Cerveja colaborativa solidária mundial da cervejaria americana Weathered Souls ganhou diversos participantes no Brasil fortalecendo a cultura afro.

Um dos grandes desenvolvimentos do mercado de cerveja artesanal norte-americano que inspirou o mundo foi conseguir resgatar numa versão contemporânea a capacidade da cerveja se transformar num produto de expressão sócio cultural.

Em 2020, provavelmente, mais que em qualquer outro ano questões sociais estamparam os rótulos de pequenas cervejarias nos mais diversos lugares e a luta contra o racismo também esteve entre elas, onde o projeto colaborativo da cerveja Black is Beautiful iniciado pela cervejaria norte-americana Weathered Souls foi o exemplo de maior repercussão.

Criado pela cervejeiro da Weathered Souls, Marcus Baskerville, que como negro e dono de um negócio frequentado majoritariamente por pessoas brancas sentiu a necessidade de comunicar ao seu público sua frustração por toda violência que ao longo do tempo pessoas negras tem sofrido devido ao racismo existente na sociedade, e que ganhou casos de repercussão em 2020

Nós apenas arranhamos a superfície. Com 8.500 cervejarias apenas nos EUA. Podemos continuar a divulgar a mensagem do Black Is Beautiful e esperar que ela continue a se espalhar.

Marcus Baskerville, cervejaria Weathered Souls

Então a cervejaria decidiu dar um passo além e convidou toda indústria cervejeira a se juntar na tentativa de conscientizar as pessoas sobre as injustiças que muitas pessoas negras enfrentam diariamente, e chamar a atenção para importância de que a comunidade cervejeira seja um lugar inclusivo, chamando cervejarias e consumidores de todo o mundo a participarem.


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A participação do projeto vincula em seu convite à produção da receita de uma Imperial Stout e a doação de 100% de seu lucro a entidades locais que lutem por equidade e inclusão racial

Até o momento 1.192 cervejarias de diferentes lugares do mundo se juntaram produzindo sua própria versão da Black is Beautiful incluindo grandes nomes como as americanas Goose Island, Boston Beer, Dogfish Head e a britânica Brewdog.

“O impacto foi incrível até agora. Com o número total de cervejarias envolvidas, mudando-se para vários países e beneficiando várias organizações. Você pode ver que essa iniciativa está dando certo” disse Marcus Baskerville numa conversa com a Catalisi.

Marcus Baskerville. Foto: Kevin Hobbins

No Brasil, país que possui relação entre histórico colonial e discriminação racial semelhante aos EUA, uma série de cervejarias de diferentes locais aderiram ao projeto e criaram as formas de doação para vários tipos de entidades e de promoção de discussões sobre a importância da busca de equidade racial.

Quantas pessoas pretas você conhece que são donos de bar, cervejaria ou frequentam este ambiente de cerveja artesanal? A gente quer promover esse debate com essa cerveja.

Bruno Mesquita, cervejaria Mito
Black is Beautiful da cervejaria Octopus Foto: Instagram Octopus

Participações vieram de Goiás com a cervejaria Lola, de Minas gerais com a cervejaria Sátira, de São Paulo com as cervejarias Dutra Beer, Vinil, Inspetor Sands e Dádiva, do Rio de Janeiro com as cervejarias Alpendorf, Octopus, Paranoide e Mito

Que hoje nos lembremos do respeito e dos direitos que devem existir em todos os outros dias, e da luta ainda necessária para isso acontecer.

Cervejaria Dádiva sobre o dia da Consciência Negra

A cervejaria Paranoide, de Volta Redonda (RJ), gerou um caso bem interessante na sua participação no projeto ao decidir destinar o lucro da venda da cerveja para 5 artistas negros de sua região que foram escolhidas pela cervejaria e por meio de um edital, e a ilustração de um deles, o artista Jader Mattos, foi utilizada no rótulo da Black is Beautiful da cervejaria.

Aqui em Volta Redonda(RJ) diante da pandemia, a gente entendeu que a classe artística foi bastante prejudicada e decidimos doar o lucro obtido com a Black is Beautiful a cinco artistas negros da cidade.

Diogo Amorim, sócio da Cervejaria Paranoide

A iniciativa da Black is Beautiful é um passo entusiasmante e importante na direção de discutir a importância de que o mercado de cerveja seja cada vez mais diverso e inclusivo, mas o que trará mudanças reais serão estratégias e ações sistemáticas ao longo do tempo para que esse mercado cresça e represente de fato a diversidade de sua população local.

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Sobre o autor

Felipe Freitas é engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação Tecnológica pela EQ/UFRJ e analista do mercado de cervejas.