Os desafios de duas novas cervejarias comandadas por mulheres

Duas cervejarias de diferentes lugares do Brasil mostram como é inspirador e importante a presença de mulheres no mercado da cerveja artesanal

O mercado de cerveja precisa ter maior participação de mulheres, este é um tema onde praticamente todos os já envolvidos tendem a concordar, em especial quando falamos das cervejarias artesanais onde majoritariamente negócios são comandados por homens.

O perfil pouco diverso no comando de cervejarias faz com que as próprias marcas apresentem um repertório muito semelhante de discurso, o que acaba por limitar o interesse de muitos novos consumidores que não se identificam com o posicionamento do perfil dominante existente no mercado.

Duas novas e pequenas cervejarias, criadas e lideradas por mulheres, uma na Paraíba e outra em São Paulo, mostram que há iniciativas para que este cenário possa ser modificado.

Experiências diferentes, mas com várias semelhanças, mostram como o envolvimento de mulheres com o comando de novas cervejarias é possível e trabalhos interessantes podem ser iniciados a partir disso o que é fundamental para produzir um mercado mais diverso o que acaba por se refletir diretamente numa ampliação de interesse do público


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Tanto a Femme Cervejaria de Campina Grande na Paraíba, quanto a Bem-Te-Brew de Ribeirão Preto em São Paulo são cervejaria ciganas com produção bem pequena iniciada por mulheres que se interessaram por iniciar uma marca de cerveja levado pelo interesse pela bebida combinado a formações muito associadas a produção de cerveja.

Ranny Freire, fundadora da Femme é mestre em Engenharia Química e Vanessa Loria a idealizadora da Bem-Te-Brew é farmacêutica bioquímica e o conhecimento técnico relacionado ao mundo da fermentação e processos de produção ajudaram a reduzir as barreiras no interesse de iniciar suas próprias cervejarias.

Não por isso as duas cervejeiras deixam de perceber as dificuldades de mulheres conseguirem entrar e se manter neste mercado.

“Durante algumas negociações da cervejaria percebi que as pessoas buscavam ganhar vantagens nas tratativas comigo, o mesmo não acontecia quando a negociação ocorria com o meu sócio. Todos os dias busco me tornar uma mulher mais firme em meus posicionamentos.” comentou Ranny sobre a sua experiência.

“Até agora em minha trajetória, só cruzei com pessoas que me ajudaram muito. Mas me considero um ponto fora da curva, por me deparar com tantos relatos de mulheres que sofreram e ainda sofrem muito para se desenvolverem dentro desse mercado.” disse Vanessa sobre como tem sido sua experiência na Bem-Te-Brew.

Cervejarias criadas por mulheres inspiram outras mulheres

O mundo da cerveja artesanal é feito em boa parte através de um maior contato entre quem faz e quem consome. Nessa troca a presença da liderança de mulheres nas etapas de concepção dos produtos e no contato com o público auxilia muito na formação de um público feminino mais engajado por identificação com diversos pontos da marca e da trajetória das criadoras.

“A própria escolha do nome “Femme” e da marca reforçam essa diferença, aqui somos um time bastante criativo e preocupado com a mensagem que queremos transmitir. Estamos sempre atentos não só em crescer, mas em levantar outras mulheres junto. Somos mais que um cervejaria, queremos escrever uma bonita história.” comenta Ranny.

“A pegada do perfil da Bem-te-Brew complementa a proposta dos estilos de cervejas, e traz a mensagem de ser uma marca leve, com certo humor, descontraída. Não acho que a Bem-te-Brew seja diferente por ter uma mulher no comando, mas sim pelo simples fato de querer ser diferente.” avalia Vanessa.

A surpresa é um elemento em comum mencionado pelas fundadoras das duas cervejarias no contato com as pessoas mostrando que há longo caminho a ser percorrido no entendimento das pessoas de que mulheres também podem estar nesta posição.

“Quando expomos nossos produtos em feiras e eventos é perceptível a surpresa de algumas pessoas quando menciono que além de gerir a cervejaria como um todo, as receitas das cervejas são minhas. Algumas vezes essa informação só parece ganhar credibilidade quando menciono que possuo mestrado em Engenharia Química.” disse Ranny sobre o contato com o público.

“Quando me perguntam quem toma a frente da marca e digo que sou eu, ficam tanto surpresas quanto entusiasmadas por verem uma mulher empreendendo com cerveja! Além disso, sinto que as mulheres se sentem mais representadas e contentes por me verem à frente da Bem-te-Brew.” comentou Vanessa mostrando como inspirador ver mulheres liderando cervejarias.


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Sobre o autor

Felipe Freitas é analista do mercado de cerveja, engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação pela UFRJ. Fundador e editor do portal Catalisi.