Schornstein e Leuven anunciam fusão para ampliar presença no mercado de cerveja nacional

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Cervejarias Schornstein de Pomerode (SC) e Leuven de Piracicaba (SP) anunciaram que estão entrando em entendimentos para formarem um novo grupo com presença no Sul, Sudeste e Nordeste

Entre as tendências para o mercado de cerveja no Brasil para ano de 2019, analisadas pela Catalisi, estavam presentes fusões de cervejarias para ganhos de escala e uma potencial expansão para o mercado de cerveja artesanal para o nordeste.

As possibilidades da análise ganharam contornos mais reais com o recente anúncio que as cervejarias Schornstein do interior de Santa Catarina e Leuven do interior de São Paulo estão encaminhando a fusão das duas empresas para formar a Companhia Brasileira de Cervejas Artesanais (CBCA).

A fusão busca ganhos de escala e racionalização de ativos entre as duas cervejarias para a produção e comercialização conjunta de seus atuais portfólios com ganhos logísticos e tributários e também visa a construção de uma nova fábrica na Bahia para explorar o mercado nordestino.

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“A ideia é inverter a lógica atual, de microcervejarias com grande capacidade produtiva concentrada em um único local e montar uma estrutura capilarizada, com fábricas de médio porte espalhadas pelo Brasil e distribuição otimizada”, declarou Gustavo Barreira CEO da Leuven.

“Essa união de forças e competências é mais um grande passo na história de mais de 13 anos da Schornstein no mercado brasileiro da cerveja artesanal, fortalecendo ainda mais a nossa posição como uma das cervejarias mais respeitadas do País”, diz Luiz Selke, Sócio da cervejaria catarinense.

Segundo o portal NSC, as negociações entre as empresas começaram em novembro do ano passado numa conversa informal entre seus executivos. De partida o grupo formado já se inicia com mais de 100 funcionários, capacidade de produção mensal de cerca de 300 mil litros e faturamento anual superior a R$ 30 milhões.

A fusão representa uma diminuição de custos nas estratégias de ampliação de mercado de ambas as marcas. A Schornstein ganha uma unidade de produção direcionada ao mercado do susdeste e nordeste, sendo que atualmente 80% de sua produção já é destinada para fora de Santa Catarina. Já Leuven ganha oportunidade que seus produtos avancem para a região sul.

As trajetórias da Schornstein e da Leuven.

A Schornstein nasceu como uma pequena cervejaria com venda apenas no próprio balcão em 2006 em Pomerode.

Com o aquecimento do mercado nos anos 2010 a cervejaria realizou uma série de investimentos inaugurando uma nova unidade com capacidade de 300 mil litros por mês na mesma cidade em 2017.

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Fundada em 2010 a Leuven iniciou sua trajetória focando em cervejas da tradição belga. Em maio deste ano a cervejaria de Piracicaba, inaugurou seu novo complexo produtivo no bairro Monte Alegre com capacidade de produção mensal de 60 mil litros, impulsionada principalmente pelo modelo de financiamento equity crowdfunding (famoso por ser largamente utilizado pela cervejaria Brewdog)

A nova fábrica com 1.400 metros quadrados, local emplemático, onde até os anos 50,operava a maior usina de açúcar do país, a Usina Monte Alegre se converteu num projeto de estética arrojada combinando história e modernidade. À época de sua última captação a Leuven foi avaliada em 2018 em R$ 14 milhões.

Produção multi regional e entrada de nova marca estão entre as metas da fusão

A meta de crescimento da nova empresa aponta para uma atuação estratégica em diferentes regiões do país, operando além das unidades atuais localizadas no sudeste (Piracicaba) e no sul (Pomerode) uma nova unidade que está em fase final de montagem na Bahia para atendimento do mercado nordestino.

A produção de produtos do portfólio das duas cervejarias em qualquer uma das unidades do grupo permite ganhos logísticos, tributários e chegada do produto mais fresco até os pontos venda através de uma produção mais próxima do consumo final.

Verificando possivelmente um potencial de posicionamento ainda não contemplando pelos rótulos próprios existentes, a CBCA planeja a entrada de uma nova marca com posicionamento diferente das atuais do seu portfólio, podendo ser esta uma nova criação da empresa ou mesmo a entrada de mais uma cervejaria para o projeto.

“Estamos desenhando a arquitetura do portfolio da CBCA, trabalhando a estrutura e os pilares das marcas e em breve poderemos lançar uma terceira marca para atuar em um layer diferente das duas atuais. Ou, quem sabe, trazer mais uma cervejaria para este projeto”, vislumbra Gustavo.

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Adicionalmente, a expansão da CBCA tem a expectativa de incorporar outras empresas em regiões estratégicas do país e, numa etapa futura, a intenção da abertura de capital da empresa num possível IPO (operação que lança ações de uma empresa na bolsa de valores).

Parte da concretização do processo de fusão está ligado a uma nova captação de recursos da Leuven a partir de mais uma rodada de equity crowdfunding na plataforma Basement/Kria. A meta da nova rodada é de R$ 5 milhões de reais, sendo esta a terceira já realizada pela cervejaria, que através das captações ganha novos sócios investidores.

Os recurso captados serão destinados a investimentos adicionais na CBCA e a nova rodada será aberta a investidores na próxima segunda-feira 08/07.

Acredita-se que a fusão será concretizada em dois meses, porém o processo completo de alinhamento de atividades entre as duas companhias deve levar um ano e meio.

Fusão é um marco importante para o mercado de cerveja brasileiro

A fusão entre as cervejarias Schornstein e Leuven é um evento importante dentro da trajetória do mercado brasileiro pois representa o primeiro acontecimento do tipo fora dos grande conglomerados e numa dinâmica bastante diferente de fusões como as ocorridas no final anos 1990, como a que deu início a Ambev.

A junção das duas cervejarias ocorre num nível de complexidade de portfólio típico do mercado artesanal onde complementaridades de marca, estilo de cerveja e distribuição do planejamento de produção serão críticos para que se alcance sucesso.

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O anúncio do negócio e a pré-disposição de encontrar novos parceiros com localização estratégica pelo país para crescimento da companhia aponta para um caminho que devera ser a tônica para o crescimento racional das cervejarias que visam o mercado do varejo num nível nacional num país com as dimensões do Brasil.

Fora deste caminho o único possível seria através de projetos de investimento com dimensão financeira bastante improváveis, dado a recessão econômica que o país tem passado.

Certamente não é um caminho trivial, mas que pode criar diversas sinergias pela soma de trajetórias das companhias e encaminhamento estratégico com que o projeto se anuncia para dar competitividade as marcas dentro de um cenário de mercado que começa a crescer cada vez mais em complexidade.

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Sobre o autor

Felipe Freitas é engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação Tecnológica pela EQ/UFRJ e analista do mercado de cervejas.