Com 11 anos de mercado, o Brewteco passou de um pequeno bar de cervejas artesanais na zona sul do Rio para uma rede que ocupa diferentes pontos da cidade com marca reconhecida e uma cervejaria própria.
A empresa ao longo deste tempo foi passando por uma interessante transição de modelo de negócios que ressalta a combinação de serviço e produção de cerveja como um diferencial no mercado de cerveja artesanal, e também usa a expansão de unidades como forma de alcançar vantagens relevantes, mas que trazem diferentes desafios.
O Brewteco trabalha em suas casas com um portfólio de cervejas que combina cervejas próprias da marca, uma variedade de rótulos de diferentes cervejarias artesanais e também cervejas premium do grupo Heineken.
Com sua estratégia de oferta e um posicionamento que busca reforçar um ‘espírito carioca’ em seu serviço, o Brewteco angariou um público mais amplo do que o mais comumente associado ao mercado de cervejas artesanais.
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Inaugurado em 2013 em um pequeno bar no bairro do Leblon, o Brewteco se expandiu para um total de 8 unidades no Rio, localizadas em diferentes regiões da cidade. Com a venda total de cerveja ficando entre 25 a 30 mil litros por mês, cerca 60% das cervejas vendidas na rede são artesanais e outros 40% são mainstream.
Recentemente o negócio além da rede de bares, passou a contar com uma cervejaria própria localizada na região do centro do Rio com a aquisição da fábrica-bar da cervejaria Marmota em 2023, que passou a fornecer cerveja para as diferentes unidades da marca.
A trajetória do Brewteco se tornou um caso interessante de expansão e verticalização no meio da cerveja artesanal carioca, que se fortaleceu inicialmente com o serviço em diferentes pontos e posteriormente adicionou a etapa da produção, o que amplia suas margens de venda.
O Brewteco começou em sua primeira casa em 2013 num momento de grande explosão de cervejarias no Rio, quase todas com produção terceirizada. O bar se tornou um ponto de tradicionais lançamentos das marcas que ocorriam na época, ajudando a impulsionar seu nome no público do segmento.
“O meio da cerveja artesanal passou por diversas mudanças. Muitas pessoas entraram, infelizmente, sem um plano de negócios muito aprofundado. Aqui no Rio, principalmente, muitos achavam que era um negócio para médio e longo prazo, e isso se demonstrou insustentável. É um mercado de margens muito apertadas, que você precisa estar muito eficiente e de preferência dominando a cadeia de uma forma mais vertical. E você ficando com um pedaço pequeno da cadeia é muito arriscado e te deixa bastante limitado para crescer.” comentou Rafael Farrá, um dos sócios e fundadores do Brewteco.
Após alguns anos iniciaram um projeto de expansão passando a ocupar tanto locais que já possuíam um público circulante, quanto também lugares icônicos do Rio de Janeiro como um ponto panorâmico na orla de Botafogo e também um bar no Morro da Urca, o que ajudou a marca a ganhar muita visibilidade.
“Nós enxergamos essa oportunidade, esse vácuo no mercado de uma casa mais simples e espontânea, seguindo os botecos cariocas normais, como todo mundo conhece e estava acostumado, só que oferecendo produtos melhores, principalmente voltados para cerveja artesanal e fomos expandindo esse modelo para outros lugares, sempre com muito cuidado, muita responsabilidade, mas a gente sabia que existiam diversos lugares na cidade onde esse modelo se encaixaria, porque no Rio inteiro todo mundo gosta de boteco e boa cerveja, bons petiscos, nunca é demais.” explicou ele sobre o investimento em expansão do Brewteco.
O Brewteco enxergou a vantagem de se expandir de forma a obter mais força em negociações com fornecedores com o ganho de escala, mas ciente de que isso traria desafios relacionados a gestão de diferentes locais de forma a manter um nível de padronização e qualidade.
“A vantagem [da expansão] é que a gente consegue fazer coisas que não se consegue quando é muito pequeno. Você não consegue trazer cervejas e negociações maiores. Então você consegue ter negócios melhores, mas claro que também junto vem uma série de desafios, de controles, de você não estar mais tão próximo de cada operação no dia a dia e isso também traz um grande desafio. É necessário estar constantemente criando, revendo e cobrando processos, analisando resultados, números e a necessidade de contratar pessoas para nos auxiliar com a parte de RH, com a parte de compras. Quando você só tem uma casa normalmente você não precisa disso tudo.” explicou Farrá.
O Brewteco tem seguido uma receita que têm sido a tônica de pequenas cervejarias em outros países, que é o investimento na venda direta como modelo de negócio mais competitivo. Vale ressaltar que nos EUA, o maior mercado de microcervejarias do mundo, cerca de 60% das mais de 9 mil cervejarias existentes possuem foco na venda direta.
“Por isso que em outros países a maioria das cervejarias tem brewpubs, na verdade, eles têm a cervejaria que eles produzem para poder vender no próprio restaurante, então eles têm uma margem muito melhor, porque eles produzem e vendem para o consumidor final. É fundamental estar muito bem estruturado e bem preparado para encarar a fábrica, o ideal é que você tenha essa cadeia mais de ponta a ponta.” compartilhou o sócio do Brewteco sobre a importância da associação de vendas com produção de cerveja.
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Sobre o autor
Felipe Freitas é analista do mercado de cerveja, engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação pela UFRJ. Fundador e editor do portal Catalisi.