A Heineken anunciou na última semana que irá investir em seus ativos pelo Brasil para contornar um dos problemas que tem afetado seu desempenho pelo país, a falta de capacidade de atender a crescente demanda de seu principal produto.
Junto a este anúncio, realizado pelo CEO da Heineken Brasil, Mauricio Giamellaro, em publicação do jornal Valor, a multinacional holandesa revelou que o Brasil se tornou o maior mercado consumidor da cerveja Heineken no mundo.
Como forma de reposicionamento a cervejaria anunciou medidas relativas a gestão de seu portfólio de marcas e declarou que fará seu maior investimento no país desde a aquisição da Brasil Kirin em 2017.
O montante a ser investido pela Heineken é de R$ 985 milhões, com o objetivo principal de dobrar a capacidade da cervejaria no país. O aporte será direcionado às fábricas de Araraquara (SP), Itu (SP), Jacareí (SP), Alagoinhas (BA) e Ponta Grossa (PR). A ampliação faz parte de um planejamento de expansão iniciado em janeiro deste ano e com previsão de conclusão para junho de 2020.
Em Jacareí e Araraquara, a companhia duplicará a produção das marcas Heineken e Amstel. Em Itu, o objetivo é expandir a Eisenbahn. Em Alagoinhas, estão sendo aplicados R$ 215 milhões na atuação da marca Heineken no Nordeste. Já em Ponta Grossa, os recursos de R$ 220 milhões servirão para ampliar a produção de Amstel e Heineken.
O investimento anunciado se configura como o de maior valor desde a aquisição da Brasil Kirin pela multinacional holandesa por R$ 2,2 bilhões, que a tornou a segunda maior cervejaria do mercado nacional ultrapassando o grupo Petrópolis e ficando apenas atrás da Ambev.
A companhia informou que suas marcas premium – Amstel, Devassa, Eisenbahn e Heineken – avançaram dois dígitos em vendas, enquanto suas marcas mais populares que tem a Schin como principal membro, recuaram dois dígitos.
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A marca Heineken cresceu globalmente no terceiro trimestre 7,4%, sendo o Brasil um dos principais destaques. No presente trimestre o país ultrapassou os Estados Unidos como principal mercado consumidor da marca, tendo superado também nos últimos 12 meses França e Holanda que juntos detinham as 3 primeiras posições de consumo da Heineken no mundo.
O fenômeno ressalta a continuidade da chamada “premiunização” do mercado de cerveja brasileiro, onde de forma gradual e consistente o público com capacidade de renda migra seu consumo para marcas de maior valor. Este movimento já é conhecido nos chamados mercados maduros como EUA e Europa, mas tem mostrado força mesmo em países com dificuldades econômicas como o Brasil.
Além dos investimentos revelados, a Heineken anunciou o reposicionamento de algumas marcas de seu portfólio de produção.
As vendas do portfólio da empresa no Brasil tiveram crescimento de um 1 dígito nos últimos 9 meses, sendo que no terceiro trimestre houve um queda esperada devido a um reajuste de preços promovido pela companhia que afetaram principalmente as marcas mais econômicas como Kaiser e Bavaria, que possuem público mais sensível a aumentos de gastos e mercado muito competitivo com suas rivais do segmento.
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Marcas com maior valor agregado como Amstel, Devassa e Heineken cresceram dois dígitos no terceiro trimestre, mesmo com o aumento de preço das mesmas.
“A Heineken adotou como estratégia crescer dois dígitos nas categorias de cervejas premium e artesanal, crescer na categoria “mainstream” [regular] – no jargão da companhia – e rentabilizar as vendas das marcas econômicas”, de acordo com declaração de Giamellaro ao Valor.
Para dar foco ao crescimento no segmento premium, que é onde a multinacional acredita estar seu maior potencial de expansão no mercado brasileiro, uma das medidas adotadas foi a redução do portfólio da Eisenbahn deixando de produzir seis variedades da marca (Dunkel, Strong Golden Ale, Rauchbier, Kölsch, Weizenbock e 5 anos), mantendo apenas Pilsen, IPA, Weizen e Pale Ale, de acordo com publicação recente de Exame.
Outra atividade recente da Heineken no Brasil, incrementando seu portfólio de maior valor, foi o início da produção da marca americana Lagunitas no Brasil, que ganhou comercialização em outubro em alguns estados.
A Lagunitas se junta ao portfólio Heinken e aumenta suas opções na categoria premium/artesanal no Brasil que já contava com Eisenbahn e Baden Baden, oferecendo experiências de marcas distintas para o público do segmento. Merece destaque o fato de a chegada de Lagunitas ser o primeiro investimento da Heineken para o segmento no país, enquanto as outras marcas foram adquiridas junto ao portfólio da antiga Brasil Kirin.
O mercado premium/artesanal das grandes cervejarias no Brasil têm apresentado um grande dinamismo de investimentos que pode ser observado no grupo Petrópolis com a marca Cacildis, na Ambev com a inserção da alemã Beck’s e lançamentos da Colorado e até mesmo com a espanhola Hijos de Rivera e sua marca Estrela Galícia que tem ampliado distribuição pelo país.
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Sobre o autor
Felipe Freitas é analista do mercado de cerveja, engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação pela UFRJ. Fundador e editor do portal Catalisi.