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A Prefeitura de Blumenau publicou recentemente uma nova regulamentação que altera as diretrizes para a participação de microcervejarias na Oktoberfest, um dos maiores e mais lucrativos eventos culturais e turísticos do Brasil.
A partir da edição de 2025, apenas cervejarias que possuem fábrica instalada dentro dos limites do município poderão concorrer às vagas destinadas a marcas artesanais no evento. A medida provocou reações no setor cervejeiro e pode representar uma mudança significativa na dinâmica do evento — tanto em termos econômicos quanto simbólicos.
A Oktoberfest de Blumenau movimenta cifras expressivas. Em 2023, segundo dados da Secretaria de Turismo e Lazer da cidade, a festa gerou mais de R$ 75 milhões em impacto econômico direto e atraiu mais de 600 mil visitantes ao Parque Vila Germânica ao longo dos 19 dias de evento. O turismo impulsionado pela festa beneficia a cadeia hoteleira, bares, restaurantes, transportes e comércio local, com crescimento significativo de receitas no período.
Além disso, a Oktoberfest é responsável por consolidar Blumenau como um destino estratégico no calendário turístico nacional, sendo também vitrine para o segmento cervejeiro de Santa Catarina — especialmente para marcas artesanais que buscam visibilidade.
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O fornecimento principal de chope da festa é feito através de licitação pública, que escolhe a cervejaria patrocinadora oficial da Oktoberfest. Essa marca ocupa a maior parte dos pontos de venda e tem exclusividade sobre a comunicação visual e ativações de marketing durante o evento.
Nos últimos anos, marcas como Eisenbahn (Heineken Brasil) e Spaten (AB InBev) foram as vencedoras da licitação, com propostas que envolvem valores milionários.
Atualmente, a Oktoberfest de Blumenau é patrocinada pela Spaten, da AB InBev, que detém o contrato de exclusividade até a edição de 2025, obtido em 2023 ao vencer o processo licitatório oferecendo cerca de R$ 6,2 milhões em contrapartida financeira, além da infraestrutura e fornecimento de bebidas.. A marca tem investido fortemente em ativações no evento, com estandes temáticos, produtos exclusivos e ações de marketing que reforçam sua conexão com a cultura cervejeira de origem alemã.
A nova regulamentação municipal, anunciada pela Prefeitura em maio de 2025, estabelece que apenas cervejarias que possuem CNPJ com sede fabril dentro de Blumenau poderão participar da Oktoberfest como expositoras de chope artesanal. A medida foi defendida como uma forma de fortalecer a economia local e valorizar o ecossistema produtivo da cidade, mas já levanta controvérsias entre empresários do setor.
Tradicionais microcervejarias da região do Vale do Itajaí, que não têm sede no município mas que participaram de diversas edições da festa — como Cervejaria Das Bier (Gaspar), Berghain (Pomerode) e outras marcas catarinenses — devem ficar de fora da seleção.
A medida também impacta negativamente marcas que, embora possuam presença comercial forte na cidade, operam fábricas em municípios vizinhos, muitas vezes a poucos quilômetros da Vila Germânica. Já cervejarias como HolzBier, Container e Bierland, que possuem estrutura produtiva dentro dos limites de Blumenau, devem ser favorecidas pela mudança.
Segundo nota oficial da Prefeitura, o objetivo da nova legislação é fomentar o desenvolvimento econômico local, assegurando que o investimento e o retorno gerado pela Oktoberfest beneficie diretamente empresas e empregos da cidade. A gestão municipal também busca ampliar o protagonismo das cervejarias blumenauenses, dando mais espaço a uma identidade própria da cena cervejeira local dentro do maior evento do gênero no país.
No entanto a medida pode restringir a diversidade de estilos e marcas disponíveis ao público, além de reduzir o intercâmbio entre cervejarias do ecossistema regional que sempre teve forte integração no Vale Europeu. Há também preocupações sobre o risco de favorecer apenas algumas empresas em detrimento de um mercado mais plural e competitivo.
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Sobre o autor
Felipe Freitas é analista do mercado de cerveja, engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação pela UFRJ. Fundador e editor do portal Catalisi.