Nesta semana o Ministério da Agricultura publicou o seu Anuário da Cerveja 2021, que disponibiliza informações sobre o número de registros de cervejarias e produtos no Brasil com evolução temporal destes dados, além também de desdobramentos regionais destes números.
O número de registros de cervejarias seguiu crescendo no Brasil de acordo com os dados do MAPA, mas o percentual de aumento destes vem diminuindo nos anos 2020 em comparação a década de 2010.
No relatório o MAPA reportou que também recebeu pedidos de cancelamento de registro no último, mas não fica claro se todas as cervejarias que porventura tenham encerrado suas operações neste período são contabilizadas. Desta forma não há um número preciso de cervejarias em operação no Brasil, como por exemplo o que é publicado pela Brewers Association nos EUA.
Importante destacar que o número de cervejarias é uma importante medida para acompanhamento da evolução das microcervejarias, que representam mais de 90% esta quantidade de fábricas do país, pois este o número de forma macro apresenta a velocidade e grau de pulverização das pequenas cervejarias em um determinado território, um fenômeno que ocorre em âmbito internacional nas últimas décadas
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O aumento líquido no número de fábricas de cervejas, que contempla cervejarias apenas focadas em distribuição e também aquelas com venda direta no local como brewpubs e taprooms, foi de 166 unidades em relação a 2020.
Com este acréscimo o Brasil chegou ao número de 1.549 cervejarias no país, um percentual de aumento de 12% em relação ao ano anterior. Apesar de permanecer em dois dígitos, este percentual já esteve ao redor de 35% nos anos 2010, sendo que atingiu o 48,5% em 2016.
Um novo ciclo de aumento mais acelerado de aberturas de novas cervejarias certamente dependerá de um cenário macroeconômico mais favorável tanto para viabilizar o investimento em novas fábricas quanto para ampliação do poder de consumo de uma fatia maior do público com potencial de interesse em produtos de microcervejarias,
O maior percentual de aumento no país em número de registro de cervejarias ocorreu na região Norte do país, onde a abertura de 5 novas fábricas representou um aumento de 20,8% em relação ao ano anterior, mostrando a força de microcervejarias em centros relativamente menos populosos do território nacional, com destaque para Rondônia e Acre.
Piauí, assim como em 2020, se destacou entre os estados com maior aumento relativo no número de cervejarias – o estado observou um aumento de 66,7% com a abertura de duas novas fábricas. Sergipe e Tocantins, também se destacaram, ambos com um aumento de 33,3%, chegando cada um a 4 cervejarias registradas.
Mais de 85% das cervejarias do país se encontram concentradas nas regiões sul e sudeste. O estado de São Paulo é o com maior número de cervejarias com 340 unidades, seguido por Rio Grande do Sul (285), Santa Catarina (195), Minas Gerais (189) e Paraná (158).
Outro dado interessante é o que contabiliza o aumento da dispersão de cervejarias por diferentes cidades do Brasil.
Em 672 municípios brasileiros contam pelo menos com 1 cervejaria, o que representa um aumento da dispersão em 10,3% se comparado a 2020, quando havia ao menos 1 cervejaria em 609 municípios brasileiros, mostrando o grande potencial de interiorização que o fenômeno do crescimento de microcervejarias ainda tem para explorar no país.
O ano de 2021 marca também a tomada do primeiro lugar em número de cervejarias pela cidade de São Paulo que conta agora com 51 unidades entre fábricas para distribuição, brewpubs e taprooms. Em 2020 a capital paulista contava com 20 unidades.
Porto Alegre, cidade que até 2020 contava com maior número de cervejarias do país, ocupa agora o segundo lugar com 43 fábricas, seguido por Curitiba (PR), Nova Lima (MG) e Caxias do Sul (RS) nas 5 primeiras posições.
O crescimento contínuo do Brasil nas últimas décadas em relação ao número de registros de novas cervejarias, em meio a um cenário econômico pouco atraente durante o mesmo período, mostra o potencial do setor mais do que comprovado e em gradativo amadurecimento.
O país ainda possui espaço para o surgimento de novas que precisaram tanto de condições atrativas e também capacidade de investimento, bem como um trabalho de inovação em diferentes aspectos de forma a manter o público interessado além de atrair novos consumidores para cerveja artesanal responsável pela maior parte do número de unidades do país.
A título de comparação países com extensão e população muito menores, como Reino Unido (com mais de 3 mil cervejarias) ou França (com mais de 2 mil cervejarias), ainda se mantém a frente do Brasil. O país com maior numero de cervejarias no mundo segue de longe com os EUA que possuem mais de 9 mil unidades atualmente.
O caminho do Brasil será longo neste sentido, mas o potencial de expansão no país dado seu histórico com consumo de bebidas e potencial cultural a ser explorado na criação de marcas são muito grandes.
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Sobre o autor
Felipe Freitas é analista do mercado de cerveja, engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação pela UFRJ. Fundador e editor do portal Catalisi.