Custos de produção mais altos e problemas na cadeia de suprimentos estão deixando os fabricantes de cerveja belgas numa crise profunda, à medida que a crise econômica global vai mostrando seus efeitos.
Empresas como a histórica cervejaria Huyghe na Flandres, por exemplo, que entre seus produtos com com a linha Delirium, estão começando a ficar sem garrafas.
Segundo Alain de Laet, diretor executivo da empresa, ela só tem estoques para durar até setembro.
“Essencialmente, não temos as garrafas APO de 33 centilitros. Conheço alguns produtores que trabalham com garrafas Steinie e para vários desses produtores a falta de garrafas também está se tornando um problema”, declarou o executivo.
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“Para nós, é um grande problema, porque temos um volume de exportação de 87%, o que significa que as garrafas não são devolvidas.”
Ele acrescentou que, devido aos rígidos bloqueios do COVID-19 na China, a situação não se agravou ainda mais, com menos garrafas sendo necessárias para as exportações de cerveja. O país é o segundo destino internacional de exportação da cervejaria depois da França.
No momento, a cervejaria, que emprega 110 pessoas e produz 250 mil hectolitros de cerveja por ano, teme que o faturamento total caia 20% se a crise continuar durante o verão.
O problema da escassez de garrafas começou durante a pandemia, quando a demanda por cerveja passou de bares e restaurantes para compras em supermercados de varejo.
Para agravar ainda mais a situação está o preço do vidro – uma indústria de uso intensivo de energia – que disparou por causa da atual crise energética.
Enquanto alguns fabricantes de garrafas estão abertos a aumentar a produção, para muitos cervejeiros a resposta pode simplesmente não vir em tempo hábil.
Recorrer às latas pode ser uma solução para alguns produtores, mas somando-se à tempestade há também problemas com a oferta e custos de alumínio e, além disso, para muitos produtores, o sabor não é o mesmo.
Representantes da indústria cervejeira dizem que pequenas e médias empresas correm o risco de serem mais atingidas, incluindo Simon Spillane, da organização Brewers of Europe, que representa empresas do setor em nível europeu.
“[A crise] definitivamente afetará algumas cervejarias mais do que outras”, disse Spillane à Euronews. “E isso realmente depende de qual é o mix de embalagens. De onde eles tiram seus suprimentos? Em que país estão operando? É um sistema de garrafa retornável? Recarregável? A empresa está exportando muito para fora da Europa?
“Então, é realmente específico para as empresas individuais. E acho que potencialmente haverá efeitos indiretos nos preços ao consumidor. Mas também, quero dizer, alguns produtos podem ter que interromper a produção.”
Tudo isso representa mais um golpe em um setor já sob intensa pressão.
Na Europa, as cervejarias são responsáveis pela criação de mais de dois milhões de empregos em toda a cadeia produtiva, o que significa que muito está em jogo à medida que a frágil economia europeia tenta se recuperar da pandemia.
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Sobre o autor
Felipe Freitas é analista do mercado de cerveja, engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação pela UFRJ. Fundador e editor do portal Catalisi.