Guinness 0.0 já ultrapassa vendas de Guinness original em rede de varejo britânica

Versão sem álcool da clássica stout supera a original na plataforma do varejo britânico e confirma o avanço global das cervejas sem alcool

Num movimento que reflete transformações profundas no consumo de bebidas alcoólicas, a Guinness 0.0 já vende mais do que a Guinness tradicional em uma das principais plataformas de e-commerce do Reino Unido. A virada, registrada pela Ocado, mostra como o segmento de cervejas sem álcool deixou de ser nicho e passou a disputar espaço real com rótulos tradicionais — um fenômeno que a Diageo vem capitalizando com investimentos robustos e projeções otimistas.

O resultado acompanha uma tendência global: o mercado de bebidas low & no alcohol cresce em ritmo acelerado, impulsionado pela busca por moderação e bem-estar. Segundo dados da Diageo e consultorias do setor, a categoria tem projeção de expansão anual superior a 8%, com mercados europeus como Alemanha e Espanha registrando participação de dois dígitos nas vendas totais de cerveja.

Guinness 0.0 supera a original em uma das maiores varejistas online do Reino Unido

A Ocado, uma das principais plataformas de comércio eletrônico de alimentos e bebidas no Reino Unido, foi palco da virada simbólica: 53% das vendas de Guinness na loja correspondem à versão sem álcool. A Ocado tem papel central na formação de hábitos de consumo entre britânicos, especialmente entre consumidores digitais — o que reforça o peso estratégico do desempenho da Guinness 0.0 nesse canal.

Esse resultado sinaliza que o produto alcançou maturidade de mercado e ampla aceitação do público, ultrapassando barreiras que antes limitavam as cervejas 0% a consumidores ocasionais.


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O crescimento global das cervejas sem álcool e a aposta da Diageo

O sucesso da Guinness 0.0 não é um caso isolado. Dados da GlobalData apontam que o mercado global de cervejas sem álcool cresceu mais de 40% entre 2018 e 2023, um ritmo anual de cerca de 7%. Em países como Alemanha, as cervejas 0% já respondem por 14% do volume total de consumo, enquanto na Espanha a fatia chega a 7%.

A Diageo, controladora da Guinness, vem reforçando sua aposta nesse movimento. Em 2024, a empresa anunciou um investimento de € 30 milhões para dobrar a capacidade de produção da Guinness 0.0 na histórica fábrica de St. James’s Gate, em Dublin. O plano inclui ampliar a oferta em pubs, bares e novos mercados internacionais. A companhia projeta que a linha 0% represente parcela crescente do faturamento da marca nos próximos anos.

A trajetória de sucesso da Guinness 0.0 desde 2020

Lançada em 2020, a Guinness 0.0 foi desenvolvida para reproduzir a textura e o sabor característicos da stout clássica, com tecnologia de fermentação e extração do álcool sem comprometer o perfil sensorial. A estratégia rapidamente conquistou o consumidor britânico, especialmente em canais digitais e varejo.

O sucesso da versão 0.0 ocorre em paralelo a uma retomada de crescimento da Guinness tradicional. A marca tem ampliado seu público com campanhas que apostam em diversidade e lifestyle, destacando o papel de influenciadoras femininas e criadoras de conteúdo que aproximaram a bebida de novos perfis de consumidores — especialmente mulheres e jovens adultos.

Desdobramentos estratégicos: de tendência a reposicionamento de portfólio

Superar a versão alcoólica em um grande varejista confirma que o consumo “sem álcool” é um comportamento consolidado e não apenas uma moda., sendo um desafio estratégico equilibrar as duas versões da marca, garantindo que a Guinness 0.0 complemente — e não substitua — o consumo da original.

O fato de a Guinness 0.0 superar as vendas da versão original em uma grande rede britânica é mais que um marco de performance: é o retrato de uma mudança cultural no consumo de bebidas. Ao se posicionar como protagonista da categoria sem álcool, a Diageo demonstra que inovação e tradição podem caminhar juntas — e que o futuro do mercado cervejeiro passa, cada vez mais, por opções que combinam sabor e moderação.

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Sobre o autor

Felipe Freitas é analista do mercado de cerveja, engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação pela UFRJ. Fundador e editor do portal Catalisi.