New Belgium, uma das maiores cervejarias artesanais dos EUA, é vendida para a gigante japonesa Kirin

Icônica cervejaria artesanal americana New Belgium, uma das maiores do país, é vendida para a subsidiária da multinacional japonesa Kirin

O ano de 2019 tem sido bastante ativo nos EUA em relação a fusões e aquisições de grandes cervejarias artesanais.

Um novo capítulo dessa história acaba de ocorrer com o anúncio da aquisição da icônica cervejaria New Belgium, quarta maior do país entre as independentes (lista da qual ela deixa de fazer parte) segundo a Brewers Association, pela gigante japonesa Kirin, sexta maior cervejaria do mundo.

A New Belgium Brewing foi fundada em 1991 pela ex-assistente social Kim Jordan e seu então marido Jeff Lebesch. Como rótulo mais famoso da cervejaria está a histórica amber lager Fat Tire. Atualmente ela possui duas instalações de fabricação de cerveja uma em Fort Collins, Colorado e outra em Asheville, Carolina do Norte, além de um loja da marca em Denver.

Fatores muito importantes da história da New Belgium são o seu forte comprometimento com sustentabilidade ambiental, com destaque para investimento em energia solar e a valorização da bicicleta como meio de transporte, e o fato dela ser 100% propriedade de seus 700 funcionários que possuem cotas da cervejaria e receberão um valor financeiro na venda da empresa para a Kirin.

A multinacional japonesa Kirin, através de sua subsidiária Lion Little World Beverages, tem investido de maneira consistente na aquisição de diversas cervejarias artesanais pelo mundo cujo a estratégia inicialmente focou na Oceania e Europa, e agora começa a chegar nos EUA com a compra da New Belgium.


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Porém, a atividade da Kirin no mercado norte-americano não é uma novidade por completo. A empresa detém uma participação minoritária de 24,5% na cervejaria nova-iorquina Brooklyn Brewery, adquirida em 2016.

Globalmente se destacam no portfólio artesanal da Kirin a britânica Fourpure Brewing Co e a australiana Little Creatures, sendo esta última um alvo de investimento da japonesa na direção de ganhar taprooms em diferentes locais do mundo como Califórnia e Londres.

A desaceleração do mercado de cerveja artesanal nos EUA se tornou um desafio para as grandes artesanais

O que parece ser o fim do crescimento acelerado do mercado de cerveja artesanal nos Estados Unidos, que está se confirmando em 2019, se tornou um grande desafio para as cervejarias artesanais de grande porte.

Boa parte da expansão dessas marcas para um perfil nacional se deu sob a tutela das receitas oriundas de um crescimento de consumo acelerado.


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Crescimento acelerado fornece receitas de forma veloz e em grande montante para cervejarias de maior porte e bem posicionadas, dando liberdade para expansões de escala através de variadas formas de financiamento.

Porém, a realidade é que a maturidade para o mercado chegou e de forma global ele cresce numa taxa de 5% atualmente, sendo que para algumas cervejarias especificamente o mercado está se retraindo, como no caso da New Belgium e algumas outras fabricantes mais antigas que possuem menor apelo com o publico jovem.

“Nos EUA, o número de cervejarias quase dobrou nos últimos quatro anos, para 7.500. Na New Belgium, precisamos equilibrar as demandas de caixa de nossos ESOP e acionistas vendedores, com a necessidade operacional de maior capacidade (daí a cervejaria em Asheville) e a necessidade de aumentar nossa marca alcançando mais bebedores de cerveja com a mensagem da New Belgium. Essas são muitas prioridades concorrentes e tem sido difícil fazer todas elas da maneira que gostaríamos.” declarou Kim Jordan num anúncio oficial da página da cervejaria.

A saída tem sido a busca por fusões, aquisições e modelos de negócio coletivos que combinem recursos financeiros, racionalização de operações e perspectivas de algum crescimento, como mostram os movimentos recentes de Samuel Adams, Dogfish Head, Sierra Nevada e agora também da New Belgium.

Dentre essas a New Belgium se destaca por ser a cervejaria adquirida de maior tamanho, muito maior do que a Dogfish Head por exemplo, o que provavelmente cria oportunidades para que a Kirin possa inserir uma parte de seu portfólio nas unidades de produção.

“Ao pesquisarmos o cenário dos últimos anos, descobrimos que as opções para aumentar o capital enquanto cervejaria independente não eram realistas para nós. Algumas das opções mais amplamente utilizadas pelos fabricantes de cerveja artesanal comprometeriam muito o que torna a New Belgium ótima; sustentabilidade ambiental e uma rica cultura interna. Alguns deles levariam ao corte de custos ou à falta de foco na sustentabilidade. Contar com o apoio e os recursos da Lion Little World Beverages, permite atender a essas prioridades concorrentes e utilizar nossa capacidade de cervejaria ao máximo” complementou Jordan em seu anúncio oficial.

O atual CEO da New Belgium Steve Fechheimer continuará em seu posto na cervejaria enquanto Kim Jordan se tornará consultora do conselho da Lion´s Little World nos Estados Unidos.

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Sobre o autor

Felipe Freitas é analista do mercado de cerveja, engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação pela UFRJ. Fundador e editor do portal Catalisi.