Oktoberfest: Cervejarias de Blumenau terão que investir mais de R$ 4 milhões para garantir espaço no evento

Cervejarias de Blumenau disputam oito pontos de venda exclusivos na Oktoberfest 2025, em licitação que soma mais de R$ 4 milhões em investimentos.

A Prefeitura de Blumenau, por meio da Fundação Promotora de Exposições (PROEB), está realizando processo licitatório para seleção das cervejarias que irão operar pontos de venda de chope artesanal durante as próximas quatro edições da Oktoberfest Blumenau (2025 a 2028). Pela primeira vez, a concorrência é restrita exclusivamente a cervejarias com sede e produção fabril no município, o que gerou polêmica no setor.

Somando todos os pontos oferecidos para as microcervejarias locais da cidade no evento o valor requerido para exploração do espaço ultrapassa os R$ 4 mihões. Blumenau possui de acordo com o mais recentes dados do Anuário da Cerveja Blumenau possui 18 cervejarias, sendo o 12º município com mais cervejarias do Brasil.

Ao todo, serão licitados oito pontos de venda distribuídos nos setores 1, 2 e 3 do Parque Vila Germânica, com áreas variando entre 20 e 60 m². Os valores mínimos de remuneração exigidos no edital impressionam: os lotes de maior porte chegam a quase R$ 900 mil por quatro edições da festa, como o Ponto 01 no Setor 01 (60 m²), com lance inicial de R$ 884.688. Já o ponto de menor porte (20 m², Setor 3) exige investimento mínimo de R$ 92.680 para duas edições.

Todos os pontos são voltados exclusivamente para cervejarias locais com capacidade de produção mensal entre 25 mil e 416 mil litros, com exceção de um lote reservado para marcas de menor porte, com produção inferior a 25 mil litros por mês. Além disso, é exigida a comercialização de ao menos três marcas distintas por ponto, podendo chegar a cinco.


Leia mais:

Brasil perto de 2 mil cervejarias: Setor cresce, mas tirmo desacelera


Produção de lúpulo no Brasil triplica em 2023


A decisão de limitar a participação a empresas de Blumenau visa, segundo a prefeitura, fortalecer a imagem da cidade como Capital Brasileira da Cerveja e criar um modelo mais próximo ao da Oktoberfest de Munique, na Alemanha, onde somente marcas bávaras participam. A medida, no entanto, repercutiu entre cervejarias da região que historicamente participaram da festa, mas não possuem fábrica dentro dos limites do município.

A expectativa de retorno financeiro é alta, dado o volume de público da Oktoberfest — que atrai mais de 600 mil pessoas por edição — e o consumo intenso de chope, que movimenta dezenas de milhões de reais. Para as marcas locais, a visibilidade e o posicionamento estratégico no principal evento turístico de Santa Catarina podem representar um salto relevante de faturamento e projeção nacional.

As empresas que entraram na disputa são: Bento Irineu Linhares Cervejaria LTDA, Oma Beer Cervejaria LTDA, Cervejaria Blumenau Indústria e Comércio de Bebidas LTDA, Cervejaria Bierland LTDA, Cervejaria Kirchhoff LTDA, Blumalte Bebidas LTDA (Alles Blau). Todas atendem ao critério técnico mínimo de produção mensal entre 25 mil e 416 mil litros e produção exclusiva em Blumenau. Um dos lotes, voltado a marcas menores, permite participação de empresas com produção inferior a 25 mil litros.

Nova regra está atraindo cervejarias para Blumenau

A nova regra que restringe que a participação da Oktoberfest seja limitada a cervejarias blumenauenses já começa a impactar o cenário local: além de atrair interesse novas cervejarias que estão se instalando em Blumenau para poder participar do evento, também motivou a Bierland — uma das pioneiras do movimento cervejeiro artesanal da cidade — a planejar seu retorno às atividades.

A medida da exclusividade, no entanto, causou controvérsia. Tradicionais participantes da região e até de outras partes do estado ficaram de fora da concorrência, o que levantou críticas sobre o caráter restritivo da licitação. A Prefeitura, por meio da Fundação Promotora de Exposições de Blumenau (PROEB), defende que a decisão segue o modelo de Munique — onde a Oktoberfest é operada por marcas bávaras — e valoriza o título de Blumenau como Capital Brasileira da Cerveja.

Outro fator relevante no cenário é o papel da marca Spaten, da Ambev, patrocinadora oficial do evento desde 2023. Como cervejaria oficial da Oktoberfest Blumenau, Spaten possui exclusividade sobre a maior parte da área de vendas de chope. A participação das artesanais se dá apenas em espaços restritos por meio desta licitação separada.

A atuação de Spaten faz parte de uma estratégia da Ambev de reposicionar a marca no Brasil como símbolo de tradição e conexão com a cultura cervejeira — algo que encontra na Oktoberfest um palco ideal. A Ambev desembolsou R$ 12,5 milhões no contrato de patrocínio de válido até 2026.

Essa configuração de duplo protagonismo — com uma gigante como Spaten ocupando o centro da festa e artesanais locais posicionadas em áreas definidas — evidencia tanto a complexidade do mercado cervejeiro quanto o esforço da administração pública em equilibrar interesses turísticos, arrecadatórios, culturais e comerciais. A Oktoberfest 2025, que marca a 40ª edição do evento, será o primeiro teste real deste novo modelo.

A licitação marca uma nova fase na relação entre a Oktoberfest Blumenau e o setor cervejeiro local, ao mesmo tempo em que reforça uma política pública de valorização do produto regional. Resta saber como o mercado reagirá e quais marcas ocuparão os cobiçados espaços da festa a partir de 2025.

Receba semanalmente o melhor conteúdo sobre o mercado de cerveja

Publicidade
Publicidade

Sobre o autor

Felipe Freitas é analista do mercado de cerveja, engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação pela UFRJ. Fundador e editor do portal Catalisi.