Mikkeller se pronuncia após denúncias de assédio e desistências de participação em seu festival

Foto: Mídias sociais da Mikkeller

A cervejaria dinamarquesa Mikkeller emitiu um pronunciamento e após uma crise iniciada por denúncias de assédio sexual na empresa que levou a uma série de desistências de participação em seu festival

Nos últimos meses a cervejaria dinamarquesa Mikkeller, que opera diversos bares ao redor do mundo, tem recebido protestos e denúncias relativas a assédio sexual e misoginia ocorrido no ambiente da empresa que estão se desdobrando em uma série de desistências na participação de seu próximo festival anual.

Nos últimos dias, a cervejaria fez um pronunciamento oficial sobre os fatos e emitiu um pedido de desculpas pela forma com que tratou o assunto ao longo de sua trajetória e admitiu que são necessárias mudanças em sua conduta.

Em junho passado, um mês após uma série de denúncias de assédio e misoginia que chegaram ao mercado de cerveja artesanal dos Estados Unidos, a Mikkeller foi alvo de um protesto artístico em frente a sua sede na Dinamarca através de posters, que utilizavam a identidade visual característica da marca e acusavam a empresa de racismo e sexismo.

Os organizadores do protesto publicaram informações sobre a natureza da sua ação através de uma conta no Instagram chamada @mikkellerbeer.protest , enquanto mantiveram sua identidade em anonimato por temer represálias.


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Protestos foram seguidos por denúncias de ex-funcionárias

Um mês após o protesto, quatro ex-funcionárias da Mikkeller denunciaram que sofreram com assédio sexual e misoginia no ambiente de trabalho, inclusive de seus superiores diretos na cervejaria durante seu período na empresa, sendo esse o motivo pelo qual decidiram deixar a cervejaria após um tempo.

As situações vexatórias passadas pelas ex-funcionárias incluíam bullying e simulação de masturbação masculina de forma a intimidar e construir relações de poder dentro do cotidiano da empresa e foram descritas em publicação do site norte-americano Good Beer Hunting.

A recusa de cervejarias em participar do festival da Mikkeller

O próximo Mikkeller Beer Celebration Copenhagen (MBCC), festival promovido pela cervejaria que volta a ser realizado neste outubro após a situação mais controlada da pandemia, foi atingido por várias desistências nos últimos dias depois que várias ex-funcionárias da Mikkeller alegaram assédio sexual e intimidação de gênero.

Até o momento, mais de 20 cervejarias de diferentes países cancelaram sua participação no evento, justificando que trabalham no sentido de construir um mercado cervejeiro que se afaste da misoginia e discriminação de gênero, e participar do festival neste momento daria uma sinalização diretamente oposta a isso.

O MBCC é conhecido por apresentar algumas das cervejarias mais procuradas do mundo, e contribui grandemente para construir o renome da Mikkeller como uma formadora de tendências dentro da cerveja artesanal globalmente. Eventos como esse criaram a reputação da marca dentro de um mercado de nicho, permitindo sua expansão através de bares satélites por 23 locais no mundo.

Mikkeller se pronuncia com pedido de desculpas

A cervejaria dinamarquesa emitiu uma resposta nas redes sociais tocando no tema. Em uma parte do texto a marca publicou que “Queremos abordar este post de forma muito direta: apoiamos o ativismo por justiça social, locais de trabalho seguros e inclusão. E, de fato, respondemos claramente a quaisquer alegações de maus-tratos a funcionários em Mikkeller e priorizamos e continuamos priorizando um local de trabalho seguro e inclusivo acima de tudo ”.

Posteriormente, a Mikkeller voltou a tocar no assunto em seus canais oficiais com a publicação de um “We are Sorry” em sua conta no Instagram (“Nos Desculpe” em inglês), com explicação que admite que possui questões relativas ao ambiente de trabalho e precisa investir em mudanças, bem como toda a indústria da cerveja.

O mercado de cerveja artesanal internacional tem passado por uma série de questionamentos relacionados a denúncias de assédio sexual, machismo que afetaram uma série de cervejarias artesanais nos Estados Unidos. Denúncias de ambientes tóxicos de trabalho também chegaram até a britânica Brewdog meses atrás.

No Brasil, questões relacionadas ao racismo ganharam espaço no último ano que levaram ao início de mudanças observadas em associações e também em cervejarias.

O debate sobre a qualidade do ambiente de trabalho, bem como uma ética que promova respeito e diversidade relacionada a todo o mercado de cerveja estão em ebulição e devem continuar pautando discussões nos próximos tempos.

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Sobre o autor

Felipe Freitas é analista do mercado de cerveja, engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação pela UFRJ. Fundador e editor do portal Catalisi.