Como selecionar barris de madeira para a produção de cerveja envelhecida? (parte 1)

Barris de madeira adicionam complexidade sensorial a cerveja, mas necessitam ser selecionados com critério para garantir a qualidade da bebida

A utilização de barris de madeira para envelhecimento de cervejas se tornou uma prática recorrente no universo de cervejas artesanais buscando agregar valor através da complexidade que a madeira pode trazer para a bebida, ajudando na criação de produtos com maior grau de diferenciação

Mas como devem ser os cuidados na seleção e no tratamento de barris de madeira para utilização na produção de cerveja? Nesse texto, que será explorado em duas partes, serão abordados diferentes pontos fundamentais para se avaliar a aquisição de barris de madeira de forma que adicionem qualidade à cerveja.

Barris de madeira adicionam complexidade a cerveja através de diferentes processos de transformações dos compostos químicos, e a seleção de barris adequados contribuem para que se garanta que essas transformações ocorram da melhor forma possível.

Madeiras brasileiras, inclusive, permitem a criação de uma assinatura sensorial muito singular, além de agregar uma identidade que pode ser explorada de forma interessante na criação do produto.


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Barris de madeira podem ser adquiridos novos ou já utilizados. No caso dos utilizados o barril já recebeu alguma outra bebida anteriormente e passará a receber a cerveja produzida.

Uma das vantagens de usar barris novos são que, quando são recém-construídos, eles são muito resistentes e estanques, e um barril de boa qualidade pode durar muitos anos. No entanto tendem a ser mais caros que barris usados.

Barris já utilizados e mais velhos podem secar, vazar e se desmontar. Porém, tendem a ser mais baratos e podem trazer a complexidade de outras bebidas já foram envelhecidas neles para agregar à cerveja.

No caso do uso de barris de segundo ou mais usos, por mais que este tipo de prática possa trazer aromas e sabores a bebida, seu uso indevido pode influenciar negativamente na qualidade da cerveja. Sendo assim, é importante ter conhecimento da procedência do barril a ser utilizado.

Nesse primeiro texto serão abordados dois seguimentos da avaliação de barris de madeira a inspeção visual e física e avaliação sensorial que contribuem na avaliação para seleção de barris de madeira de boa qualidade.

Inspeção Visual e Física de barris de madeira
  1. Integridade Estrutural: Verifique se o barril está estruturalmente sólido. Examine se há rachaduras, vazamentos ou deformações. A madeira deve estar intacta e bem selada. Qualquer dano pode comprometer o processo de envelhecimento e introduzir contaminações indesejadas.
  2. Limpeza: A limpeza é crucial. Um barril que tenha sido usado anteriormente pode conter resíduos de bebidas anteriores. É importante que o barril esteja bem limpo, sem resíduos visíveis ou odores estranhos que possam afetar negativamente o sabor da cerveja.
  3. Aroma: O aroma do barril é um indicador importante. O barril deve possuir aroma agradável, preferencialmente com notas da bebida anterior, caso já tenha sido utilizado (como vinho, whisky, cachaça, etc.). Se houver aroma de mofo ou outros odores desagradáveis, isso pode indicar contaminação ou má conservação.
Avaliação Sensorial de barris de madeira
  1. Histórico de Uso: Conhecer o histórico do barril ajuda a prever como ele afetará a cerveja. Barris que já foram utilizados mais de uma vez podem ter menos influência na bebida, enquanto barris mais novos podem transmitir sabores mais intensos. Sendo assim, o histórico do barril deve ser levado em consideração quanto a características finais do produto desejado.
  2. Tipo/espécie de Madeira: Diferentes madeiras adicionam características diferentes à cerveja. Carvalho é o mais comum, mas há outros tipos como cerejeira, castanheira, entre outros. Cada tipo de madeira oferece perfis de sabor únicos, como baunilha, caramelo, especiarias etc.
  3. Preenchimento Anterior: Saber o que foi envelhecido no barril anteriormente é crucial. Barris que contiveram bebidas espirituosas como whisky, rum ou vinho aportam sabores e aromas distintos à cerveja. Escolher o barril certo depende do perfil de sabor desejado.

No próximo texto serão abordados outros elementos importantes na avaliação de barris e como devem ser feitos o pré-tratamento e manutenção dos mesmos.

Sobre as Autoras

Lethicia Corniani – Cientista de alimentos, Mestra e Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos com ênfase em fermentação de bebidas alcoólicas pela ESALQ-USP. Atualmente é Consultora na B Consultoria em Bebidas Alcoólicas e faz parte do grupo As Bárbaras.

Mariana Castro – Biotecnologista, Mestra e Doutora em Ciências e Tecnologia de alimentos. Pesquisou na ESALQ-USP o envelhecimento e qualidade química e sensorial de cachaça. Atualmente é Gerente de P&D na YVY Destilaria. Além disso, é Consultora na B Consultoria em Bebidas Alcoólicas e faz parte do grupo As Bárbaras.

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