbidez, não gostavam do aspecto belga. Mas toda vez que eles tentavam matá-la, eu descobriria uma maneira de mantê-la viva”.
O cervejeiro viajou o país tentando promover seu produto para o varejo. Com suas vendas em queda Villa tentou uma nova jogada em 1997. Decidiu oferecer sacos de laranjas para que bartenders colocassem fatias da fruta no copo durante o serviço. O cervejeiro menciona que esta ação em conjunto com o amadurecimento do paladar do público americano foram os responsáveis para que em 2001 as vendas do produto começassem a crescer.
“Na Bélgica, eles não servem cervejas brancas com um enfeite”, declarou Villa. “Mas eu já tinha visto com cervejas mexicanas. Eu pensei: ‘Por que as pessoas não colocam uma laranja com a Blue Moon? Simplesmente fazia sentido! ”Villa argumentou que, além de complementar o perfil de sabor da cerveja, uma fatia de laranja faria um copo de Blue Moon se destacar em um bar.
O projeto, que vinha sofrendo com ameaças de descontinuação pela holding, ganhou massa crítica e passou a agradar a empresa que passou a investir na marca com um apelo de charme e sofisticação para o público.
O crescimento da Blue Moon fez com que em meados dos anos 2000 a maior concorrente da Coors, Anheuser Busch , lançasse a Shock Top, também uma witbier direcionada ao grande público, porém esta nunca atingiu a popularidade da cerveja desenvolvida por Villa.
A Blue Moon Brewing ganhou prêmios da cervejaria do ano tanto na World Beer Cup quanto no Great American Beer Festival em 2008 e 2010, respectivamente.
Em 2015 a Blue Moon esteve envolvida numa polêmica, quando uma ação coletiva entrou com um processo para questionar a utilização da nomenclatura artesanal para o produto, uma vez que ele é suportado por uma grande cervejaria.
A MillerCoors teve ganho na ação, sendo indicado na decisão judicial que ela em nenhum momento falseou a origem do produto.
Atualmente a Blue Moon é a 19ª cerveja mais vendida nos EUA, tendo a sua frente basicamente light lagers e premium lagers das grandes cervejarias como AB-Inbev, Heineken e a própria MillerCoors.
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Sobre o autor
Felipe Freitas é analista do mercado de cerveja, engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação pela UFRJ. Fundador e editor do portal Catalisi.