Cervejarias Leuven e Schornstein criam a Companhia Brasileira de Cerveja Artesanal através de fusão e anunciam perspectiva de abertura de seu capital na bolsa de valores

Após anúncio em julho do encaminhamento da fusão para formação da Companhia Brasileira de Cervejaria Artesanal (CBCA), a cervejaria Leuven de Piracicaba (SP) e Schornstein de Pomerode (SC) concretizaram esta semana a operação criando o novo grupo.

A união é um marco importante para duas microcervejarias que expressaram como objetivo se tornarem cada vez mais competitivas focando o mercado de varejo numa visão nacional, o que irá requerer crescimento de escala e racionalização de operações para um ganho conjunto.

A CBCA Brasil está avaliada em aproximadamente 25% a mais do que o valor da soma das duas cervejarias, cuja expectativa de faturamento para o próximo 2020 é de R$ 30 milhões com a produção de 200 mil litros, por mês.

Uma das metas da nova empresa é fugir da lógica de atuação vigente no mercado para a microcervejarias, que é o de crescer em capacidade produtiva em único local. A CBCA apresenta como perspectiva o desejo de crescer de forma capilarizada em diferentes regiões.


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Esse é uma das alternativas para players da cerveja artesanal que desejem ser competitivos em diversas regiões diferentes do país, o que se tornará cada vez mais desafiante com o incremento de competitividade devido ao nascimento e crescimento de novas cervejarias em diferentes locais do Brasil.

“A CBCA nasceu de 11 meses de estudos e negociações. De todas as alegrias que ela traz, duas me deixam mais feliz: a primeira, a possibilidade de formar um time de primeira linha, trazer gente muito boa, de mercado e comprometida com o projeto. A segunda, a convicção de que o projeto está bem fundamentado e trará ganhos relevantes para o consumidor final”. declarou Gustavo Barreira, antigo CEO da Leuven e novo CEO da CBCA em postagem no Linkedin.

Fusão apresenta desafios e potencialidades

A fusão entre as cervejarias apresenta a princípio um bom número de complementaridades, sejam elas por localização e conhecimento de mercado de regiões distintos ou pela própria diferença de trajetória de negócio apresentada pelas duas companhias.


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A Leuven se localiza no sudeste e é um negócio mais recente, fortemente impulsionado pelo seu sucesso em uma série de rodadas de equity crowdfunding (modelo de investimento coletivo inovador) onde angariou mais de 300 sócios e 14 milhões de reais para fornecer fôlego financeiro ao empreendimento.

Já a Schornstein se localiza no sul e possui mais estrada, tendo sido inaugurada em 2006, e possui um ativo com capacidade de produção de maior volume, dimensionado em 300 mil litros por mês (cerca de 5 vezes o da Leuven) e marca mais consolidada que sua parceira piracicabana.

De início, um primeiro desafio provavelmente enfrentado pelas duas companhias foi o de alinhar seus respectivos portfólios para que a atuação conjunta seja consistente e possa impulsionar o que de melhor as duas marcas poderiam complementar entre elas, de forma a obter ganhos em sua cadeia nos ativos regionais e otimizar competitividade nas áreas alcançadas pelo novo grupo.

A perspectiva da CBCA, segundo a empresa, é de que a companhia abra seu capital ao mercado na bolsa de valores até 2024, o que se tornaria um outro marco de representatividade das microcervejarias brasileiras dentro de um contexto ligado ao mercado de investimentos

Fusão das microcervejarias apresenta paralelos no mercado norte-americano

O cenário e perspectivas sinalizados pela CBCA ganham bastante semelhança no modo de como algumas microcervejarias têm buscado competitividade no mercado americano, que, assim como o Brasil, apresenta características territoriais continentais e, por razões diferentes, também passa por um momento de intensificação da competitividade interna.


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Esta conjuntura no mercado norte-americano tem levado a fusões, como a recente apresentada pelas cervejarias Dogfish Head e Boston Beer Company, ou ainda a formação de diferentes coletivos de cervejarias que inovam em modelos de negócio para procurarem atuação conjunta desde a aquisição de insumos até o compartilhamento de ativos de produção e distribuição em diferentes regiões do país.

No caso da CBCA muita sinergia será alcançada e novos desafios certamente serão encarados, pois a perspectiva de integrar negócios e enfrentar um mercado de maior magnitude apresentará para os envolvidos novas dinâmicas ligadas a gestão de uma cadeia que deverá combinar a flexibilidade exigida de microcervejarias com o porte requerido de um mercado do tamanho Brasil.

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Sobre o autor

Felipe Freitas é engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação Tecnológica pela EQ/UFRJ e analista do mercado de cervejas.