A multinacional AB InBev anunciou nos EUA a compra da parcela restante das ações da Craft Brew Alliance (CBA), empresa que reúne um série de microcervejarias norte-americanas entre elas a Widmer Brothers, Redhook e a Kona Brewing Co. A AB InBev já possuía 31,2% da CBA o que, desde então, tornou suas marcas inelegíveis para a definição de cerveja artesanal da Brewers Association.
O movimento de compra da CBA surpreendeu em parte o mercado, uma vez que a multinacional havia recusado um direito de aquisição da empresa por um valor pré-combinado com data limite para agosto deste ano. Esta recusa levou a AB InBev a pagar uma multa de 20 milhões de dólares prevista como parte do contrato.
Na verdade o movimento de recusa da compra da CBA e pagamento da multa se mostrou positivo para a AB InBev, uma vez que nos meses seguintes as ações da CBA (que possui capital aberto na bolsa de Nova Iorque) apresentaram queda e a compra atual pelo preço de mercado (US $321 milhões) representou uma economia estimada em 157 milhões de dólares, comparada ao preço do direito de compra recusado em agosto.
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A aquisição da CBA traz para o portfólio do conglomerado AB InBev mais sete marcas: Kona Brewing Company, Widmer Brothers Brewing, Redhook Brewery, Wynwood Brewing, Cisco Brewers de Massachusetts, Appalachian Mountain Brewery e Omission Brewing Company, com isso a multinacional chega a número de 18 marcas de cerveja artesanal adquiridas nos EUA, sendo que a última havia sido a Platform Beer em agosto deste ano.
Já com a antiga participação minoritária da AB InBev, as marcas da CBA ganhavam o benefício de utilizar instalações da multinacional e acessavam a rede de distribuidores dela, agora com a aquisição definitiva algumas destas estratégias devem ser consolidadas.
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Dentro das marcas adquiridas da CBA existem produtos além da cerveja como o hard seltzer, de grande expansão recente nos EUA, e ainda uma incubadora de inovações chamada de pH Experiment que deverá trabalhar em cooperação com a ZX Ventures. Porém, a grande razão para a aquisição da CBA pela AB InBev se chama Kona Brewing e isto possui uma grande relação com o Brasil.
Enquanto algumas marcas da CBA como Widmer Brothers e Redhook estão em grande retração e correm risco de serem descontinuadas, a Kona Brewing é um grande caso de sucesso com crescimento de vendas no varejo de 11% nos três primeiros trimestres de 2019, sendo uma das poucas marcas americanas a conseguir crescer em 2 dígitos no mercado. A produção da Kona é projetada em 64,5 milhões de litros para 2019, o que corresponderia a uma das marcas top 10 da Brewers Association.
A imagem associada ao Havaí e o clima de eternas férias produzidos pela Kona parecem ter seduzido um público bastante amplo e uma grande aposta da AB InBev é para que este movimento seja reproduzido no Brasil.
As cervejas da Kona ganharam distribuição no Brasil através da Ambev no início de 2016. Este posicionamento ganhou um reforço recente com anúncio da CBA de que a Kona Big Wave (Golden Ale) passou a ser fabricada nas instalações da Ambev no Rio de Janeiro e a marca têm recebido investimentos de marketing para que a capital fluminense se torne um ponto de expansão da Kona pelo Brasil.
A ação está bastante alinhada com esforços da Ambev de reforçar competitividade de seu portfólio artesanal próximo do chamado segmento premium e também com o objetivo da holding de tornar a Kona uma marca internacional onde o conglomerado já relatou que o Brasil se tornará um modelo para a expansão da marca em outros mercados internacionais.
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Sobre o autor
Felipe Freitas é analista do mercado de cerveja, engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação pela UFRJ. Fundador e editor do portal Catalisi.