O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), por meio da Secretaria de Agricultura Familiar e Cooperativismo, e o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) anunciaram que estão desenvolvendo uma cooperação técnica com o objetivo de fortalecer a cadeia produtiva do lúpulo no Brasil.
O aumento da produção de cervejas artesanais no país nos últimos anos fez crescer a demanda por quantidade e variedades de lúpulo, um dos principais insumos da bebida.
Atualmente a produção de cerveja no Brasil depende totalmente de lúpulo importado. Em 2019 a aquisição de lúpulo para o Brasil via importação totalizou 3,6 milhões de toneladas segundo a Associação Brasileira de Produtores de Lúpulo (Aprolupulo).
O projeto iniciado pelo MAPA e o IICA pretende identificar oportunidades de trabalhos, articular parcerias entre atores e entidades governamentais e não governamentais, elaborar materiais de referência, além da implantação de um plano de viabilidade técnica e econômica para o cultivo no Brasil.
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Um levantamento realizado pela Aprolupulo aponta que a área dedicada ao cultivo no país ainda é tímida com 40 hectares (a Argentina, único produtor da América do Sul possui 164 hectares), sendo que a plantação só atinge potencial produtivo a partir de seu terceiro ano;
“Se formos comparar hoje com cinco anos atrás, houve uma grande evolução nessa nova cadeia produtiva no país. Entretanto, ainda é muito recente esse movimento e estamos no início dos trabalhos”, explica o presidente da Associação Brasileira de Produtores de Lúpulo (Aprolúpulo), Alexander Creuz.
O projeto de cooperação realizará o diagnóstico da situação atual do cultivo de lúpulo no Brasil, considerando as iniciativas de produção existentes, as cultivares utilizadas pelos produtores, a situação legal, os trabalhos técnicos já realizados no país por instituições de pesquisa e ensino e o potencial de expansão em território nacional frente aos diversos climas e condições agrícolas existentes.
“O objetivo do projeto é desenvolver subsídios para o fortalecimento de uma cadeia produtiva para o lúpulo de forma sustentável no Brasil, de modo a promover a melhoria de renda ao produtor rural e, consequentemente, aos demais atores da cadeia produtiva”, afirma o consultor do Mapa/IICA, Stefano Kretzer.
Entre as atividades que serão desenvolvidas no projeto estão a elaboração de um plano de viabilidade técnica e econômica para o plantio comercial de lúpulo e a realização de um estudo sobre a estruturação da cadeia produtiva nos principais países produtores, que possam trazer embasamento para o cultivo no Brasil.
E mais, visando apoiar o produtor rural que está iniciando o cultivo de lúpulo, a cooperação vai elaborar e disponibilizar no portal do Mapa um “Manual de Boas Práticas Agrícolas para a Produção de Lúpulo”.
Stefano Kretzer destaca que o cultivo de lúpulo no Brasil está em desenvolvimento e tem grande potencial, em razão das boas condições de clima, solo e da grande extensão territorial. Ele ressalta que é preciso uma base sólida de dados técnicos, pesquisa e tecnologias para se obter um desenvolvimento sustentável.
O projeto prevê ainda a organização de três eventos para disseminação de conhecimentos técnicos a produtores e promover discussões acerca da regularização de viveiros e cultivares.
Além da cooperação técnica, a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) em parceria com a Ambev/Lohn implantou uma unidade de pesquisa sobre o cultivo de lúpulo, na estação experimental de São Joaquim.
A busca do cultivo de lúpulo no Brasil é uma atividade recente e rodeada de desafios devido aos obstáculos de adaptação da planta as condições climáticas presentes no país e a falta de estrutura para desenvolvimento da cadeia.
Lugares como os Estados Unidos, Europa e Nova Zelândia recebem muito investimento de entidades governamentais para para fomentar seu mercado de lúpulo através de financiamentos de pesquisas e desenvolvimento de estratégias para a cadeia da cultura agrícola.
No Brasil, um dos desafios é a falta de equipamentos e tecnologia específica para esse cultivo, segundo Creuz. No país, apenas duas empresas desenvolveram tecnologia e máquinas apropriadas para a produção. Com o aumento da demanda e interesse por parte dos produtores, o presidente da Aprolupulo espera que essas dificuldades sejam superadas.
Em uma área de aproximadamente um hectare, ele planta diversas variedades de lúpulo. “Comecei a pesquisar a cultura da planta, temperaturas mais temperadas para o cultivo no país e enxerguei uma oportunidade de negócio”, conta, acrescentando que pretende ampliar sua área plantada até o final do ano.
O lúpulo é uma planta perene (não precisa ser plantada a cada nova safra), com duração comercial por um período de 12 a 15 anos. “Como os plantios no Brasil ainda são recentes, ainda tem muita área que não alcançou o potencial produtivo, tanto em quantidade quanto em qualidade”, diz Creuz.
O lúpulo não exige grandes extensões de terra para ser plantado e tem alto valor agregado, por isso pode ser uma boa opção para os pequenos produtores aumentarem a renda. O maior produtor de lúpulo no cenário mundial são os Estados Unidos, seguidos de perto pela Alemanha.
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Sobre o autor
Felipe Freitas é analista do mercado de cerveja, engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação pela UFRJ. Fundador e editor do portal Catalisi.