A crise da Americanas e suas conexões com o mercado de cerveja

Foto: Agência Brasil

O escândalo financeiro da Americanas e seus impactos e especulações relacionados ao mercado de cerveja no Brasil

No meio de janeiro de 2023 veio à tona o escândalo contábil da gigante do varejo Americanas que vem desde então gerado uma série de impactos em credores da empresa que têm buscado assegurar recebimento de valores devidos pela companhia.

O acontecimento possui algumas conexões com o mercado de cerveja uma vez que a Americanas é um ator importante do mercado de varejo, sendo assim representativa para todos que buscam distribuir produtos para o grande público. Além disso, muitas especulações tem sido criadas sobre a Ambev poder possuir algum tipo de problema em seu balanço financeiro por contar com os mesmos acionistas de referência da Americanas, o grupo 3G Capital.

Adicionalmente, a Americanas se tornou também uma referência no comércio online onde além de vendas próprias da empresa ela realiza o serviço de marketplace, servindo de canal para venda de empresas terceiras incluindo cervejarias.

O escândalo da Americanas está ligado a classificação errada de uma operação de financiamento comum no mercado de varejo, o que acabava por gerar balanços financeiros incorretos que não contabilizavam uma série de débitos constantes em sua operação.


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A Americanas divulgou que deve R$ 41,5 bilhões a 7,7 mil credores em lista anexa ao seu processo de Recuperação judicial que garante a companhia um regime diferenciado de pagamento de suas dívidas.

Dos 7,7 mil credores da varejista, 958 são micro e pequenas empresas com dívidas que somam R$ 109,5 milhões

O impacto para pequenas cervejarias

Pequenas cervejarias costumam utilizar a Americanas como cana tanto para o varejo físico como o online, buscando tirar proveito da capilaridade e reconhecimento da companhia com o grande público.

É importante que todas essas empresas que possuem atuação ligada a Americanas acompanhem o desenrolar do processo de recuperação da companhia para gerenciar os impactos sobre seus negócios.

Aqueles que possuem créditos a receber da Americanas devem estabelecer negociação por meio, por exemplo, de notificação extrajudicial, para evitar que grandes empresas não façam valer seus direitos antecipadamente.

Em relação ao marketplace, os vendedores não devem sofrem mudança significativa, uma vez que o recebimento não depende diretamente da Americanas. 

Entretanto, é possível que a repercussão negativa do escândalo traga danos de imagem à marca, e isso acabe por se refletir numa diminuição da escolha do consumidor por compras através dos canais online da Americanas em comparação com seus concorrentes.

A relação entre Americanas e a Ambev

Outra questão que tem ligado a crise da Americanas ao mercado de cerveja seriam supostos riscos da Ambev apresentar algum tipo de risco de fraude em seus balanços assim como a varejista.

As especulações foram levantada em virtude dos acionistas de referência da Americanas, o trio Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, fundadores da 3G Capital, serem fundadores e ainda terem grande participação na holding da Ambev.

Entretanto analistas vêm destacando que o risco de um problema semelhante na Ambev são muito baixos, uma vez que a Ambev não tem exposição a operações de financiamento de fornecedores.

Além disso a Ambev é forte geradora de fluxo de caixa livre, possui sólida dinâmica de capital de giro e um ciclo de conversão de caixa negativo, ou seja, quando a empresa não gasta antes de receber pelo seus pagamentos.

A maior parte da dívida bruta da Ambev está concentrada principalmente na contabilidade de leasing, sendo o restante em empréstimos bancários.

Uma outra diferença existente entre Ambev e Americanas é que o fluxo de caixa operacional da cervejeira é elevado e maior que o lucro ou Ebit [lucro antes de juros e impostos]. No caso da Americanas, o fluxo de caixa foi negativo a maior parte do tempo, apesar do Ebit ou lucro serem positivos em alguns momentos.

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Sobre o autor

Felipe Freitas é engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação Tecnológica pela EQ/UFRJ e analista do mercado de cervejas.