O Projeto Rua da Cerveja capitaneado pela Prefeitura do Rio de Janeiro vai receber no próximo mês a inauguração das primeiras cervejarias que passarão a ocupar uma rua histórica localizada no centro da cidade.
A Rua da Cerveja irá nascer já com uma série de desafios, ao buscar devolver atratividade para uma área que passa por um ciclo de decadência de anos. Apesar das oportunidades relativas ao projeto, há também diferentes obstáculos envolvidos que serão explorados ao longo deste texto.
A Rua da Cerveja foi anunciada pela Prefeitura do Rio no meio de 2023, que divulgou a concessão de subsídios financeiros para reforma e aluguel que poderiam chegar a R$ 920 mil reais, para que cervejarias com produção e serviço de cerveja ocupassem imóveis históricos da Rua da Carioca localizada no centro da cidade.
A Rua faz parte de um projeto maior da prefeitura chamado Reviver Centro que tem como objetivo reativar a ocupação e atividades econômica nessa região da cidade que tem sofrido um esvaziamento ao longo das últimas décadas.
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O edital exigia que apenas cervejarias com histórico de operação pudessem participar da concessão de subsídios o que acabou por atrair cervejarias não só da capital como de outras cidades do Estado do Rio.
Apesar do potencial do projeto, a Rua da Cerveja tem também grandes desafios, quando analisada em perspectiva, que precisarão ser enfrentados para que se estabeleça de fato como uma atração na cidade.
Um desafio flagrante da Rua da Cerveja já está no fato dela apresentar uma concentração grande de cervejarias numa área pequena, o que naturalmente gera uma competição frente ao público visitante. A necessidade de investimento em diferenciação entre os negócios presentes no projeto é fundamental para criar apelo na decisão dos consumidores.
A Rua da Cerveja terá também como obstáculo um ciclo de decadência persistente da Rua da Carioca que perdeu uma parte considerável de seu comércio tradicional por conta de uma combinação de altos alugueís e falta de público que precisará ser revertida e cuja a solução não estará inteiramente na mão das cervejarias.
Outro ponto a ser observado é que grande parte das cervejarias com projetos para Rua da Cerveja não possuem experiência em atendimento direto ao público, algo que não pode ser negligenciado e que apresenta um desafio bastante complexo para iniciantes neste segmento, envolvendo arquitetura, sistemas, gestão de eventos e qualificação de equipe.
Há um risco do projeto relacionado ao próprio centro do Rio não adentrar em um período de maior ocupação e atividade, o que traria obstáculos para o sucesso do negócio. E mesmo com o nível de atividade sendo retomado haverá o desafio de um potencial aumento de aluguéis, somando um novo desafio na gestão das cervejarias.
Entre as potencialidades naturais da Rua da Cerveja está o fato dela poder se tornar uma atração complementar a uma série de outras presentes em uma cidade com uma vocação turística, dado o apelo que um polo cervejeiro com serviço direto ao consumidor apresenta.
As cervejarias envolvidas poderão capitalizar sobre as margens de venda direta para o consumidor, fator que apresenta vantagens tributárias e operacionais sobre o modelo de distribuição de cerveja, principalmente para cervejarias de pequena escala.
O modelo de negócio “do tanque ao copo” no mesmo local vai permitir que as cervejarias consigam explorar uma lucratividade atraente, desde que consigam manter a combinação de preços com margem e um volume de público que viabilize isso, sem a necessidade de incorrer em enormes custos de distribuição.
A Rua da Cerveja poderá também se aproveitar de um público que já frequenta a região para participar de eventos culturais tradicionais do centro, que ocorrem pontualmente. Porém, para obter sucesso neste sentido terá de criar canais que gerem interesse em um público não especializado no universo da cerveja artesanal, algo que pode ser alcançado através de um marketing eficiente.
Caso o centro da cidade de fato adentre num ciclo de maior atividade socioeconomica num médio prazo, o novo polo cervejeiro poderá ainda se aproveitar do maior fluxo de público circulante na região, onde certamente a Rua da Cerveja será uma grande atração de forma natural.
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Sobre o autor
Felipe Freitas é analista do mercado de cerveja, engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação pela UFRJ. Fundador e editor do portal Catalisi.