O que esperar do mercado de cerveja em 2023

Foto: Catalisi

Mercado de cerveja no Brasil em 2023 será marcado por menor impacto da pandemia e novas oportunidades em diferentes segmentos

Após 3 anos com reduções gradativas dos efeitos da pandemia da Covid-19, 2023 será o primeiro ano de calendário completo onde os efeitos da pandemia não devem impactar o mercado de cerveja, que poderão incluir todas as ocasiões de consumo da bebida de Janeiro a Dezembro.

Ao mesmo tempo, mudanças no mercado de cerveja no Brasil estão aos poucos alterando diferentes pontos do cenário tanto a nível nacional, principalmente em relação as grandes cervejarias, como também regionalmente de forma mais nichada em relação as microcervejarias com atuação local.

Cenário global para o mercado de cerveja

A pandemia da Covid-19 tem saído de cena apesar de focos de resistência da doença em persistirem em diferentes regiões do mundo, após os últimos 3 anos terem sido impactados pela dificuldade ou até mesmo impossibilidade de diferentes ocasiões de consumo no mercado de cerveja fora de casa e o que acabou impulsionando as vendas online da bebida.

Por outro lado, uma questão global que gera impactos com alguma relevância no mercado de cerveja, e que se manterá aparentemente ativa no novo ano, será o conflito entre Rússia e Ucrânia que tem elevado os preços de fretes marítimos e aumentado a oscilação no preços de grãos, além de gerar também volatilidade no preço de combustíveis.


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De forma geral, este cenário contribui para um perspectiva de inflação que pode trazer uma maior pressão de custos sobre a economia, o que acarreta um alto nível de taxas de juros que dificultam novos investimentos e quitação de dívidas, fatores estes cujos os impactos as cervejarias e demais participantes do mercado terão de manter sob controle na sua gestão.

O mercado de cerveja no Brasil para as grandes cervejarias em 2023

Enquanto duas fábricas de grandes cervejarias estão em construção e só entrarão em operação nos próximos anos, o mercado para grandes cervejarias está se modificando com investimento de novos entrantes e busca de ampliação de competitividade de antigos participantes.

A Heineken Brasil que soube capitalizar sobre o crescimento do segmento premium no país nos últimos anos tem promovido ajustes de portfólio e defende sua fatia enquanto constrói uma nova fábrica em Minas Gerais que aumentará de forma mais consistente sua capacidade de oferta mas que pode entrar em operação apenas em 2025.

A espanhola Estrella Galicia é a outra grande que está investindo em uma fábrica no país, a sua primeira fora da Espanha e que já poderá contar com operação em 2024. Para buscar aumento de sua participação no Brasil a empresa, que pertence ao grupo Hijos de Rivera, conta com parceria de engarrafadoras da Coca Cola, outro player que passou a investir no mercado de cerveja brasileiro com a aquisição da cerveja Therezópolis.

O mercado para as grandes cervejarias nos últimos anos passou por um grande crescimento na diversificação de portfólio, o que pôde ser observado na quantidade de lançamentos que rondam o segmento premium. Provavelmente 2023 será um ano de menor entrada de marcas e busca do aumento de resultados das já existentes.

A Ambev tem se destacado no mercado recente por conseguir navegar nesse cenário através de tecnologia digital para gestão de sua cadeia e também para abertura de oportunidades como provedora de serviços, fazendo uma ponte entre empresas e pequenos comércios.

O mercado de cerveja para microcervejarias no Brasil em 2023

O crescente mercado para microcervejarias no Brasil ainda apresenta muito espaço para construção de público consumidor, diversificação em modelos de negócio e níveis de escala nas mais diferentes regiões do Brasil, levando-se em conta o momento e cenário local num país tão diverso.

Enquanto regionalmente no último ano se observou muito crescimento em escala, principalmente de cervejarias mais antigas, num cenário onde os juros apresentam um patamar de dois dígitos esse movimento tende a se encolher.

Por outro lado, a migração e investimento de novas marcas num modelo de venda direta local ainda apresenta um horizonte com boas perspectivas de expansão, requerendo um nível menor de investimento – entre R$1 e R$2 milhões – e margens mais atraentes.

Uma série de cidades, como Maringá no Paraná e a capital do Rio de Janeiro, por exemplo, ganharam recentemente legislação que busca fortalecer a presença de microcervejarias através principalmente de desburocratização e de isenções fiscais. Essas leis se implementadas com sucesso ajudam a reduzir barreiras importantes para o crescimento de pequenas cervejarias locais

As cidades de São Paulo e Porto Alegre são dois bons exemplos de como o mercado de venda direta para microcervejarias apresentou crescimento e diversificação, e mesmo estes locais ainda apresentam possibilidades para cervejarias que consigam se instalar em pontos interessantes e se posicionar de forma atraente.

Para microcervejarias mais concentradas em distribuição o cenário de inflação será um grande desafio devido as menores margens deste mercado e a crescente disputa de prateleiras com marcas das grandes cervejarias que contam com um portfólio extenso e com preços logicamente mais competitivos do que as pequenas.

Muito provavelmente a migração das mircrocervejarias para criar e fortalecer vendas diretas, que além disso abrem oportunidades para uma relação mais profunda da marca com o consumidor, será um movimento que deve ganhar mais força nas diferentes regiões do Brasil em 2023 e nos próximos anos.

Uma estratégia que deve ganhar muita força pela sinergia de negócios neste caso é a criação de espaços colaborativos entre cerveja, comida e alguns outros produtos que compartilham o espaço e custos. Um exemplo disso é a expansão em diferentes regiões do país dos chamados “food hall”.

O sucesso deste tipo de modelo está ligado principalmente ao nível de qualidade de produto e serviço das empresas que estabelecem a parceria, bem como o nível de comprometimento entre as mesmas, o que pode ser expresso através de contratos bem elaborados.

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Sobre o autor

Felipe Freitas é engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação Tecnológica pela EQ/UFRJ e analista do mercado de cervejas.