Heineken admite que tempo de produção de cerveja pode ser de 21 dias após polêmica
Imagem: Catalisi
Polêmica envolvendo a duração do processo de produção de Heineken levou cervejaria a se posicionar sobre o tema
A Heineken esteve envolvida numa grande polêmica recente no Brasil relativa ao tempo de produção do seu “carro chefe”, onde o número de dias de produção propagandeado pela cervejaria holandesa como um grande fator de qualidade de Heineken nem sempre é cumprido.
O caso mostra como as estratégias de marketing e práticas produtivas precisam estar extremamente alinhados para que uma marca não sofra desgastes ou a possibilidade de ser enquadrada como propaganda enganosa.
Em reportagem publicada pelo site Metrópoles foi apurado que o tempo de produção de Heineken poderia ser abaixo dos 28 dias, prazo que é veiculado como um fator de qualidade pela própria cervejaria em sua comunicação institucional.
Na parte “Nossa História” em heineken.com há um tópico chamado “28 pacientes dias de espera” com a descrição: “Levamos 28 dias para preparar a cerveja Heineken®. Para obter o sabor perfeitamente equilibrado, claridade refrescante e a bela cor amarelo-ouro. A qualidade leva tempo, e vale a pena.”
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O Metrópoles apurou com funcionários da cervejaria que gradualmente a produção no Brasil reduziu o tempo de maturação da cerveja, fazendo com que o período de fabricação pudesse chegar até 21 dias.
Essa redução foi resultado de estudos que a Heineken realizou no Brasil de forma a aumentar o nível de produção sem prejudicar o sabor da cerveja. Tais testes foram iniciados há três anos.
Documentos obtidos pelo Metrópoles também revelam que já foram realizados testes para produção de Heineken com tanques verticais, o que poderia contrariar a publicidade da cervejria que destaca que um dos diferenciais do sabor de Heineken é resultado de ser produzida em tanques horizontais.
Como principal mercado no mundo Heineken Brasil é uma fonte de resultado importante
Durante um bom tempo a Heineken já sofreu para atendimento da demanda por seu carro-chefe que bateu no limite de produção e em gargalos de distribuição em diferentes momentos no Brasil, em virtude do sucesso da estratégia de ampliação do mercado para o produto no pais.
O Brasil desde 2019 se tornou o maior mercado da Heineken globalmente e é citado regularmente como um dos de maior crescimento em vendas nos relatórios de resultado da companhia, um posicionamento privilegiado que a empresa necessita explorar ao máximo.
Este cenário mostra como resultados em vendas no Brasil são fundamentais para a gigante holandesa e que isto pode ter sido um fator importante que levou a busca por alternativas que pudessem ampliar a produção como a redução do tempo de fabricação.
Esse maior giro com a redução de tempo de fabricação aumenta muito a produção da cervejaria, resultando em ampliação do faturamento quando a demanda puxa toda uma cadeia de suprimento que esteja adequadamente preparada para este fluxo.
Existem técnicas que permitem um nível de redução do período de maturação sem perda sensorial relevante na bebida, mas a grande questão é que a Heineken utiliza os 28 dias como um fator de construção da sua marca, algo que necessitaria de uma solução mais elaborada para que se evitasse a criação de uma polêmica ao redor do tema.
Heineken admite que produção pode levar apenas 21 dias
A Heineken realizou um comunicado oficial mencionando que o tempo de fabricação da cerveja no Brasil varia para além de 28 dias.
Uma publicação oficial em seu site com o título No Fake, No News explica o porquê de apesar da utilização de 21 dias de fabricação sua qualidade é mantida, buscando demonstrar transparência na relação com o público.
Interessante que a cervejaria criou um link patrocinado no Google que leva ao texto quando pessoas pesquisam sobre “Mudança de Fórmula da Heineken”.
A empresa menciona que o tempo de fabricação pode ser de no mínimo de 21 dias e em alguns casos pode levar até mais de 28 dias a depender da necessidade e da tecnologia de cada cervejaria, com o compromisso de se atender ao padrão global de qualidade da Heineken.
A marca destaca também que o tempo de fermentação de Heineken é acima da média de outras marcas premium e mainstream, seguindo a mesma receita a mais de 150 anos e que pesquisa e análises são importantes para melhoria contínua de processos.
A cervejaria comunicou em publicação realizada no Valor que toda produção de Heineken é feita em tanques horizontais, a despeito dos testes apurados pelo Metrópoles.
Sobre o Grupo HEINEKEN no Brasil
O Grupo HEINEKEN chegou ao Brasil em maio de 2010, após a aquisição da divisão de cerveja do Grupo FEMSA e, em 2017, adquiriu a Brasil Kirin Holding S.A (“Brasil Kirin”), tornando-se o segundo player no mercado brasileiro de cervejas. O Grupo gera mais de 14 mil empregos e tem 14 unidades produtivas no país, sendo 12 cervejarias e duas microcervejarias. A companhia também já iniciou a obra da sua 15ª cervejaria em Passos (MG), a unidade mais sustentável da companhia até agora.
No Brasil, o portfólio de cervejas do Grupo HEINEKEN é composto por Heineken®, Heineken® 0.0, Sol, Amstel, Amstel Ultra, Kaiser, Bavaria, Eisenbahn, Baden Baden, Devassa, Schin, Glacial, Lagunitas, Blue Moon e Tiger. O portfólio de não alcoólicos inclui Água Schin, Skinka, os refrigerantes Itubaína, Viva Schin, FYS e o recém-lançado Clash’d. Com sede em São Paulo, a companhia é uma subsidiária da HEINEKEN NV, maior cervejaria da Europa.
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Sobre o autor
Felipe Freitas é analista do mercado de cerveja, engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação pela UFRJ. Fundador e editor do portal Catalisi.