Brewdog amarga prejuízo de $ 46 milhões após ser cortada de quase 2 mil pubs

Cervejaria escocesa BrewDog enfrenta prejuízo milionário e perde espaço em pubs britânicos

A BrewDog, uma das cervejarias artesanais mais icônicas do mundo e símbolo da ascensão meteórica do craft beer na última década, anunciou um prejuízo de US$ 45,8 milhões (£36,6 milhões) em 2024. O resultado marca mais um capítulo da trajetória turbulenta da companhia, que recentemente também perdeu espaço em quase 2 mil bares do Reino Unido, conforme noticiado pela imprensa britânica.

O contraste com o passado de crescimento acelerado não poderia ser mais evidente. Fundada em 2007, a BrewDog transformou-se em um fenômeno global ao combinar irreverência de marketing, forte engajamento com consumidores-investidores por meio do programa Equity for Punks e uma rápida expansão internacional. No entanto, nos últimos anos, a empresa tem enfrentado dificuldades financeiras e críticas de gestão, ao mesmo tempo em que lida com um mercado cada vez mais competitivo.

Pressões financeiras e o peso da dívida da BrewDog

O prejuízo de 2024 veio mesmo com uma receita anual próxima de US$ 446 milhões (£357 milhões). Embora a companhia tenha registrado um lucro operacional ajustado de US$ 9,4 milhões (£7,5 milhões) antes de juros e impostos, boa parte das perdas foi consumida pelo peso das dívidas.

Somente os pagamentos de juros chegaram a US$ 21,6 milhões (£17,3 milhões) anuais, reflexo de empréstimos substanciais acumulados em anos de expansão agressiva, incluindo cerca de US$ 25 milhões (£20 milhões) junto ao seu sócio TSG Consumer Partners.


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Esse quadro mostra como o modelo de crescimento acelerado, baseado em forte alavancagem, se tornou um fardo para a cervejaria no atual cenário de consumo mais retraído e custos elevados no Reino Unido e na Europa.

Saída de pubs e mudança no mercado britânico

A perda de espaço em pubs britânicos também pressiona o desempenho da BrewDog. Estima-se que cerca de 1.860 bares tenham deixado de oferecer os rótulos da marca de acordo com publicação do The Guardian, uma redução equivalente a mais de um terço da distribuição. Segundo análises setoriais, grandes redes vêm reduzindo portfólios e priorizando marcas próprias, quando vinculadas a grupos cervejeiros, o que enfraquece a posição de rótulos independentes como a BrewDog.

Apesar da retração em redes, a companhia destaca crescimento no chamado “on-trade independente”, em pubs de menor porte, além de reforçar presença em estádios esportivos (como o Lord’s Cricket Ground e o Estádio do West Ham) e festivais de grande visibilidade, como o Isle of Wight Festival.

Nova liderança e rebranding

A saída dos fundadores James Watt e Martin Dickie abriu espaço para uma gestão mais tradicional. Watt, que deixou o cargo de CEO em 2024, e Dickie, que recentemente se afastou das operações da empresa, saíram milionários após a venda parcial da empresa para fundos americano TSG Partners.

A liderança executiva foi assumida por James Taylor, ex-CFO e atual CEO, e por Lauren Carrol, promovida a COO em 2025. Ambos vêm conduzindo um rebranding completo da marca: rótulos icônicos como Punk IPA, Hazy Jane, Lost Lager e Elvis Juice ganharam design mais limpo e sofisticado, enquanto a cultura interna recebeu novas diretrizes de bem-estar e engajamento de funcionários, em contraste com a narrativa “punk” que dominou a primeira fase da companhia.

Caminhos para a recuperação

Para reverter o quadro, a BrewDog aposta em três eixos:

  • Investimento em rótulos com crescimento mais rápido no portfólio;
  • expansão da presença em eventos de massa e canais alternativos a redes de pubs;
  • consolidação do rebranding, buscando recuperar a confiança de consumidores, funcionários e investidores.

A trajetória da BrewDog, que já simbolizou a disrupção do mercado global de cerveja artesanal, hoje ilustra os riscos de um crescimento financiado por dívida em um mercado em transformação. O desafio atual é provar que ainda há espaço para a marca reinventar sua narrativa — agora em bases financeiras mais sólidas.

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Sobre o autor

Felipe Freitas é analista do mercado de cerveja, engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação pela UFRJ. Fundador e editor do portal Catalisi.