Heineken puxa reajustes, Ambev reage e disputa esquenta em cervejas premium

Grupo Heineken elevou seus preços no Brasil nos últimos 3 meses em “reancorou” a régua do setor e Ambev, que havia cortado preços em junho, voltou a reajustar

O mercado brasileiro de cerveja viveu meses de forte disputa entre junho e agosto de 2025, quando Heineken e Ambev adotaram estratégias distintas de reajuste de preços.

Enquanto a Heineken rompeu um hiato de um ano sem aumentos e aplicou repasse médio de 6%, a Ambev reagiu com movimentos seletivos, depois de ter reduzido preços em junho. Essa dinâmica expôs dois caminhos diferentes: um baseado na firmeza do preço como sinal de valor, outro na tentativa de sustentar volumes e depois recompor margens.

No centro desse embate está o segmento premium, que concentra a disputa mais acirrada e onde as margens são mais atrativas. O relatório do Bank of America mostrou como os reajustes alteraram a relação de preços entre marcas-chave como Heineken, Stella Artois e Corona, reconfigurando a percepção de competitividade. O timing e a intensidade dos aumentos revelaram vantagens e desvantagens momentâneas, mas também reforçaram uma tendência de fundo: a premiumização segue como principal motor de crescimento da categoria no Brasil.

O gatilho veio em julho, quando a Heineken aplicou o primeiro aumento relevante em um ano, definido em cerca de 6% — decisão que se espalhou rapidamente pelos canais on e off-trade e redesenhou a comparação de preços da praça. Pouco depois, a Ambev seguiu com ajuste médio de 3,3%, revertendo o corte de junho e ficando, em nível agregado, ~2% acima de maio.


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O relatório do Bank of America, que monitora ~1.500 pontos e 19 marcas, detalha: Heineken +6,1% no período (com a marca-mãe +3,4% e Amstel +7,5%); Ambev com altas seletivas — Corona em “dígito alto” e Stella em “dígito baixo”. Resultado colateral: a inflação da cerveja acelerou em julho e ficou acima do IPCA do mês.

Estratégia de preço por portfólio

Na Heineken, a estratégia combinou um passo firme na marca Heineken (3,4%) com maior tração nas marcas de volume (Amstel +7,5%) — e um reajuste fora da curva, Devassa, com salto de dois dígitos, que ajudou a “limpar” diferenças de preço por degrau.

Na Ambev, o recuo tático de junho abriu espaço para recompor preços a partir de julho/agosto sem perder visibilidade promocional nas marcas core como Brahma e Antarctica. Os ajustes mais visíveis ocorreram nas premium globais (Corona, Stella), enquanto as líderes de massa (Skol, Brahma) foram mantidas entre estabilidade e leves altas, preservando elasticidade.

Timing de reajuste: quem saiu ganhando?

Ao promover reajustes mais cedo e em maior intensidade, a Heineken conseguiu transformar o “preço relativo” em vantagem competitiva. Segundo o relatório do Bank of America que monitora cerca de 1.500 pontos de venda e 19 marcas, no fim de agosto de 2025 o pack de Heineken já estava 2% mais barato que Stella Artois e 28% abaixo de Corona — movimento que inverteu a relação observada no 1º trimestre do ano. Essa mudança reposiciona a Heineken no degrau premium e tende a favorecer seu share mix sem comprometer a receita por hectolitro .

Para a Ambev, o corte de junho funcionou como esteira de volume no curto prazo (inverno e meia-estação), mas comprimiu margens até os reajustes subsequentes. Ao seguir com alta média menor (3,3%), a companhia buscou recompor preço sem perder tráfego — especialmente em core e mainstream — enquanto deixava o premium “respirar” menos que o rival.

Cervejas Premium no centro do tabuleiro

O segmento premium é onde o valor cresce: os reajustes atingiram diretamente o degrau superior (Heineken +3,4%; Corona/Stella com repasses), reforçando a tendência de premiumização que vem ganhando participação na cesta de consumo.

Relatórios setoriais recentes indicam que as cervejarias ampliaram capacidade e foco no premium e no sem álcool para sustentar crescimento, com o mercado brasileiro projetado em ~14,9 bilhões de litros em 2025. Nesse contexto, repassar preço no premium tende a ter menor efeito sobre a demanda e efeito multiplicador em margem — razão pela qual tanto Ambev quanto Heineken dedicaram os movimentos mais visíveis ao topo do portfólio.

Como o premium segue ganhando peso na categoria, o “jogo” do 2º semestre será decidir quem captura mais valor por hectolitro sem ceder participação — um equilíbrio que, por ora, a posição relativa de preços tende a favorecer a Heineken.

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Sobre o autor

Felipe Freitas é analista do mercado de cerveja, engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação pela UFRJ. Fundador e editor do portal Catalisi.