O segmento das chamas “cervejas premium” continua trajetória de crescimento no país, o que tem se refletido no aumento do faturamento representado por essa categoria, como revelaram recentemente dados da empresa de pesquisa de mercado Euromonitor
Mesmo com a pandemia, o crescimento das cervejas deste segmento, que apresentam preço superior ao das marcas de massa mais consolidadas no país, continuou sendo ampliado, mostrando um interesse contínuo do público consumidor pela categoria.
A sofisticação do hábito de consumo de cervejas é um processo complexo que requer disposição de gastar mais com o produto para um consumidor da média brasileira, mas que apresenta um retorno para o público que vai se consolidando gradativamente e pode despertar maiores curiosidades sobre a bebida.
Com a pandemia, uma parte dos consumidores migrou para o trabalho remoto e passou a redirecionar uma série de rotinas para dentro de casa. Pessoas que conseguiram manter sua renda preservada neste processo passaram a gastar menos com saídas para bares e restaurantes e puderam utilizar este dinheiro para investir em cervejas de maior valor para o consumo doméstico
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Com isso, o mercado de cervejas premium, que está entre os interesses dessa parte do público consumidor, continuou sendo impulsionado no país nos últimos meses, dando sequência a uma tendência que já ocorria em anos anteriores e não foi cortada durante a pandemia.
Segundo dados da Euromonitor, o volume de cervejas vendido no País em 2020 foi o maior desde 2014, ano em que o Brasil sediou Copa do Mundo. O mercado vinha de anos difíceis, com quedas contínuas de volume entre 2015 a 2018. Além de ter um efeito na quantidade, as quarentenas forçadas também tiveram influência na qualidade, ajudando a acelerar o processo de “premiunização” do setor. As principais empresas estão de olho nesse movimento – e não param de lançar marcas para estimular o paladar de seus clientes.
O faturamento das cervejas consideradas premium cresceu 85% entre 2015 e 2020, para R$ 52 bilhões. A expectativa da Euromonitor é que esse número cresça mais 53,9% até 2025 e alcance faturamento de R$ 80,2 bilhões. Um dos motivos dessa aceleração foi a estratégia de crescimento agressiva da Heineken, em especial ao seu principal produto que leva o nome da empresa.
Com sabor mais amargo do que as cervejas mais comuns presentes no mercado brasileiro, a holandesa rompeu com um estigma de que o público nacional não se interessaria por cervejas que apresentassem um paladar mais intenso e, adicionalmente, pagaria um preço maior por isso.
Com esse “motor de consumo” ativado no Brasil, a disputa por um consumidor com renda disponível e interessado em cervejas que comuniquem maior qualidade e entreguem um diferencial sensorial, que ao mesmo tempo não assuste o seu paladar e provoque um grau de satisfação, tem se intensificado no país
É interessante perceber como o crescimento do mercado de cervejas premium tem provocado também um efeito modificador em outras categorias do mercado e isso pode ser percebido nos movimentos apresentados mais recentemente por diversas cervejarias, desde as gigantes que atuam no cenário nacional até microcervejarias com atuação mais regionalizada.
Na categoria de cervejas intermediárias, onde estão os rótulos de cerveja de maior volume de vendas no Brasil e ainda respondem por mais da metade do mercado total de cerveja no país, está se tornando comum observar a criação de novos rótulos utilizando extensão de marca ou chegada de marcas internacionais que posicionam como uma ligação entre as cervejas de massa e produtos mais sofisticados do mercado premium.
Como exemplos nítidos dessa direção, ocorreram o lançamento de Brahma Duplo Malte e Skol Puro Malte, ampliando o reconhecimento do público de marcas de sua rotina para produtos de maior valor. Esse efeito, na direção de introduzir o público para o segmento premium, também é obtido através da chegada de marcas internacionais trazidas pelas multinacionais, mais recentemente a cerveja Spaten da Ambev e Tiger da Heineken.
Existe uma ponte entre cervejas premium e artesanais, devido a demonstração dos consumidores numa predisposição em pagar maiores valores por produtos diferenciados, e as grandes cervejarias estão explorando isso.
A continuidade do segmento premium para o de cervejas artesanais onde a complexidade se expande devido a uma usual diversidade de estilos e rótulos de cerveja, que também se revertem em diferentes posicionamentos de marca, também tem recebido atenção das grandes cervejarias que tem direcionado suas marcas para realizar este trabalho.
Isso pode ser observado na extensão de produtos criados pelo Grupo Petrópolis para a marca Black Princess, a popularização da marca Eisenbahn pela Heineken e na criação da Ribeirão Lager pela Ambev que criam pontes que os consumidores aumentam sua percepção para um ambiente mais complexo de opções de cervejas de seus respectivo portfólios.
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Sobre o autor
Felipe Freitas é analista do mercado de cerveja, engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação pela UFRJ. Fundador e editor do portal Catalisi.