Catalisi Entrevista – Rafael Leal, fundador da cervejaria Caatinga Rocks

Inaugurada em 2017 a cervejaria Caatinga Rocks é uma das marcas que têm movimentado o mercado de cerveja de Alagoas. O estado é um grande exemplo do grande alcance que as microcervejarias brasileiras têm conquistado fora dos grandes centros do sul e sudeste.

A cervejaria é resultado do trabalho de dois irmãos – Rafael e Marcus Leal – que iniciaram o projeto após a experiência da produção caseira de cerveja e em pouco mais de 2 anos já acumulam prêmios e expansões do negócio. Rafael compartilhou nessa entrevista com a Catalisi como têm foi a trajetória da Caatinga e suas percepções em relação ao mercado de cerveja em que está atuando.

Com um investimento de R$ 1 milhão e financiamento da agência de desenvolvimento do estado de Alagoas – instituição financeira supervisionada com ações voltadas para a promoção do desenvolvimento do Estado – a Caatinga Rocks levou 2 anos desde o início de seu planejamento até o lançamento do primeiro produto.

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“Iniciamos como cervejeiros caseiros em 2012, começamos a projetar a cervejaria no começo de 2015, e startamos a a produção no final de 2016. Nosso primeiro lançamento foi no começo de 2017″ diz Rafael.

Os irmãos Rafael e Marcus Leal, fundadores da alagoana Caatinga Rocks

Ele destaca que mesmo com a etapa de planejamento, o componente determinação foi fundamental para se superar os obstáculos de iniciar o negócio, e como o desejo de investir na cervejaria começou

“Rapaz… se a gente superou dificuldades? Dá para escrever até um livro…rs
Na verdade o mérito de se criar a cervejaria foi do [meu irmão] Marcus, ele que viu a oportunidade. Minha visão sempre foi bem mais ‘romântica’ com a produção caseira, minha ideia era só ter cerveja boa para beber e compartilhar com a turma.
Depois de um ano dele buzinando no meu ouvido resolvemos começar o projeto”

“Na verdade o mérito de se criar a cervejaria foi do Marcus, ele que viu a oportunidade.”

Para além de todo o planejamento e desejo de começar, o momento também favoreceu a maturação da ideia para que a Caatinga Rocks virasse realidade.

“Foi em um momento que a coisa tava começando a acontecer por aqui, as primeiras reuniões de caseiros, fundação da Acerva. Era o começo de uma cena cervejeira se formando e ali em 2012 a gente tava participando ativamente disso. Mas para mim era só um hobby mesmo”

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Os irmãos na fábrica da Caatinga Rocks

Além da paixão da produção de cerveja, o fundador da Caatinga Rocks ressalta que são necessários ingredientes além da emoção para levar o empreendimento a frente.

“[Só a paixão] não leva o negócio a frente. A realidade é bem diferente, principalmente num mercado iniciante para o segmento aqui na região. Nosso mercado aqui é bem ‘verde’ ainda.”

Ao abordar o mercado Rafael destaca que seu foco é a região do Nordeste, não se restringindo apenas a Alagoas.

“Nosso foco é Nordeste. No momento estamos vendo uma forma de ampliar nossa presença na região. Estudando um melhor formato. Logística e impostos ainda são os grandes problemas desse mercado. Um país deste tamanho que vive de transporte rodoviário é caro.”

“Logística e impostos ainda são os grandes problemas desse mercado. “

Apesar da característica iniciante do mercado local a cervejaria enxerga na tarefa de desenvolver seu consumidor uma missão motivadora. O crescimento do público é percebido com a evolução do negócio.

“A evolução é real a cada mês, a cada ano cresce. E o portfólio vai evoluindo junto. Com a missão de sempre “esticar a corda”…lançar coisas diferentes pra sair do lugar comum”

O portfólio fixo da Caatinga Rocks

‘Esticar a corda’ realmente é uma boa definição para a trajetória do portfólio da Caatinga Rocks. Seu primeiro produto no mercado foi a English Serelepe Brasileira, um Special Bitter que ganhou reconhecimento ao ser premiada como cerveja do ano na I Copa da Cerveja POA em 2017.

A partir da premiação a Caatinga construiu uma gama de opções de cervejas mais simples para seu portfólio fixo, e também deu saltos ousados como a Imperial Tropical Stout Envelhecida Zumbi Republic, a premiada sour IPA com adição de cacto Mandacaru Atômico (colaborativa com a paulista Heróica) e até uma gose chamada Twist & Sour em colaboração com a paulista Dádiva, uma tomada de risco audaciosa para um mercado ainda pequeno se comparado a outras localidades do país.

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“Essa é nossa ideia. Fizemos uma sour aqui arriscando, isso não existia por aqui. Para uma cervejaria que não vive de um produto de massa, é fundamental que o consumidor vá ampliando o conceito do que é cerveja” diz Rafael.

Twist & Sour, uma das investidas da cervejaria para ampliar a percepção do público em relação a cerveja

“Fizemos uma sour aqui arriscando…é fundamental que o consumidor vá ampliando o conceito do que é cerveja”

Em 2018 a cervejaria, que possui média de produção de 12 mil litros por mês, investiu em criar seu tasting room, um bar da marca em Maceió, onde foi gerado um ponto de contato direto com o consumidor. Para o empreendimento a cervejaria fechou uma parceria com uma cafeteria que criou um cardápio com oito pratos com sugestão de harmonizações com os rótulos da Caatinga.

“No nosso caso, a fábrica fica no interior, 40km de Maceió. Então, além de fonte de receita, é importante para o público ter experiência com a nossa marca, nosso serviço….acaba sendo nosso cartão de visita.”

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A cervejaria enxerga uma importância estratégica da construção de sua marca ao valorizar a cultura local e investir numa linguagem estética e discursiva que complementam a cerveja.

“Planejamento e o cuidado na concepção e posicionamento da marca foi fundamental pra gente porque resultou numa marca forte e que traduz muito daquilo que a gente acredita.
Boas cervejas são o primeiro passo e o conceito da marca cria relacionamento com o público, a realização de eventos também ajuda muito a criar esse vínculo. É preciso ser criativo e encontrar soluções”

Eventos próprios como o “Summer Sessions” ajudam na construção de marca de acordo com a Caatinga Rocks. Fonte: Instagram Caatinga Rocks

Rafael finaliza complementando a análise sobre o papel fundamental da criatividade no negócio.

“Para além de apostar na criatividade através dos nossos sabores regionais é preciso investir em criatividade através de experiência, tudo que possa despertar interesse no público em se envolver com a marca. Gerar conteúdo esse é o caminho”

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Sobre o autor

Felipe Freitas é engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação Tecnológica pela EQ/UFRJ e analista do mercado de cervejas.