Conhecido como modelo de menor barreira de entrada para produção de cerveja, as cervejarias ciganas já não são novidade no Brasil e agora começam a se multiplicar em novos mercados como o nordeste.
Em regiões mais competitivas como o sudeste algumas novas cervejarias ciganas buscam iniciar com posicionamento mais robusto, tentando se diferenciar em meio a diversidade de opções que já possuem um público cativo.
Cervejaria cigana é o modelo como são chamadas cervejarias que terceirizam totalmente sua produção em fábricas com espaço disponível para recebê-las. Numa perspectiva da cadeia de negócio muitas vezes o armazenamento e a distribuição também são terceirizados, ficando como foco da marca principalmente o marketing e comercialização dos produtos.
O modelo apresenta algumas oportunidades como menor barreira de entrada financeira, mas também uma série de obstáculos como baixíssimas margens, dado o posicionamento da cervejaria cigana no meio da cadeia de suprimentos, e maior vulnerabilidade principalmente quando os mercados se tornam mais competitivos.
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Mercados com um menor número de competidores como o nordestino estão vendo a quantidade de cervejarias ciganas se ampliando conforme um público mais abrangente começa a conhecer os players locais em festivais e pontos de venda.
Em Alagoas, uma cervejaria cigana que se lançou ao mercado foi a Parêa que é o projeto de duas sócias com experiência na produção de cerveja caseira que iniciaram a sua fabricação na cervejaria Caatinga Rocks e foram premiadas com ouro na categoria Fruit Beer com o rótulo Enxerida na Copa de Cervejas Poa.
“Somos duas mulheres a frente da cervejaria, começamos a idealização do projeto em março e queremos explorar bastante o empoderamento feminino e a nordestinidade da nossa marca. Nas nossas pesquisas vimos que a Caatinga era melhor opção para nossa produção e eles acreditaram muito no nosso projeto” revela Magda de Barros sócia da Parêa.
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Na Bahia, outro mercado em desenvolvimento, a Calundu – uma expressão de origem afro que significa irritação – também aposta num conceito de marca local com comunicação bastante contemporânea traduzida na tipografia e e nos nomes dos rótulo como American Summer Ale Xêro Mole e a American Ipa Largudoce.
Com estimativa de vendas inicialmente de 400 litros por mês a Calundu projeta chegar a 1.000 litros mensaia posteriormente ao alcançar três rótulos. A cervejaria é fruto da sociedade de três amigos e um investidor anjo com um planejamento que durou cerca de 2 anos e investimento de 50 mil reais.
“Nosso plano de negócios pensa na Calundu como uma cervejaria cigana e também em formato de TapRoom. Nossa intenção era desenvolver uma marca que pudesse representar a Bahia, proporcionar boas experiências sensoriais e trazer momentos de descontração e bom humor entre as pessoas” conta Danilo Dias, cervejeiro e sócio da Calundu.
Diferente da realidade nordestina onde cervejarias artesanais ainda não possuem um nicho cativo a realidade da maior parte de grandes cidades do sudeste é diferente. As opções de marcas já atingiram um número considerável e a expansão de público é bastante gradativa.
Com esse contexto é crucial que a entrada de novas ciganas se dê com um objetivo de diferenciação, visando a construção de um posicionamento distinto no mercado e almejando a oportunidade de ser escolhidas entre centenas de alternativas nas prateleiras dos pontos de venda.
A cervejaria cigana Oca, uma das entrantes recentes no mercado paulista, investiu numa identidade visual que trará design contemporâneo com influências das matrizes indígenas, além das florestas e ecossistemas nacionais. As receitas buscam o uso ingredientes amazônicos e aromas e sabores tropicais.
A combinação gerou três rótulos da Oca até o momento a Juicy IPA Tainá e as Raw Double IPAs Anajás e Marajó,.
“Os desafios de uma cervejaria cigana em São Paulo são vários. Primeiro é conseguir se pagar com altos impostos, custo dos insumos e o serviço até a prateleira. Depois é construir uma demanda para poder se estabelecer, a oferta é muita” analisa o sócio da Oca Cervejaria André Nóbrega.
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Sobre o autor
Felipe Freitas é analista do mercado de cerveja, engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação pela UFRJ. Fundador e editor do portal Catalisi.