Skol em baixa: queda no consumo de uma das marcas mais populares impacta a Ambev

Queda no consumo da Skol expõe os desafios da Ambev diante da migração dos brasileiros para cervejas premium.

A Skol, por décadas um dos principais pilares do portfólio da Ambev, vem enfrentando uma queda gradual e significativa no consumo, acendendo um alerta estratégico dentro da companhia.

Com um histórico de liderança em volume e presença de marca em todo o território nacional, a retração nas vendas da Skol representa não apenas uma mudança de comportamento do consumidor brasileiro, mas também um desafio financeiro relevante para a gigante do setor de bebidas.

A importância estratégica da Skol

A Skol sempre foi uma das marcas mais valiosas da Ambev — tanto do ponto de vista financeiro quanto simbólico. Trata-se de um rótulo que, durante anos, figurou entre os mais vendidos da América Latina e com forte recall publicitário, responsável por uma fatia substancial das receitas da empresa no segmento de cervejas de massa.

Mesmo com margens unitárias mais baixas do que as cervejas premium, o altíssimo volume de vendas torna a Skol uma engrenagem central na estrutura de lucratividade da companhia.


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Além disso, a Skol é uma das poucas marcas da Ambev que sustentam uma identidade consolidada com o público amplo e muito popular, o que gera valor de marca de longo prazo. Manter os consumidores fidelizados a ela, especialmente em regiões fora dos grandes centros urbanos, ainda é visto como estratégico para o ecossistema da companhia.

Pressão do mercado premium e migração do consumidor

O declínio da Skol acompanha uma transformação mais ampla no perfil de consumo do brasileiro. Nos últimos anos, observou-se um crescimento expressivo no interesse por cervejas premium e artesanais — categorias que carregam margens mais altas, mas também enfrentam concorrência mais acirrada.

Esse movimento, semelhante ao observado, por exemplo, no mercado norte-americano com a Bud Light — que também vem perdendo relevância para marcas premium e alternativas — indica uma tendência global de sofisticação dos hábitos de consumo.

Na prática, isso significa que muitos consumidores tradicionais da Skol têm migrado para marcas como Heineken, Eisenbahn, Petra ou até mesmo rótulos da própria Ambev como Stella Artois, Spaten e Corona, opções que prometem maior qualidade percebida.

Além disso, a concorrência no mercado de cervejas mais populares tem ficado mais disputado nos últimos anos com crescimento de Amstel.

O resultado é uma erosão do volume de vendas da Skol em seus mercados tradicionais, afetando diretamente os resultados financeiros da companhia.

Estratégias de retenção e renovação da marca Skol

Ciente da importância de conter essa fuga de consumidores, a Ambev tem buscado rejuvenescer a imagem da Skol por meio de campanhas publicitárias que tentam reposicionar a marca como descontraída, diversa e alinhada com os novos valores culturais.

Além disso, a empresa tem apostado em inovações no portfólio da Skol, como variações com sabores e edições limitadas, além de embalagens diferenciadas e ações promocionais em festivais e eventos populares.

A empresa também intensificou os investimentos em inteligência de mercado e distribuição segmentada para frear o avanço de concorrentes em canais onde a Skol historicamente liderava, como pontos de venda em regiões periféricas e bares de grande circulação.

O dilema da transição entre marcas populares e premium

O desafio da Ambev com a Skol é semelhante ao enfrentado por outras gigantes globais: manter viva a relevância de uma marca de massa em um cenário onde o consumidor busca diferenciação e identidade.

A empresa já mostrou competência em diversificar seu portfólio e ganhar terreno com rótulos premium, mas sabe que a perda acelerada da base da Skol compromete não apenas receitas, mas também o equilíbrio de seu mix de produtos.

O futuro da Skol, portanto, passa por uma difícil equação: como manter sua força popular sem perder a conexão com os novos valores de consumo? A resposta a essa pergunta poderá definir o desempenho da Ambev em um mercado que se torna cada vez mais competitivo e fragmentado.

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Sobre o autor

Felipe Freitas é analista do mercado de cerveja, engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação pela UFRJ. Fundador e editor do portal Catalisi.