Lúpulo brasileiro inicia a sua trajetória comercial através de empreendedoras do Rio

Empreendedoras responsáveis pela lúpulos Ninkasi, da região serrana do Rio de Janeiro são as primeiras a comercializar espécies de lúpulos brasileiros com autorização do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento.

Viveiro de Teresópolis é o primeiro do país a ter autorização do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para produção e comercialização de mudas de lúpulos brasileiros.

O mercado da cultura do lúpulo brasileiro e o uso do seu produto no país deram um grande passo em novembro de 2018.

O Viveiro Ninkasi, de Teresópolis, região serrana do Rio de Janeiro, se tornou o primeiro no Brasil a ter autorização do MAPA para produção e comercialização de cinco variedades de mudas de lúpulo no país (mudas estas que cumpriram todo o processo de registro no RENASEM/MAPA visando garantir a identidade do material propagativo e seus atributos de qualidade para uma produção sustentável).

O lúpulo é um vegetal originário do Hemisfério Norte onde a baixa temperatura e a incidência solar são propícias à cultura. Sua adaptação ao clima do Brasil é bastante difícil, principalmente por nossa latitude ser baixa. Logo seu desenvolvimento em terras brasileiras requer cuidados e dedicação adicionais, sendo o sucesso desta empreitada fundamental para a indústria cervejeira nacional.

Para isso, o Viveiro Ninkasi, de Teresa Yoshiko e sua família, se dedicou à produção de mudas de cinco cultivares, entre elas, americanas, inglesa e alemã. Segundo Teresa, para que o viveiro conseguisse essa tão sonhada primeira autorização do ministério para produção e comercialização legal foi necessário um alto investimento em estrutura e equipamentos com know how de produção de mudas.

“Conheci a planta há dois anos e, desde então, tenho pesquisado. Me apaixonei pela cultura do lúpulo e, durante um ano foi só estudo , conhecimento e planejamento. Só depois iniciei a parte de construção do viveiro. Comecei minha carreira há 26 anos e, sendo produtora de mudas, usei todo o meu conhecimento para conseguir mudas de lúpulo de qualidade. A tecnologia usada no viveiro é inédita no mundo e sabemos de nossa responsabilidade de garantir a qualidade inicial. Daqui depende todo o sucesso da produção. Tenho ciência de que se conseguir isso, estou garantindo o sucesso de uma nova matriz agrícola para o meu estado”, explicou Teresa.

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Todo o trabalho de pesquisa e produção no Viveiro Ninkasi nos últimos meses foi pensado para se obter qualidade e valor de mercado nas mudas de lúpulo. Ana Claudia Pampillon, é responsável pela parte de comercialização da Ninkasi. Ela auxilia Teresa Yoshiko conversando com o mercado e buscando para os produtores a colocação perfeita para suas produções.

“O produtor é parte fundamental para o fomento da cultura nesse momento. É de extrema importância a aproximação das cervejarias com os produtores para que a sinergia entre essas duas pontas possa fomentar a economia dessas regiões onde serão implantadas essas fazendas. Esse é o meu papel: pegar na mão dos produtores e das cervejarias para que eles caminhem e cresçam de maneira organizada”, declara Ana.

Paralelos entre o desenvolvimento do lúpulo brasileiro e do norte-americano.

O início da história do lúpulo brasileiro encontra semelhanças com o desenvolvimento da indústria do lúpulo americano. Variedades como o hoje famoso Cascade foram fruto de investimentos de agências governamentais americanas no início dos anos 1960, encontrando comercialidade apenas nos anos 1970 e conferindo ao mercado americano de cervejas uma assinatura sensorial que posteriormente se espalharia pelo mundo.

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Tal como lá, um pouco de incredulidade no início tem feito parte parte do processo de desenvolvimento dos lúpulos brasileiros, devido principalmente a história secular dos lúpulos europeus que são a matriz da utilização comercial de lúpulos no mundo e tidos como referência para a indústria.

“Alguns mestres cervejeiros mais antigos, ao ouvir falar de lúpulos brasileiros, ficam um pouco incrédulos no início, mas após conhecer o nosso lúpulo e todo o seu desenvolvimento acabam ficando encantados” diz Ana.

A tropicalização do lúpulo brasileiro será a chave do sucesso

A autorização do MAPA para produção e comercialização de mudas conferida ao Viveiro Ninkasi significa uma nova oportunidade para as cervejarias do país: a produção de cervejas com lúpulos legalizados e tropicalizados.

O processo de tropicalização destas culturas leva tempo, e seu desenvolvimento levará a espécies cada vez mais adaptadas e mais produtivas. Atualmente cada muda plantada têm rendido 250 gramas de lúpulo. O projeto da Ninkasi foi iniciado com o plantio de mudas em 7 fazendas.

“A tropicalização destas espécies requer tempo e para o sucesso do plantio é fundamental a gestão correta da plantação, já vimos casos de insucesso devido a deficiências neste processo. O aprendizado a partir da experimentação decorrente do trabalho inicial realizado têm sido muito importante para adaptarmos o conhecimento existente a nossa realidade de clima e solo” declara Ana.

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Sobre as características sensoriais do vegetal Ana comenta da singularidade do terroir das variedades nacionais. “Nosso lúpulo adquire características de culturas com produções adjacentes a ele, já verificamos isso com manga e goiaba por exemplo”.

Neste sentido, a produção do Viveiro Ninkasi vai abrir possibilidades até então inexistentes para as cervejarias brasileiras, que poderão utilizar lúpulo fresco e em flor legalizados. Hoje, o produto importado geralmente é de safras antigas e costuma chegar beneficiado em formato de pellet.

A Ninkasi é a primeira empresa autorizada a vender mudas com garantia de procedência e das características do lúpulo produzido como o “Cascade Brasileiro”. “Isso é o fruto de um trabalho extenso com uma série de visitas que a Teresa fez ao MAPA em Brasília ao longo de 2 anos” finaliza Ana.

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Sobre o autor

Felipe Freitas é engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação Tecnológica pela EQ/UFRJ e analista do mercado de cervejas.