Cervejaria Nacional: Um dos primeiros brewpubs de São Paulo celebra 10 anos

Cervejaria Nacional, um dos primeiros brewpubs da cidade de São Paulo, chega há 10 anos com muitas histórias pelo caminho e projetos novos para explorar

A Cervejaria Nacional, brewpub localizado na cidade de São Paulo, conheceu há uma década atrás como era o cenário da inexistência de negócios semelhantes a este na capital paulista e como a partir daí fomentar um mercado e um público para pequenas cervejarias artesanais na região.

Comemorando agora seus 10 anos, a Cervejaria Nacional tem a companhia pela cidade mais de 30 cervejarias que tal como ela produzem e vendem suas cervejas diretamente para o público, sendo São Paulo a segunda cidade do país em número de cervejarias registradas conforme o último relatório publicado pelo MAPA.

“Quando a Cervejaria Nacional surgiu em meados de 2011 existiam aproximadamente 130 cervejarias no Brasil, um décimo do número atual. Muitas das cervejas diferenciadas encontradas em gôndolas e em lojas especializadas eram importadas. O consumo de cervejas artesanais era muito menor que o atual, haviam poucas cervejas assim em prateleiras e poucos estabelecimentos especializados ou mesmo que serviam o produto.” comenta Luís Fernando Fabiani, um dos sócios-fundadores da Nacional.

A Cervejaria Nacional nasceu em 2006 da sociedade entre Fabiani, economista que se apaixonou pelo universo cervejeiro na década de 90 em Nova York, e do produtor gráfico Dudu Toledo, amigo entusiasta de suas experimentações. Ao voltar ao Brasil, o autodidata trouxe um equipamento e começou a fazer em casa sua própria cerveja. Juntou-se a dupla o cunhado de Fabiani que também que se tornou entusiasta ao acompanhar as produções caseiras.


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O trio decidiu criar a cervejaria, que atuava inicialmente apenas como fornecedora de bares, alguns já extintos. O projeto cresceu com a entrada de Alexandre e de Marcus Ribas, da consultoria AyB, e em 2011, os sócios transformaram a Cervejaria Nacional em uma fábrica-bar. Com a entrada no ano seguinte, do sócio Glauco Ciasca, publicitário, a cervejaria tomou um novo e bem sucedido rumo em relação ao posicionamento da marca e sua expansão no mercado.

“No mercado paulistano, a Nacional era a única fábrica-bar, que comportava produção e consumo no mesmo local da cidade e se manteve por muitos anos como a única. Hoje vemos todos os avanços que já foram conquistados nesses 10 anos, principalmente o de expansão do conhecimento e cultura cervejeira, chegando cada vez mais a diferentes camadas sociais.” comenta Fabiani.

O cenário de mercado de cervejas artesanais existente no início da Nacional era ainda bastante tímido apesar das perspectivas de expansão. Em 2011 a burocracia para que o projeto de um brewpub se tornasse realidade era muito maior que o atual, recheado de idas e vindas, quando boa parte do trâmite ainda não podia ser realizados por meios digitais. Apesar disso, Fabiani considera que o licenciamento de negócios do tipo ainda pode se tornar mais facilitado.

“Houve algumas mudanças na legislação que na época era bem precária, mas que ainda necessita de muitos avanços, e hoje há até mesmo o investimento e desenvolvimento de produção de insumos cervejeiros nacionais e tecnologia , o que não se via anteriormente.”

Cervejaria Nacional ajudou a fomentar o mercado de artesanais como se conhece hoje

A Cervejaria Nacional, além da sua produção de cerveja em pequena escala, é também formadora de recursos humanos para o mercado de microcervejarias. Muitos dos profissionais que passaram pela casa estão espalhados por várias microcervejarias do Brasil, e a empresa possui uma política de oferecer oportunidade de desenvolvimento para sua equipe

“Temos muito orgulho de formarmos tantos profissionais e que estão fazendo trabalhos incríveis no mercado de cervejas artesanais. Acreditamos que o papel de toda empresa deva ser o de dar oportunidade para novos profissionais e ajudar no crescimento dentro da empresa. Sempre tivemos as portas abertas para receber profissionais no começo de carreira para dar a oportunidade do aprendizado. Sentimos que fizemos e ainda estamos fazendo um papel importante na formação de profissionais e consequentemente na expansão da cultura cervejeira. Isso ocorreu não só na área de produção, mas também de outras áreas como administrativa, bar e salão. Alguns dos funcionários da Cervejaria Nacional já receberam como incentivo parte ou inteiramente o curso de Sommelier de Cervejas e Tecnologia Cervejeira.” comenta Beatriz Cury, responsável por comercial e marketing da cervejaria.

A pandemia gerou impactos importantes no negócio da Nacional, afetando o consumo do bar que em alguns momentos chegou a ser zerado com as mudanças dos decretos por fases da pandemia. Além disso, a cervejaria deixou de contar com eventos corporativos que promovia em seu espaço.

O delivery, que já existia antes do início da pandemia, se tornou o canal que tem permitido o brewpub se manter viável durante o período e por muitas vezes se tornou o único meio de chegar até os clientes.

“Quando há a possibilidade de abertura do bar para consumo no local com as restrições de segurança impostas, abrimos. Hoje estamos funcionando dessa forma. O obstáculo tem sido grande. O que nos mantém hoje é o delivery, que começamos em 2018 e por isso não tivemos muitas dificuldades de estruturação no começo da pandemia, apesar de estamos constantemente estudando esse canal. Além disso, adaptamos os eventos que anteriormente eram feitos presencialmente para o modo online, com envio das cervejas e palestra via serviços de comunicação por vídeo.” comenta Beatriz.

O momento não tem freado a elaboração de experimentações na produção da cervejaria que tem investido em criar novas cervejas e combinar isso com a sua linha de cervejas fixas.

“Temos como estratégia a produção focada na diversidade de estilos e produções limitadas de cervejas, que são as chamadas cervejas sazonais. Por mês temos lançado de duas a três cervejas de diversos estilos com ou sem adições de diferentes ingredientes. Para os próximos meses estamos focando também em valorizar ainda mais nossa biodiversidade e a cultura brasileira e vamos lançar cervejas com elementos que representam muito isso.” revela Beatriz.

Como boa parte dos brewpubs, a Cervejaria Nacional também está buscando diversificação de canais com a utilização de latas. Adicionalmente, a cervejaria também está investindo na criação de produtos mais raros de edição limitada, com a viabilização do envase em garrafas de algumas relíquias que estão maturando há algum tempo em câmara fria.

Hoje 10 anos após o início do brewpub, Fabiani enxerga que há muito mercado a ser conquistado. “Ainda enxergamos um potencial gigante de crescimento, que apesar das grandes mudanças nessa década, ainda estamos no começo para conquistar um mercado gigantesco e inexplorado.”

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Sobre o autor

Felipe Freitas é analista do mercado de cerveja, engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação pela UFRJ. Fundador e editor do portal Catalisi.