Fazenda de lúpulo recebeu investimento de R$ 3 milhões e já produz 15 toneladas por ano

Foto: Rafaela Nassam

Cultivo de lúpulo se expande em empreendimento de Minas Gerais e já faz parte do insumo de cervejarias locais da região

A produção de lúpulo continua em expansão no Brasil com alguns negócios ganhando robustez após seu ciclo de investimentos. Entre os destaques está uma fazenda na região metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais, cujo o lúpulo está avançando em sua adoção por cervejarias artesanais locais.

Se valendo de um ciclo de três safras anuais, o que o diferencia do restante da produção de lúpulo mundial que só possui uma, o lúpulo brasileiro está mostrando bons resultados em crescimento e qualidade ao oferecer lúpulo fresco e em larga escala para os produtores de cerveja nacionais.

Criada pelos belo-horizontinos Gabriel Purri e Thiago Fenelon,a a fazenda em questão é a Mundo Hop, que possui de 4 hectares, em Mateus Leme, Minas Gerais. Os sócios-fundadores da Mundo Hop são capazes de produzir até 15 toneladas/ano de lúpulo, colhido de 10 mil plantas.

Para fins de comparação, as maiores fazendas de lúpulo do mundo têm, em média, 500 hectares, pois a planta demanda pouco espaço para cultivo (enquanto as de soja, por exemplo, chegam a ter mais de 50 mil hectares). Uma vez dominada a técnica de produção do lúpulo em regiões quentes, pode-se imaginar o potencial do Brasil.


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A Mundo Hop foi criada no final de 2019 e, de lá para cá, já foram investidos R$ 3 milhões, entre pesquisa, infraestrutura, testes e plantação. A ideia surgiu do gosto pelo empreendedorismo e pela cerveja, além de uma visão de mercado. No ano passado, entraram no negócio dois novos sócios, os irmãos Rodrigo e Leandro de Barros, este co-fundador da Méliuz, empresa de sucesso na área de cashback.

Investimento em tecnologia tem ampliado a produção de lúpulo brasileiro

Em 2023, o time iniciou as colheitas em três safras anuais, muito além do padrão mundial, que é de uma ao ano. “Isso significa que o lúpulo da Mundo Hop é sempre mais fresco, dando mais qualidade à cerveja e ainda oferecendo novas possibilidades aos fabricantes da bebida”, explica Gabriel Purri. A primeira safra comercial, que aconteceu em fevereiro, foi de cerca de 3 toneladas.

Um desafio para a produção de lúpulo é promover a chamada tropicalização da planta, que consiste em adaptar a produção de lúpulo as diferentes condições ambientais existentes em regiões brasileiras. Investimentos em desenvolvimento de tecnologia tem alavancado a produção do insumo que até anos atrás era desacreditada no Brasil, por só se desenvolver tradicionalmente em climas mais frios específicos de certas regiões do mundo.

Os sócios da Mundo Hop contam que para adequar o lúpulo ao clima e solo brasileiros, a Mundo Hop investiu nos estudos sobre fitopatologias com diversos testes de laboratório, tendo descoberto um viróide que, até então, não estava no radar dos agrônomos e produtores brasileiros. Além disso, investiu na construção e implementação de um sistema de irrigação de ponta, importou uma colheitadeira de alto nível da Alemanha e LEDs para regulação da iluminação em campo aberto, projetou e construiu uma secadora e ajudou a desenvolver uma nova peletizadora de lúpulos (máquina que compacta as flores trituradas) – a maior do Brasil hoje. As adequações permitem que a Mundo Hop produza 7 variedades de lúpulo: Comet, Cascade, Chinook, Saaz, Triumph, Triple Pearl e Zeus.

Lúpulo brasileiro passa a receber grande adoção por cervejarias mineiras

A Mundo Hop já está conquistando o mercado mineiro, a primeira colheita está sendo entregue a algumas cervejarias renomadas como Capapreta, Caraça, Krug Bier, Viela, São Sebastião, Tarin e Verace.

“Sinto que esse é só o começo da jornada da Mundo Hop. Nosso objetivo sempre foi cultivar lúpulo nacional de qualidade, com sabor e frescor que impulsionam a indústria cervejeira local, e reduzir a nossa dependência de importações”, comenta Thiago Fenelon. Segundo ele, a projeção é expandir a marca por todo o Brasil e chegar a 10 hectares de fazenda até o fim de 2024.

O sócio-fundador da Capapreta, Lucas Godinho, destaca que, em 2023, a cervejaria completa dez anos de história e que a parceria faz parte das comemorações.

“Recentemente tivemos a oportunidade de conhecer a Mundo Hop e entender o que esse time conseguiu fazer com um insumo que era desacreditado no Brasil. Há um, dois anos, era impensável termos lúpulo de qualidade produzido em solo brasileiro em larga escala. Eles conseguiram, de fato, romper essa barreira e estão trazendo para o mercado cervejeiro nacional uma transformação que há muito tempo a gente não via”.

Sobre a Mundo Hop

É a maior produtora de lúpulo do Brasil, criada em 2019 pelos empreendedores belo-horizontinos Gabriel Purri e Thiago Fenelon. Sua fazenda de 4 hectares, localizada em Mateus Leme, Minas Gerais, é capaz de produzir até 15 toneladas de lúpulo ao ano, em três safras, com 7 variedades: Comet, Cascade, Chinook, Saaz, Triumph, Triple Pearl e Zeus. A Mundo Hop se caracteriza pela inovação ao produzir em terras brasileiras e em larga escala uma planta típica de regiões frias e por um lúpulo de altíssima qualidade e frescor.

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Sobre o autor

Felipe Freitas é engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação Tecnológica pela EQ/UFRJ e analista do mercado de cervejas.