O declínio da indústria cervejeira tradicional alemã tem se acentuado. Recentemente, várias cervejarias entraram com pedido de falência ou fecharam permanentemente, resultando na perda de cervejarias centenárias.
O consumo de cerveja na Alemanha tem caído de forma consistente ao longo das últimas décadas, fruto de uma tendência de aumento da busca por um estilo de vida saudável que tem crescido nos últimos anos, principalmente nos chamados países desenvolvidos.
As últimas vítimas desta tendência de falências são a Gambrinus Brewery e a Gesellschaftsbrauerei Viechtach, ambas localizadas na região da fronteira da Baviera com a República Tcheca.
A Gambrinus Brewery, tinha quase 100 anos, entrou com pedido de insolvência devido a contas não pagas e salários pendentes. O declínio da cervejaria é atribuído ao aumento de custos e perdas de vendas relacionadas à pandemia. A produção atual estava em torno de 15.000 hl, metade de sua capacidade.
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Já a Gesellschaftsbrauerei Viechtach fechou permanentemente após quase 500 anos, cessando a produção. Uma de suas marcas continuará a ser produzida na cervejaria vizinha Hofmark Brewery.
Antes dessas duas baixas, a Karmeliter-Bräu de 672 anos e também da Baviera fechou suas portas permanentemente. A marca e os direitos de distribuição foram adquiridos pela Oettinger Brewery , um dos maiores grupos cervejeiros da Alemanha, com foco em cervejas mais econômicas.
A Oettinger utilizará a marca para adentrar num segmento de maior valor agregado similar a Augustiner, Paulaner , Franziskaner , Benediktiner e Kapuziner.
Além de vários fatores externos e internos, a onda de fechamentos de cervejarias também se deve ao declínio do consumo de cerveja na Alemanha.
A queda no consumo de bebidas alcoólicas na Alemanha tem sido correlacionada com a busca por um estilo de vida mais saudável, onde o consumo álcool tem menos relevância ou até mesmo se torna inexistente.
Dados públicos sobre o consumo per capita de cerveja em média mostram que atualmente um alemão adulto consome cerca de 93 litros de cerveja por ano, muito menos do que em 1990 quando esse valor estava em 143 litros.
Apesar da queda, um alemão em média ainda consome muita cerveja, estando em sétimo lugar no ranking de consumo per capita publicado anualmente pela japonesa Kirin Holdings. Um brasileiro consome anualmente 69 litros.
Desde 2018, a indústria cervejeira alemã perdeu mais de 10 milhões de hectolitros.
Em 2023 as exportações de cerveja caíram 5,9% no geral em base anual. Houve uma queda relativamente modesta de 2,6% nas vendas para outros países na UE de 27 nações, que compraram 784 milhões de litros de cerveja alemã, enquanto as vendas para outros países caíram 9,6% para 646,7 milhões de litros.
Por outro lado, essa mudança no estilo de vida nos últimos anos tem ampliado o consumo de cerveja sem álcool.
Nos últimos dez anos, a produção de cerveja sem álcool mais que dobrou na Alemanha. Em 2023, ela chegou a cerca de 556 milhões de litros e 548 milhões de euros (593 milhões de dólares) em vendas.
Somando-se a esta tendência de queda prolongada de consumo, um outro fator que tornou o mercado de cerveja alemão ainda mais complicado foi a alta de custos promoviada principalmente pela guerra na Ucrânia que elevou o preço da energia.
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Sobre o autor
Felipe Freitas é analista do mercado de cerveja, engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação pela UFRJ. Fundador e editor do portal Catalisi.