Novas abordagens do mercado de cerveja sem álcool, com destaque de marcas artesanais, têm ganho muito espaço pelo mundo, em especial em mercados de consumo mais maduros como EUA e principalmente Europa. Esta tendência tem como um dos grandes focos reverter a percepção comum de que cervejas sem álcool são produtos sem um sabor diferenciado.
O investimento no desenvolvimento de novas marcas de cervejas de baixo ou nenhum teor alcoólico reflete tanto o crescimento de novos perfis de consumo quanto a busca de nichos que até então não haviam recebido atenção do mercado de cerveja e que crescem em um ritmo acelerado.
De forma interessante, algumas microcervejarias brasileiras começaram também a investir no nicho de cervejas sem álcool, algo que já havia sido apontado como uma possível tendência pela Catalisi no começo do ano.
Este nicho, que está ainda numa fase muito inicial no mercado brasileiro, apresenta uma série de desafios relativos a construção de seu mercado consumidor, mas possui um bom potencial de crescimento e desenvolvimento no longo prazo no Brasil.
Entre as marcas que investiram em lançamentos nesse sentido estão a cervejaria Dádiva de Várzea Paulista (SP) com uma Golden Ale, a Leuven de Piracicaba (SP) que passou a contar com duas opções sem álcool, uma American Wheat e uma Fruit Beer e também a mineira Wals, pertencente a Ambev, que lançou a Session Free, uma Session IPA sem álcool.
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Ao se pensar em cerveja sem álcool a partir de um olhar tradicional, se imaginam produtos que são versões de menor valor agregado dos seus correlatos com conteúdo alcoólico, que seriam apenas consumidos em caso de uma restrição de ingestão de álcool.
Enquanto a restrição de consumo de álcool (gestação, direção de automóveis entre outros) realmente ainda se mantém como uma variável importante como direcionador de consumo de cervejas sem álcool, o valor agregado sensorial de aroma e sabor é um dos diferenciais que têm se estabelecido entre novas cervejas sem álcool que estão sendo lançadas pelo mundo.
Esses novos atrativos sensoriais tem sido alcançados graças a evolução de tecnologias que permitem tanto uma retirada de álcool da cerveja com menores prejuízos ao sabor e aroma quanto técnicas com uso de microorganismos capazes de fermentar com produção de quantidades muito baixas de álcool.
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Outro ponto de alavancagem no mercado ao se avaliar o contexto brasileiro é a potencial de adesão a esses produtos do público fortemente ligado a vida saudável e atividade física, que em boa parte não estabelece relação de consumo com cervejas de maior valor agregado tanto em relação ao líquido quanto a marca.
Um terceiro fator importante ao se avaliar o público potencial das cervejas sem álcool é a tendência das gerações mais recentes consumirem menos álcool que as anteriores, fato este que tem sido percebido em diversos locais pelo mundo e tem aberto oportunidades para bebidas sem álcool crescerem e ganharem maior status recentemente, entre elas estão não só a cerveja, como drinks e até mesmo – de forma surpreendente – destilados como reportou o portal GQ.
Com certeza as primeiras apostas no mercado sem álcool no Brasil necessitarão de ajustes de trajetória, principalmente porque o público usual de cervejarias artesanais representa apenas parcialmente os consumidores potenciais dessa bebida.
Porém, como demonstram as iniciativas recentes de grandes players como Heineken, Brewdog, Brooklyn e até mesmo a tradicional Leffe, os espaços estão abertos para a construção deste novo nicho do mercado que busca sabores e baixos teores alcoólicos
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Sobre o autor
Felipe Freitas é analista do mercado de cerveja, engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação pela UFRJ. Fundador e editor do portal Catalisi.