Emails vazados, que são parte integrante de um documentário da empresa de mídia britânica BBC, mostram que em 2018 a Brewdog realizou abordagens iniciais para discutir uma possível venda parcial de seu negócio para a gigante cervejeira Heineken.
De acordo com os relatos obtidos a tentativa de venda não avançou de seu estágio inicial devido uma “quantia fora da realidade” colocada como base da negociação pelo fundador da Brewdog
Reportagens investigativas da BBC sobre a Brewdog e seu co-fundador James Watt não são uma novidade. No início do ano uma delas trouxe uma série de denúncias de ex-empregados de forma anônima em um documentário, relatando que o ambiente de trabalho era permeado por humilhações e assédio moral.
O documentário intitulado “Disclosure: The Truth About BrewDog” foi ao ar na BBC, levantou acusações ferozes contra o CEO da empresa. Watt supostamente tentou interromper a transmissão ameaçando as fontes anônimas do documentário de processá-las depois que sua identidade foi revelada.
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Na nova reportagem, a BBC informou que o CEO da BrewDog, se encontrou com representantes seniores da Heineken, e mais tarde escreveu ao então presidente europeu da Heineken, Stefan Orlowski , que a Brewdog estava “aberta a explorar potenciais parcerias estratégicas” e também “aberta a ser mais pragmática em nossos pontos de vista”. sobre a independência”.
De certa maneira esse posicionamento do co-fundador da Brewdog surpreende uma vez que ele foi um ferrenho crítico de cervejarias artesanais independentes que se venderam pra Heineken nos últimos anos como a californiana Lagunitas e a londrina Beavertown.
A Brewdog, que costuma vender cervejas de outras marcas independentes em seus bares, deixou de vender tanto Lagunitas quanto Beavertown depois de suas respectivas aquisições.
O crescimento meteórico da Brewdog baseado fortemente num modelo calcado em mais de cem bares próprios espalhados pelo mundo, marketing escandalizador e, mais recentemente, um discurso ligado a causas ambientais custa caro e era de amplo conhecimento que uma nova rodada de investimentos seria necessária para sustentar sua ampliação.
As informações angariadas pela BBC também relataram que havia tensões internas entre a TSG Consumer Partners, fundo de investimentos que é dono de 22% da Brewdog desde 2017, e a cervejaria.
Documentos revelam que havia um descontentamento da TSG com aspectos de como a Brewdog estava sendo administrada. O fundo estava preocupado com um déficit de lucros e acreditava que Brewdog estava “gastando agressivamente” numa “tentativa desesperada criar histórias de crescimento para alcançar uma avaliação monetária inatingível” e que sua meta de avaliação “não era realista”.
Recentemente a Brewdog relatou que a Goldman Sachs avaliou a empresa em mais de 1,8 bilhão de libras (cerca de 11,7 bilhão de reais).
Sendo montada num negócio de capital muito intensivo, a Brewdog tem um grande foco na expansão de sua rede bares e pertence, além de seus 2 sócios fundadores, ao fundo de capital norte americano TSG Consumer Partners e a 200 mil pequenos investidores chamado de equity punks.
Há alguns anos a Brewdog relata que está se preparando para o chamado IPO, que a operação entrada de uma empresa na bolsa de valores onde a mesma recebe um valor monetário em troca da venda de suas ações.
É um momento de oportunidade de saída de investidores anteriores, como a TSG e os equity punks, que recebem retorno do crescimento ou do prejuízo em relação ao seu momento de compra anterior.
Os documentos da BBC revelam que a Brewdog chegou a cogitar a troca do IPO por uma venda parcial para Heineken, a segunda maior cervejaria do mundo, como forma de manter seu negócio.
O IPO da Brewdog continua sendo especulado e pode vir a a ocorrer ainda neste ano.
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Sobre o autor
Felipe Freitas é analista do mercado de cerveja, engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação pela UFRJ. Fundador e editor do portal Catalisi.