A cervejaria Moortgat, hoje Duvel Moortgat, iniciou suas operações no ano de 1871. Em 1918, após o final da primeira guerra mundial iniciou a produção da cerveja ‘Victory Ale’ e a partir de 1923 essa mesma cerveja passou a se chamar Duvel.
Uma cervejaria familiar, a Duvel atualmente se encontra em sua quarta geração e sua atuação nas últimas duas décadas passou a se tornar muito mais internacional com seus produtos, chegando a mais de 60 países. Além disso, marca passou possuir locais de produção em diferentes pontos do mundo.
A Duvel hoje conta com onze cervejarias em vários países: quatro na Bélgica, três nos Estados Unidos, uma na República Tcheca, uma na Itália, uma na Holanda e uma no Reino Unido. O foco da companhia são nas chamadas cervejas especiais e artesanais como a Duvel, La Chouffe, Vedet e Firestone Walker.
Como forma de marcar os 150 anos a Duvel tem feito uma série de lançamentos, como a Duvel 6,66, que chegou ao Brasil recentemente, e também um destilado de edição especial. No último mês a marca abriu sua fábrica na Bélgica para uma festa onde além do público estavam presentes representantes de suas diversas unidades ao redor do mundo.
Leia mais:
Lúpulo brasileiro realiza a primeira colheita de 2021
O que esperar do mercado de cerveja em 2021
Além dos locais de produção, a Duvel conta com parceiros de distribuição espalhados por diversos países. No Brasil, por exemplo. uma série de marcas pertencentes a Duvel, como Firestone Walker, La Chouffe e a própria Duvel possuem importação exclusiva através da empresa Interfood.
A Duvel Moortgart tem implementado nas últimas década um projeto de internacionalização de sua marca, que tem apresentado bons resultados. Com isso, a Duvel tem permitindo sua expansão em diferentes continentes utilizando seus rótulos históricos e também ampliando seu posicionamento com a aquisição de microcervejarias artesanais.
“Seja nas cervejarias Ommegang, Bernard, Achouffe, Liefmans ou De Koninck, sempre preservamos o local de produção. Também reinvestimos nelas, desenvolvemos e melhorámos… Isto é muito importante para nós, porque assim preservamos a autenticidade da cerveja, a sua especificidade, bem como o carácter regional e local da empresa. A cerveja continua sendo um produto relativamente local. Mesmo que ainda haja importação, os belgas bebem principalmente cerveja belga, os holandeses bebem cerveja holandesa etc.” comentou, Michel Moortgat, o CEO da companhia em entrevista ao jornal belga L’Echo.
Até a chegada da pandemia a Duvel estava seguindo um ritmo de crescimento internacional muito grande. Atuando nesta direção os Estados Unidos se tornaram o maior mercado de consumo de seus produtos. A atuação da Duvel nos EUA se iniciou primeiramente com exportações, mas com o crescimento das cervejarias artesanais a belga iniciou uma trajetória de aquisições, primeiramente em 2003 com a Ommegang Brewery e em 2014 com a Firestone Walker, localizada na Califórnia um dos estados cervejeiros mais importantes do país.
“O foco em produções locais não significa que não pensamos em economias de escala. Por exemplo: as garrafas de Duvel, Chouffe, Vedett e Maredsous são todas iguais: isso permite economias de escala na compra e nas linhas de engarrafamento, que são todas dimensionadas para a mesma garrafa … Mas queremos obter economias de escala que faz sentido e que de forma alguma desnaturará uma cerveja ou reduzirá sua qualidade.” comentou Michel Moortgat sobre a visão estratégica da empresa.
A Duvel chegou perto de perder sua gestão familiar, com membros avaliando uma venda para a Heineken nos anos 1990, foi então que Michel Moortgat, junto com dois irmão, realizaram negociações e recompraram ações da maioria dos acionistas da família que desejavam vender a sua parte. Para isso contraíram dívidas de longo prazo a serem saldadas.
Os membros que continuaram com a gestão da empresa projetaram um planejamento estratégico a partir de uma análise que realizaram sobre as ameaças e oportunidades que estavam a frente da companhia. Nisso concluíram sobre a necessidade de internacionalizar o negócio para poder se proteger através da diversificação de mercados onde atuam.
“Percebemos que tínhamos dois pontos fortes que eram também dois pontos fracos : tínhamos uma grande marca, a Duvel, mas éramos muito dependentes dela; tínhamos uma boa participação de mercado na Bélgica, mas também éramos muito dependentes da Bélgica. Portanto, tivemos que reduzir nossa dependência. à la Duvel expandindo nossa variedade de cervejas e acelerando nossa internacionalização” analisou o CEO da Duvel em sua entrevista.
Segundo a Duvel, sua estratégia de crescimento não segue uma lógica do quanto maior, melhor. Havendo alguns limites, que se superados, as vantagens obtidas na escala se tornam desvantagens com processos passando a ser muito mais complexos o que acaba necessitando de controles muito mais engessados para manter um nível de eficiência
“Ainda mais hoje do que antes, qualquer empresa deve manter uma certa flexibilidade, uma certa velocidade de execução. O mundo está girando cada vez mais rápido, então você precisa ser responsivo a eventos e situações. E é mais fácil de fazer em uma estrutura pequena do que em uma grande.”
Nesse sentido o grupo de microcervejarias da Duvel presentes em diversos países trabalham na direção de garantir a flexibilidade e velocidade, além da atuação local desejada pela companhia e combinam isso com compartilhamento de diversos recursos, conhecimento técnico e de gestão presentes na empresa.
Esse funcionamento em rede da Duvel Moortgat amplia o seu nível de competitividade além de promover a diversificação de marcas e de estilos de cervejas, algo fundamental para buscar estar presente dentro do consumo de diversos perfis de bebedores de cervejas de maior valor agregado no mercado atual
“Não somos apenas uma empresa familiar, mas também uma família de cervejarias. São dez cervejarias no grupo e compartilhamos recursos financeiros e humanos, know-how, tecnologia e distribuição. Ajudamos uns aos outros produzindo uns para os outros, se necessário. Em segundo lugar, somos grandes o suficiente para sustentar nossas ambições e, ao mesmo tempo, somos pequenos o suficiente para ser flexíveis e capazes de decidir rapidamente. Atuamos internacionalmente, mas não somos uma multinacional” completou Michel Moortgat de como enxerga o funcionamento da Duvel de hoje.
Receba semanalmente o melhor conteúdo sobre o mercado de cerveja
Sobre o autor
Felipe Freitas é analista do mercado de cerveja, engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação pela UFRJ. Fundador e editor do portal Catalisi.