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A Bahia ganhou algumas microcervejarias nos últimos três anos que têm enfrentado o desafio de desenvolver o mercado local.

As microcervejarias baianas têm dado seus primeiros passos para fomentar um mercado local, apresentando o poder da diversidade de estilos de cervejas aliado a construção de marcas que fazem sentido para sua região.

A Bahia possui cerca de 47 cervejarias atualmente. Destas 2 pertencem a grandes grupos (uma da Heineken e outra do Grupo Petrópolis) localizadas na cidade de Alagoinhas, as outras 45 são de pequenos ou até nanoprodutores distribuídas por diversos locais, mas com destaque para a cidade de Lauro de Freitas que conta com 16 dessas microcervejarias.

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Pode se dizer que o cenário do mercado baiano, ao se focar nas microcervejarias, acaba por receber influências do mercado do sudeste e também de seus pares do nordeste dado a posição geográfica e estágio de desenvolvimento inicial do mercado.

O maior estado nordestino enfrenta também os obstáculos inerentes a realidade nacional, mas pode tirar proveito em adaptações locais de estratégias de negócio já aplicadas com sucesso em outras regiões do Brasil. Fato este que deve se repetir em diversas localidades pelo país.

Pioneiros, cervejarias ciganas, fábricas de maior porte e expansão para fora dos grandes centros são algumas das variáveis que têm marcado a construção do recente mercado de cerveja baiano, com o desafio de desenvolver um público iniciante e também estimular consumidores mais experimentados.


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Os desafios de crescimento do público
Foto: Instagram @bahiamalte/divulgação Proa

Uma das pioneiras da cena na grande Salvador é a cervejaria Sotera, inaugurada em 2017 e localizada em Camaçari, que iniciou com volume de produção de mil litros mensais e chegou atualmente ao patamar de 2,5 mil litros por mês, atingindo 35 estabelecimentos.

“O mercado de Salvador vem crescendo, mas o público consumidor não vem aumentando no mesmo nível que o número de cervejarias” declara um dos sócios da Sotera, apontando uma dinâmica que têm se repetido por outras regiões do país.

A APA da marca é o carro-chefe da cervejaria, mas a Sotera acredita que o desenvolvimento de público depende da redução de preço de cervejas mais simples. “Para a formação de público que irá beber cervejas artesanais o principal atrativo ainda é o preço. Se conseguirmos baratear as cervejas mais leves garantindo a qualidade será um grande passo”.

Apesar dos desafios outros atores têm entrado no mercado baiano. O início contou com nomes como a já mencionada Sotera e outras cervejarias como a 2 de Julho e Feih Bier que desbravaram as primeiras paginas do movimento com uma forte ligação com a comunidade de cervejeiros caseiros da região.

Pouco tempo depois, em 2018, o mercado baiano ganhou a Proa Cervejaria, a fábrica de maior volume de produção no momento, com média mensal de 15 mil litros.


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Idealizada pela química Débora Lehnen e com o apoio de um sócio investidor, a Proa agregou experiências prévias de sua fundadora para buscar um modelo de negócios onde já agrega desde o início taprooms próprios, um na fábrica em Lauro de Freitas e outro na capital Salvador.

“Tivemos uma receptividade muito boa nos bares especializados em cerveja artesanal, mas em bares com apelo mais geral existe muita resistência devido a exclusividade dada a grandes cervejarias.” comenta Débora.

A fundadora da Proa destaca a importância dos bares da marca para o negócio “Nossos bares próprios são muito importantes como espaço para a gente mostrar quem a gente é. Neles conseguimos passar muito da nossa essência como marca, e é super importante como um local para educação do público. Esses taprooms são os pontos que tem rentabilizado mais o nosso negócio”.

As cervejarias ciganas também estão no jogo do mercado baiano

Na zona metropolitana da capital Salvador o modelo de cervejaria cigana também tem encontrado seu espaço. Uma das primeiras a utilizar o formato foi a Mindubier, formada por 3 sócios, que iniciou sua produção em São Paulo, mas atualmente fabrica em Recife na cervejaria Ekäut. O foco de vendas da “Mindu” tem sido a Bahia, mas através de colaborativas levam sua marca para outros estados.

Um dos amadurecimentos apontados por Gustavo Martins, um dos sócios da cigana, foi relativo a distribuição e logística reversa de barris. “Penamos muito para chegar no modelo ideal. Não havia controle, perdemos alguns barris de inox e as vezes nosso custo de entrega era maior que a receita de venda. Até que implementamos rotinas para uma melhor gestão logística que já abrange nosso mercado da Bahia”.


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A cervejaria Amada é também uma das que acreditou no modelo cigano, porém agregando o diferencial de um bar próprio chamado Varanda Amada que conta com tecnologia de auto-serviço. O destaque em vendas da cervejaria é a Dos Santos, uma American Blonde Ale.

“A motivação de escolher torneiras de autosserviço foi fornecer uma nova experiência para o consumidor de cervejas artesanais na Bahia. Este modelo foi pioneiro e proporcionou ao consumidor experimentar a sensação de tirar seu próprio chopp. O modelo tem sido um sucesso. O feedback que temos dos clientes é bastante positivo. Aproximadamente 40-60 % de nossa produção é escoada no nosso bar próprio”. declara Pedro Esteves um dos sócios da Amada.

Mais uma cigana com foco na capital é a cervejaria Água de Meninos, cujo o nome homenageia uma antiga feira local. Os rótulos da cervejaria Ribeira (Rye IPA), Itapuã (Ale, estilo Juicy IPA), Sertão Origem (Ale, estilo Specialty Beer) e Amargosa (Ale, estilo Double IPA), também remetem ao conceito de pertencimento da marca ao estado. A produção da cervejaria têm média de mil litros por mês.

“Temos 4 rótulos com boas vendas e boa aceitação no mercado de cervejas artesanais, estamos com expectativa de crescimento. A Amargosa e a Itapuã são os destaques.” comenta Abdon Menezes um dos sócios da cervejaria.

Nem só de Salvador vive a cerveja baiana
Foto: Site Cerveja na Bahia/ Instagram @tresbarcacas

A interiorização do mercado de cerveja também ocorre no estado e já é um fenômeno de alguns anos como aponta a trajetória da Brutos Beer de Vitória da Conquista há cerca de 550 km da capital.

A Brutos iniciou sua produção em 2016 que é tocada de forma cigana até os dias atuais na cervejaria Capim Branco no estado de Minas Gerais. Com o slogan “Aqui a rapadura não é doce” a cervejaria chama atenção para o uso de rapadura nas suas receitas, como na American IPA, que serve de contra-ponto para o amargor do lúpulo.

Um entrante recente fora da capital é a cervejaria Três Barcaças que se localiza na cidade de Ilhéus, um importante pólo turístico localizado no sul do estado. A cervejaria acaba de ter o processo de construção finalizado e possuirá capacidade de produção de 2 mil litros por mês.

“Nossa fábrica acabou de ficar pronta, fica no distrito industrial de Ilhéus, estamos aguardando agora as últimas licenças. Para ressaltar as qualidades da região teremos alguns rótulos com ingredientes regionais como o cacau” destaca Calleb Oliveira cervejeiro e sócio da Três Barcaças.

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Sobre o autor

Felipe Freitas é engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação Tecnológica pela EQ/UFRJ e analista do mercado de cervejas.