Dogma cria nova série de cervejas Griot celebrando a cultura afro

Cervejaria Dogma se une a profissionais negros para criar nova série de cervejas que celebram cultura afro

A cervejaria Dogma, de São Paulo Capital, lançou uma nova série de cervejas chamada Griot, onde buscará agregar elementos da cultura afro-brasileira nos produtos desta linha em conversa com a marca paulista.

Para este objetivo, a Dogma contou com o trabalho de quatro profissionais negros do mercado cervejeiro: os sommeliers Sulamita Theodoro, Sara Araújo e Glauco Ribeiro e o artista visual João Gabriel Araújo.

A série Griot começou a ser desenvolvida pela Dogma após críticas ao rótulo Cafuza que foi questionado no ano passado por utilizar a imagem de uma mulher escravizada, fato que foi revelado pelo trabalho da colorista digital Marina Amaral, que realizava um trabalho histórico que utilizou a mesma imagem em seu processo.

A cervejaria lamentou a utilização da imagem através de suas mídias sociais e decidiu retirar o rótulos da cerveja de circulação. A Dogma ainda anunciou que buscaria elaborar estratégias de como aprender e colaborar oferecendo espaço para dar voz ao tema debatido, onde a nova série de cervejas parece ser o resultado deste trabalho.


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O projeto desenvolvido pelo time formado por Sulamita Theodoro, Sara Araújo e Glauco Ribeiro e João Gabriel Araújo decidiu trazer para esses produtos da Dogma uma carga simbólica da filosofia ancestral africana onde o Griot vem da tradição da Africa Ocidental sendo essas as pessoas que possuíam a missão de transmitir as histórias, conhecimentos, canções e mitos do seu povo.

A cerveja para além de uma bebida, sempre foi um produto também sócio-cultural e com a ascensão do mercado de cerveja artesanal nos Estados Unidos nas últimas décadas houve um deslocamento para criações visuais contemporâneas com a utilização do trabalho de designers e ilustradores para valorização e identificação das criações, que no projeto da cervejaria paulista dialogaram com uma perspectiva afro-brasileira.

O primeiro rótulo da série Griot é Hantu, uma saison com adição de melado de cana, caju e cajá e utilização de um lúpulo experimental que remete ao aroma de coco. A cerveja apresenta acidez moderada e complexidade resultante do uso de uma das leveduras exclusivas da Dogma.

Da esq. para dir. Sulamita Theodoro, Sara Araújo, Glauco Ribeiro e João Gabriel Araújo, o time que trabalhou com a Dogma para criação da série Griot.

As inspirações para construção simbólica do rótulo Hantu vieram através da utilização de referências de conceitos da filosofia africana Bantu e do livro Ponciá Vicêncio, da escritora negra brasileira Conceição Evaristo,

Até o fim do ano mais dois rótulos da série também serão lançados: a Kintu, uma New England IPA feita com lúpulos sul-africanos e a Mantu que será uma versão da Hantu envelhecida em barricas de madeira.

Com o lançamento a Dogma mostra um caminho muito interessante para ser explorado em toda simbologia associada ao mercado de cervejas artesanais, um dos grandes referenciais de posicionamento desses produtos, que é a utilização de referenciais dos povos brasileiros que criaram toda a complexidade cultural que forma o Brasil.

Para conhecer detalhes do processo de criação da série Griot a Dogma publicou textos dos 3 sommeliers envolvidos no processo, que também são integrantes do coletivo Afrocerva, que você pode conferir clicando aqui.

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Sobre o autor

Felipe Freitas é engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação Tecnológica pela EQ/UFRJ e analista do mercado de cervejas.