A invasão da Rússia na Ucrânia está gerando uma série de efeitos na economia e o mercado de cerveja também está sendo impactado. Como ambos os países são grande produtores de cereais, um dos efeitos mais diretos tem sido a escalada de preços de do mercado de malte, insumo essencial para a cerveja.
Os preços do mercado de malte atingiu patamares não verificados há anos, em uma semana o malte de cevada chegou a se apreciar em 50 euros por tonelada, isso se soma a outras dificuldades que o mercado de malte já enfrentava devido a impactos da pandemia da crise climática.
Rússia e a Ucrânia juntas representam 25% do excedente mundial de grãos. Os agricultores na Ucrânia não conseguem semear e os seus tratores estão sendo confiscados para utilização na guerra, ocasionando não apenas uma catástrofe humanitária, mas também iniciando uma grave crise econômica.
Além disso, todos os portos de exportação já foram ocupados militarmente pelas forças armadas russas impedindo qualquer fluxo comercial. Há também destruição de infra-estrutura utilizada na cadeia de suprimento, mas não há informação em qual extensão isso ocorreu.
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Pelo lado da Rússia, o país tem recebido uma série uma série de restrições para estabelecer fluxos comerciais com outros países o que tem impactado suas exportações, retirando também uma quantidade de malte do mercado internacional
Todos esses fatores direcionam a um aumento dos preços do malte, em especial o de cevada, devido a uma crescente escassez de exportações de dois dos principais países ligados a este fluxo, algo que deve permanecer ao menos num curto a médio prazo.
Há atualmente uma grande incerteza com a capacidade de maltagem na Ucrânia devido ao conflito que têm se espalhado nas últimas semanas. Pelo menos uma safra completa poderá ser comprometida caso não haja uma reviravolta na situação que tem ocorrido recentemente.
Nos últimos 20 anos a capacidade de maltagem da Ucrânia dobrou devido a uma série de investimentos que ocorreram no país de três atores principais.
O primeiro é a Malteurop , propriedade do grupo agrícola francês Vivescia , com uma capacidade de malte anual combinada de 160.000 toneladas de malte. A Malteurop iniciou a produção de malte na Ucrânia em 2001 e realizou uma série de operações de aquisições de unidade de produção de malte e a construção um novo também, possuindo
Outro player é a Soufflet de propriedade do grupo agrícola francês InVivo que possuía capacidade original de 80.000 toneladas e foi ampliada para atuais 155.000 toneladas. O terceiro ator no mercado ucraniano é a Obolon , uma das maiores cervejarias do país, sua capacidade total conhecida é de 120.000 toneladas.
O negócio de exportação de malte da Ucrânia é da ordem de 200 mil toneladas por ano, e como este volume não estará disponível num futuro próximo ele terá de ser substituído por outros mercados, o que leva a uma pressão sobre a oferta do insumo que não poderá ser compensada num curto prazo.
Importadores precisarão trabalhar seus estoques para criar estratégias de forma a manter um preço competitivo para atendimento de seus diferentes mercados.
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Sobre o autor
Felipe Freitas é analista do mercado de cerveja, engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação pela UFRJ. Fundador e editor do portal Catalisi.