Projeto com mais de 20 cervejarias busca terroir brasileiro com mandioca em cervejas selvagens

Projeto Manipueira busca experimentação com uso de micro-organismos da mandioca para produzir cervejas selvagens

A manipueira, líquido resultante da prensagem da mandioca na produção de farinha, será utilizada como fonte local de micro-organismos para a fermentação de cervejas selvagens com diversos terroirs no Brasil.

O Projeto Manipueira nasceu de uma parceria entre as cervejarias Cozalinda (Florianópolis – SC) e Zalaz (Paraisópolis – MG), especialistas em fermentação selvagem e uso de barris de madeira, e chegou à Abracerva – Associação Brasileira de Cervejas Artesanais – pelas mãos do Sommelier Jayro P. Neto, conselheiro da associação.

A Abracerva está empenhada na mais ampla busca pelo terroir das cervejas brasileiras. O terroir é um termo utilizado para definir uma extensão limitada de terra e uma série de características relacionadas a ela, sendo muito utilizado pelo universo do vinho.

Com isso o Projeto Manipueira, que incentiva cervejarias locais a utilizarem a microflora presente na mandioca para criar cervejas únicas, fermentadas por leveduras e micro-organismos selvagens foi abraçado pela Abracerva. Vinte e duas fábricas de dez estados brasileiros já aceitaram o desafio.


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A abertura de espaço para cervejas selvagens nacionais ganha com o Projeto Manipueira mais um capítulo interessante na exploração das possibilidades do terroir brasileiro de cervejas

“O objetivo da Abracerva é dar espaço para toda a comunidade cervejeira participar, dando mais visibilidade ao projeto, ampliando a troca de experiências e gerando novas oportunidades de negócios”, explica Neto.

Inspiração do Projeto Manipueira vemda vem da fermentação de povos originários do Brasil

Tendo como inspiração o cauim, fermentado produzido pelos povos originários, a busca pelo terroir brasileiro terá como base a manipueira, liquido extraído da mandioca no processo de fabricação da farinha. Tóxica quando in natura, a água de manipueira após fermentada é um dos ingredientes do tucupi, iguaria típica da Amazônia marcante por sua acidez.

“Esta será a primeira e a maior exploração sobre cervejas com terroir no Brasil até agora. Cada cervejaria irá cultivar sua própria microflora que irá resultar em cervejas únicas e absolutamente locais,” explica Diego Rzatki, da cervejaria Cozalinda. “A mandioca foi escolhida justamente por ser uma fonte comum de microrganismos, encontrada em todo o Brasil,” detalha.

Para que as características da fermentação por microrganismos se expressem ao máximo em cada cerveja, a receita seguirá parâmetros e insumos fixos, como maltes simples e lúpulos de baixo amargor. A ideia é que as cervejas sejam produzidas ao mesmo tempo, no início da primavera, em cada uma das fábricas e passem pelo processo de fermentação lento, em barris de madeira, que é típico das cervejas selvagens. A meta é que as produções estejam no mercado após 12 meses.

A primeira reunião técnica do projeto ocorreu em junho, quando será realizado um encontro virtual para troca de informações sobre os aspectos técnicos iniciais como sanitização e preparação dos barris e a coleta de micro-organismos.

Os organizadores do Manipueira também planejam envolver a comunidade de cervejeiros caseiros, apoiando na disseminação do conhecimento entre os cervejeiros caseiros para a produção não comercial.

Já aderiram ao projeto as cervejarias Alem Bier (Flores da Cunha – RS), Amazon Beer (Manaus – AM), Caatinga Rocks (Maceió – AL), Cerveja Blumenau/Mestres do Tempo (Blumenau – SC), Cervejaria Cabôca (Belém – PA), Cervejaria Kairós (Florianópolis – SC), Cervejaria Narcose (Capão da Canoa – RS), Cervejaria Prisma (Campo Limpo Paulista – SP), Cervejaria Tarantino (São Paulo – SP), Cozalinda Cervejaria (Florianópolis – SC), Devaneio do Velhaco (Porto Alegre – RS), Donner (Caxias do Sul – RS), Fermentaria Local (Janiru – SP) Hop Mundi (Natal – RN), Infected Brewing Co (Santos – SP), Japas Cervejaria (São Paulo – SP), Proa Cervejaria (Salvador – BA), Quinta do Belasca (Pinhalzinho – SC), Suricato (Porto Alegre – RS), Trilha Cervejaria (São Paulo – SP), Waybeer (São José dos Pinhais – PR) e Zalaz (Paraisópolis – MG).

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Sobre o autor

Felipe Freitas é engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação Tecnológica pela EQ/UFRJ e analista do mercado de cervejas.