Projeto Manipueira: 21 cervejas selvagens com uso de mandioca que buscam terroir brasileiro são lançadas

Projeto Manipueira que busca valorização do terroir brasileiro na produção de cervejas selvagens ganha seus primeiros lançamentos após um ano.

Após 12 meses de fermentação e maturação em barris de madeira, o Projeto Manipueira, que reúne dezenas de fábricas do todo o Brasil para a experiência inédita de fermentar cervejas com micro-organismos da mandioca, está ganhando os seus primeiros lançamentos.

O projeto Manipueira é coordenado pela Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva) e conta nessa primeira safra com 21 rótulos de cervejas.

A manipueira, que dá nome ao projeto, é o líquido resultante da prensagem da mandioca para produção de farinhas e tapioca que serve de fonte de microorganismos pra fermentação, dando uma singularidade local ao sensorial da bebida. A ideia da Abracerva com a ação é incentivar cervejarias locais a utilizar a microflora de suas cidades para criar cervejas únicas, fermentadas por leveduras e microorganismos selvagens, em busca do terroir da bebida no Brasil.

O projeto teve como inspiração o cauim, fermentado produzido pelos povos originários. Tóxica quando in natura, a água de manipueira após fermentada é um dos ingredientes do tucupi, iguaria típica da Amazônia marcante por sua acidez.

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O Projeto Manipueira nasceu de uma parceria entre as cervejarias Cozalinda (Florianópolis – SC) e Zalaz (Paraisópolis – MG), especialistas em fermentação selvagem e uso de barris de madeira, e chegou à Abracerva – Associação Brasileira de Cervejas Artesanais – pelas mãos do Sommelier Jayro P. Neto, conselheiro da associação.

A cervejas do Manipueira foram produzidas na mesma época, no início da primavera de 2022, e passaram por um processo de fermentação lento, em barris de madeira, que é típico das cervejas selvagens. As brassagens da 2ª safra, que será lançada em 2024, já começaram.

A construção de uma identidade, ou ainda de diversas identidades, da cerveja artesanal brasileira baseada na rica biodiversidade brasileira, bem como no conhecimento agrícola presente no país tem crescido nos últimos anos.

Projeto Manipueira terá produções anuais

A ideia do Manipueira é construir um movimento com áreas de produções anuais e ganhar relevância para que esse tipo de cerveja seja reconhecido como um estilo de cerveja brasileiro pelos guias internacionais.

“Teremos produções anuais de cervejas únicas e autênticas do Brasil o que é o início de um trabalho para o reconhecimento do segundo estilo brasileiro de cerveja, a Manipueira Selvagem.” comentou Diego Rzatki, coordenador do projeto.

A primeira safra de Manipueiras Selvagens contou com lançamentos das cervejarias Ade Bier (PR), Caatinga Rocks (AL), Cerveja Pestana (SP), Cervejaria Lobos / Funky Folks (PR), Cervejaria Prisma (SP), Cervejaria Tarantino (SP), Cervejaria Uçá (SE), Cozalinda (SC), Cruls (DF), Cybeer (SP), Fermentaria Local (SP), Hill Beer (MG), IFSP – Sertãozinho (SP), Marek Cervejaria Artesanal (RS), Nacional (SP), Piwo Cervejaria Rural/Botânica/Aurora (ES), Quinta do Belasca (SC), São Sebastião (MG), Trilha (SP), ZalaZ (MG), Zapata Cervejaria Rural (RS).

Junto ao lançamento das Manipueira selvagens ocorreram uma série de eventos com o apoio da Abracerva que contaram com palestras, cursos e mesas redondas com produtores, cientistas, chefs de cozinha, sommeliers e diferentes profissionais do Brasil e do Exterior, dialogando sobre cervejas ácidas complexas brasileiras e sul-americanas.

Projeto Manipueira pode criar reputação no mercado internacional

O fortalecimento de um movimento de criação de um estilo de cerveja selvagem brasileiro pode colaborar num maior reconhecimento do Brasil como um mercado relevante no cenário de cervejarias artesanais, em especial no nicho de produtos mais sofisticados.

De uma maneira geral, isso fortaleceria um dos grandes diferenciais da cerveja artesanal brasileira que é a valorização da biodiversidade presente no Brasil como um elemento na criação de sabores.

A criação de um estilo de cerveja complexa ligado a biodiversidade e cultura brasileira ajudaria a reforçar uma posição do Brasil como um vanguardista no mercado de cerveja artesanal global, o que se associaria com a posição de grande consumidor da bebida que o país já possui.

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Sobre o autor

Felipe Freitas é engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação Tecnológica pela EQ/UFRJ e analista do mercado de cervejas.