Abracerva emite nota técnica sobre prevenção de incidentes com etileno glicol

Abracerva emite nota técnica solicitando a proibição cautelar pelo MAPA do uso do Monoetileno Glicol e Dietileno Glicol como fluidos de refrigeração em cervejarias.

Com a ocorrência da série de intoxicações suspeitas de serem decorrentes do consumo de cervejas em Minas Gerais a Abracerva, Associação Brasileira de Cerveja Artesanal publicou uma notificação técnica.

Na nota Abracerva dá algumas orientações para a prevenção de incidentes com contaminação indireta de cervejas aos seus associados. Adicionalmente, a entidade solicitou ao MAPA a proibição cautelar do uso de Etileno Glicol em fábricas de cerveja.

O presidente da Abracerva, Carlo Lapolli, encaminhou nota técnica às cervejarias associadas dando algumas orientações para a prevenção de incidentes com contaminação indireta de cervejas (mais abaixo segue a nota na íntegra).

Além desse documento, a Abracerva solicitou à Anvisa e ao Mapa a proibição cautelar do uso de Etileno Glicol em fábricas de cerveja. A medida sugere a edição da norma dedicada ao setor. Embora não seja usual na produção de cerveja, material pode ter causado intoxicação em Belo Horizonte (MG)


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Abaixo segue a nota técnica.

“Brasília, 13 de janeiro de 2020.

Às Cervejarias Associadas da ABRACERVA

REF: Prevenção de Incidentes com contaminação indireta de cervejas

Prezados Associados,

Em razão dos recentes fatos noticiados na mídia nacional dando conta na intoxicação de 10 pessoas, inclusive levando uma destas a óbito em razão de presença de Etileno Glicol e Dietileno Glicol em amostras de cervejas da Cerveja Backer de Minas Gerais, a Abracerva vem informar o seguinte:

Desde o início das ocorrências a Associação tem acompanhado a situação buscando, sobretudo, entender o que ocorreu no processo de fabricação que lamentavelmente levou uma pessoa a óbito e outras a internação hospitalar.

Até o presente momento, ainda que não haja uma confirmação definitiva das causas da morte e da síndrome nefroneural, há fundadas suspeitas de que houve a intoxicação dos consumidores por etileno glicol.

A Abracerva aguarda a investigação dos órgãos competentes para o esclarecimento da causa ou causas que levaram a esta contaminação, sobretudo para evitar que tal evento, inédito na indústria cervejeira, volte a se repetir.

A associação, inclusive, entende que a responsabilização civil e criminal deve ser feita com zelo e sem açodamentos, respeitando-se os procedimentos legais.

Com relação aos aspectos técnicos envolvidos a Abracerva está solicitando ao MAPA e ANVISA que elaborem norma específica para a utilização de agentes anticongelantes no sistema de resfriamento de cerveja com a permissão de apenas substâncias de grau alimentício em virtude da possibilidade incidental de contato com a cerveja nas etapas de fabricação.

Lembramos que a legislação é clara quanto a responsabilidade do fabricante em garantir a segurança dos processos produtivos e do produto final, ainda que a legislação sanitária apresente um vácuo quanto aos produtos possíveis de utilização como anticongelantes em sistemas de troca de calor (tanques e trocadores de placas) no processo cervejeiro.

Entrementes, a ABRACERVA faz as seguintes recomendações aos seus associados:

  1. Em hipótese alguma utilizar o mono ou dietileno glicol como agente anticongelante nos sistemas de refrigeração indireta.
  2. Sejam utilizados produtos apropriados e de grau alimentício, tais como: álcool etílico potável ou propileno glicol nos sistemas que possam ter contato incidental com a cerveja e substituir fluidos que não tenha grau alimentício de imediato.
  3. Revisão preventiva imediata de equipamentos e pontos críticos de contaminação envolvendo estes processos.
  4. Revisão das normas internas de controle, inspeção e manutenção dos equipamentos envolvidos nos processos de resfriamento, com a rotineira inspeção destes pontos.
  5. Instalação de sensores de nível do reservatório do sistema de refrigeração dotados de alarmes, para detecção de vazamentos.
  6. Utilização de corantes e ou saborizantes de grau alimentício para visualização de vazamentos.
  7. Revisar o treinamento dos colaboradores nos procedimentos que podem levar a contaminação do produto nestas circunstâncias.

Seguimos acompanhando o caso na certeza de que a cerveja artesanal brasileira possui qualidade de produção de nível mundial, contando com profissionais cientes de suas responsabilidades e inteiramente comprometidos com o melhor produto para o consumidor.

Por fim, solidarizamo-nos novamente com as vítimas do incidente, com a certeza de que as causas e responsabilidades serão integralmente esclarecidas e apuradas.

Atenciosamente,Presidente da ABRACERVACarlo Giovanni Lapolli”

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Sobre o autor

Felipe Freitas é engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação Tecnológica pela EQ/UFRJ e analista do mercado de cervejas.