Na última semana a cervejaria Lagos, localizada no município de Saquarema, na região dos lagos do estado do Rio de Janeiro, anunciou o lançamento de sua marca própria chamada de Enseada.
O anúncio da Lagos aponta uma importante mudança de estratégia da cervejaria que foi concebida para uma atuação dedicada a produção terceirizada, atendendo às chamadas cervejarias ciganas, papel quem vem desempenhando desde sua inauguração em abril de 2017.
O Rio de Janeiro, em especial a sua capital, se tornou uma das maiores regiões em quantidade de cervejarias ciganas. O mercado local recebeu ao longo dos últimos anos uma profusão de marcas muitas delas entrando e saindo do negócio de forma acelerada, dado a inexistência de grandes barreiras de acesso a este modelo.
Talvez por perceber essa demanda por cervejarias com necessidade de terceirizar a produção uma série de fábricas brotaram no estado do Rio com foco exclusivo na produção para ciganos nos últimos tempos, entre elas se destacando a Lagos que foi eleita em pesquisa da revista Veja com uma das referências deste tipo de produção.
Essas fábricas apostaram num modelo onde o foco é a produção do líquido, enquanto a construção de marca e comercialização do produto ficam a cargo dos terceirizadores, que têm a incumbência de agregar o último elo da cadeia para a chegada do produto ao mercado consumidor.
Leia também:Cervejarias ciganas do Rio investem em taproom containers
Alguns obstáculos que se apresentaram para o pleno funcionamento deste sistema recentemente foram uma menor taxa de crescimento na região do público consumidor e a inconsistência de volume de produção de algumas cervejarias ciganas, somadas a maior oferta de fábricas com espaço de produção.
A soma de fatores deste cenário parece ter levado a Lagos a redesenhar seu modelo e agregar o último elo da cadeia a seu negócio, ao menos parcialmente, uma vez que uma parcela de seu espaço de produção continuará destinado às ciganas.
A fábrica com capacidade de produção de 100 mil litros mensais investiu numa marca própria a qual foi batizada de Enseada e apostará na alusão a uma temática litorânea, aproveitando o clima de sua localidade de produção em Saquarema.
A decisão da criação de uma nova marca, ao invés da utilização da marca da própria fábrica, pode ser acertada, pois desta forma os produtos desenvolvidos ganharão uma folha em branco para sua trajetória não trazendo associações com o modelo que era dedicado apenas à produção, cujo o planejamento não previa a construção de apelo ao consumidor final.
Entre os atrativos do novo posicionamento da Lagos estão o maior controle sobre o planejamento de sua produção que dependerá menos de fatores externos relacionados aos seus terceirizadores e também agregar parte da margem final de venda, que por sua vez exige esforços e custos relativos a marketing e comercialização, que nunca foram o foco da empresa.
“A Cerveja Enseada nasce sob o sol do Rio de Janeiro, com muito orgulho, mas em breve será encontrada nos pontos mais bacanas do Sudeste, com preços bem mais acessíveis do que a média das cervejas artesanais brasileiras, em barris de chope e nas embalagens 355ml e 500ml. Nossa proposta é levar a cerveja artesanal com maior frequência para a vida das pessoas que têm o paladar sofisticado.” comentou Marcelle Lopes, diretora comercial da Cervejaria Lagos.
A Enseada já nasce com um portfólio amplo, tendo uma linha básica constituída por três rótulos (Pilsen, Hoppy Lager, Witbier) e outros seis sazonais contendo uma Kveik APA, duas versões de session IPAs e três sours, sendo uma delas notas notas defumadas.
Os rótulos sazonais foram criados exclusivamente para o lançamento da marca que ocorrerá nesta semana no festival Mondial de la Biere Rio, onde a Enseada contará com estande de 18 metros quadrados no armazém 3 do Píer Mauá.
Na sua nova estratégia a Lagos permitirá que seus tanques, acostumados a receberem exclusivamente parceiros ( a fábrica recebeu mais de 50 marcas desde sua inauguração), sejam abrigo de um residente que morará lá para sempre.
Receba semanalmente o melhor conteúdo sobre o mercado de cerveja
Sobre o autor
Felipe Freitas é analista do mercado de cerveja, engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação pela UFRJ. Fundador e editor do portal Catalisi.