Qual o potencial de envelhecimento de cervejas em barris de madeiras brasileiras?

A diversidade da flora brasileira em forma de barris de madeira oferece um potencial único para a cerveja artesanal

A tradição da cerveja envelhecida em barris de madeira é um processo bastante estabelecido, sendo uma possibilidade para agregar valor a cervejas artesanais. Mas você já parou para pensar no potencial desta prática ganhar uma identidade genuinamente brasileira?

As se explorar madeiras brasileiras se traz a possibilidade de ganhos sensoriais, de processo e também de custo para cervejas envelhecidas, agregando uma identidade com apelo único que iremos abordar neste artigo.

A interação com a madeira se tornou parte fundamental do processo de produção de bebidas de alta qualidade, tais como brandy, whisky, cognac, armagnac, rum e cachaça.

O processo agrega em aroma e sabor, além de transformar a agressividade de um destilado branco em suavidade e dulçor. Assim como os destilados, que se transformam positivamente após passar pelo envelhecimento em barris de madeira, a cerveja também pode se beneficiar dessa interação única com as madeiras tropicais brasileiras.


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Enquanto o carvalho é tradicionalmente utilizado em todo o mundo, sua importação aumenta consideravelmente os custos para os produtores brasileiros. No entanto, as madeiras tropicais provenientes de reflorestamento oferecem uma alternativa mais viável e rentável. Espécies como Amburana, Bálsamo, Cedro, Ipê, entre outras, não só reduzem custos, mas também contribuem com uma ampla gama de cores, sabores e aromas distintos à cerveja envelhecida.

O potencial da flora brasileria em barris de madeira para envelhecer cerveja

A diversidade da flora brasileira nos oferece inúmeras variedades de madeira com potencial para o envelhecimento de cervejas, e é hora de explorar essa riqueza. Estudos sobre composição química, aspectos físico-químicos e até mesmo sustentabilidade florestal são fundamentais para garantir a qualidade e a segurança desse processo.

Além disso, a valorização das madeiras tropicais no envelhecimento pode contribuir para o reconhecimento nacional e internacional das cervejas brasileiras, agregando uma identidade única aos nossos produtos. A utilização de madeiras tropicais (brasileiras) provenientes de reflorestamento, pode ser uma alternativa mais viável e rentável aos produtores de cerveja.

Além disso, as diversas espécies utilizadas podem contribuir como diferentes fontes de cores, sabores e aromas na bebida envelhecida. Vale ressaltar, em algumas espécies, a possibilidade de redução do tempo necessário para atingir elevado grau de maturação ou de saborização da cerveja quando comparadas ao carvalho, visto que apresentam maior potencial de interação.

As principais espécies de madeira brasileira para barris

No Brasil, as principais espécies de madeiras utilizadas na tanoaria são: Amburana (Cerejeira), Bálsamo, Cabreúva, Castanheira, Jequitibá, Cedro, Freijó, Grápia, Ipê, enfim, são mais de 30 tipos de madeiras brasileiras utilizadas na tanoaria, cada uma conferindo características distintas à cerveja. Entre as mais utilizadas estão a Amburana, que proporciona notas de baunilha e sabor adocicado, e a Cabreúva, que confere aromas herbáceos intensos e sabor levemente adstringente. Estilos de cerveja como Imperial Stout, Tripel, Doppelbock, Dark Strong Ale e Barley wine são comumente envelhecidos em madeira, ganhando complexidade e durabilidade.

Além disso, a Abracerva está buscando o reconhecimento de estilos brasileiros de cerveja que utilizam madeiras brasileiras para maturação, como o Brazilian Wood and Barrel Aged. Essa inovação sensorial traz um diferencial para as cervejas brasileiras, celebrando a riqueza e diversidade de nossas madeiras. Pesquisas mais aprofundadas são necessárias para compreender questões como toxicidade, previsão de aromas e sabores, durabilidade dos barris e, é claro, a aceitação do consumidor.

Ao explorar o envelhecimento de cervejas em barris de madeiras brasileiras, estamos não apenas inovando, mas também celebrando nossa diversidade e riqueza cultural que oferecem uma assinatura diferenciada para construção da cerveja como produto. É hora de elevar o sabor da cerveja brasileira a um novo patamar, com o toque único das nossas florestas.

Sobre a Autor

Lethicia Corniani – Cientista de alimentos, Mestra e Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos com ênfase em fermentação de bebidas alcoólicas pela ESALQ-USP. Atualmente é Consultora na B Consultoria em Bebidas Alcoólicas e faz parte do grupo As Bárbaras.

Mariana Castro – Biotecnologista, Mestra e Doutora em Ciências e Tecnologia de alimentos. Pesquisou na ESALQ-USP o envelhecimento e qualidade química e sensorial de cachaça. Atualmente é Gerente de P&D na YVY Destilaria. Além disso, é Consultora na B Consultoria em Bebidas Alcoólicas e faz parte do grupo As Bárbaras.

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