Imagem: Carlos Felipe/Catalisi
O brewpub da Goose Island em São Paulo fechou suas portas após 8 anos, marcando um redirecionamento da marca no Brasil que pertence a gigante Ambev numa linha que acompanha outras mudanças recentes em cervejarias artesanais no país.
Com um comunicado em suas redes socias realizado de forma súbita, a casa localizada na capital paulista será assumida por um negócio não vinculado a Ambev, enquanto a marca Goose Island passará focar exlusivamente em distribuição no Brasil.
O fechamento da Goose Island Brewhouse em São Paulo tem um paralelo com o fechamento do brewpub da matriz da Goose Island em Chicago que ocorreu há um ano, um estabelecimento que possuía uma história de 35 anos.
A casa brasileira era bem mais recente e tinha apenas 8 anos, mas se destacava como uma das cervejarias de referência da cidade dada a popularidade do nome Goose Island entre o público consumidor de cervejas artesanais.
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O Goose Island Brewhouse abriu sua unidade em São Paulo no final de 2016, a marca norte-americana havia iniciado sua distribuição Brasil em 2015 através de importações, pelas mãos da Ambev, subsidiária da gigante AB Inbev que comprou a cervejaria de Chicago em 2011.
Ocupando uma área de 750 m² o brewpub da Goose Island, possuía uma capacidade de produção de 15.000 litros de cerveja por mês. O foco inicial é que o produto fosse consumido todo na própria casa, através de uma das 30 torneiras distribuídas entre os dois andares, mas nos últimos anos a produção passou a ganhar distribuição em latas para diferentes estados.
Brewpubs de marcas artesanais como Goose Island para a Ambev tem muito menos valor de resultado financeiro dado o pequeno resultado que essas unidades podem gerar para a gigante e muito mais um valor de posicionamento para contribuir para a construção de marca.
Apesar de Brasil e Estados Unidos estarem em estágios muito diferentes do mercado de cerveja artesanal ambos estão em uma fase de desaceleração deste segmento fazendo com que não só as pequenas mas também as gigantes reavaliem seus investimentos e orçamentos destinados a categoria.
O mercado de cerveja artesanal nos EUA após uma fase de taxa acelerada de crescimento no início dos anos 2010, onde as gigantes adquiriram diferentes microcervejarias, agora passa por uma fase de estagnação onde os conglomerados estão avaliando maior retorno em investimento em drinks prontos, cerveja sem álcool e também cervejas com baixas calorias que tem apresentando taxas de crescimento maiores.
A AB InBev inclusive vendeu diferentes marcas de cerveja artesanal recentemente nos EUA e passou a concentrar a produção de suas remanecescentes em algumas unidades racionalizando custos.
O mercado brasileiro, após um crescimento experimentado em período semelhante, está passando por um claro momento de desaceleração já explicitado por desinvestimentos de diferentes marcas de cerveja artesanal recentemente.
AB InBev e a Ambev parecem ter chegado a conclusão de rever custos tanto com o brewpub da Goose Island em Chicago que foi realocado em dezembro de 2023, quanto agora em sua versão brasileira na capital paulista onde um negócio que não pertence a gigante cervejeira assumirá a casa.
A Ambev comunicou que a marca Goose Island irá manter presença no Brasil através de distribuição de produtos para pontos de venda. Atualmente a marca tem presença relevante em diferentes pontos de grande varejo em algumas regiões do país.
A produção de Goose Island provavelmente será redirecionado para uma das fábricas de menor porte da companhia como Colorado em Ribeirão Preto ou Bohemia no Rio de Janeiro. onde poderá compartilhar ativos de produção e logística com outras marcas, racionalizando custos para a distribuição.
A Ambev em sua estratégia recente para o mercado de cerveja artesanal, o qual chamam de “craft” internamente, tem colocado como principal marca do segmento a Colorado que tem sofisticado seu sistema de embalagens e diversidade de produtos presentes pricipalmente no varejo.
Complementando o portfólio do segmento estão as marcas como Patagônia, Hoegaarden e Goose Island que compõem o mix que a Ambev tem trabalho para oferecer diversidade de posicionamento de marca e líquido para o público consumidor. Percebe-se uma redução de investimento na marca mineira Wals que passou a ter uma atuação muito mais regionalizada na companhia.
Além das marcas pertencentes ao seu portfólio a Ambev também conta, principalmente no Rio de Janeiro, com a marca Hocus Pocus, com quem possui uma parceria a alguns anos, que acaba pegando carona com seu sistema de distribuição e ampliou sua presença em pontos de venda.
O segmento artesanal para a Ambev se tornou muito mais disputado com o reposicionamento da Heineken no país nos últimos anos, que trouxe principalmente para o grande varejo um mix de marcas bastante competitivas como Lagunitas e Blue Moon.
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Sobre o autor
Felipe Freitas é analista do mercado de cerveja, engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação pela UFRJ. Fundador e editor do portal Catalisi.