Startup Brewing cria técnica para aumentar aproveitamento de lúpulo inédita no Brasil

Técnica desenvolvida pela Startup Brewing de Itupeva (SP) em três novos rótulos torna a produção mais eficiente, econômica e sustentável.

O lúpulo é uma das matérias-primas mais valorizadas pelos consumidores de cerveja artesanal, por impactar diretamente sabor e aroma, e de alto custo para os fabricantes. Dessa maneira, a utilização racionalizada deste insumo oferece oportunidade para ganhos de competitividade e de gestão financeira das cervejarias.

A Startup Brewing, localizada na cidade de Itupeva em São Paulo, mirou neste objetivo e desenvolveu uma técnica inédita no Brasil para maximizar a utilização de lúpulo ao mesmo tempo em que gera produtos atraentes e de qualidade para os consumidores.

A fábrica utiliza 1 tonelada de lúpulo por mês, com custo de R$ 250 por quilo do insumo, para tocar sua produção de 110 mil litros mensais que envolve marcas próprias e de cervejarias ciganas, de acordo com publicação do Estadão.

A simples destinação para produção de fertilizante após na cervejaria de uma matéria-prima nobre como o lúpulo incomodava muito o sócio-fundador da Startup, André Franken.


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“O uso massivo de lúpulo em cervejas muito lupuladas é o insumo mais caro da maioria das receitas de cervejas artesanais, e o que tem o maior impacto no preço final quando sai de uma fábrica – sem contar impostos, é claro” explica André Franken, sobre o impacto financeiro do insumo no processo de fabricação.

Com isso, nasceu a essência do projeto Trub Session que é de fazer bom uso dos recursos naturais e, de quebra, ter ainda mais economia com insumos, resultando em produtos com a mesma qualidade, porém com preços mais acessíveis ao consumidor. 

O propósito da cervejaria, que só durante este período de Isolamento Social já lançou mais de 20 rótulos, entre marcas próprias e aceleradas (Unicorn, Juan Caloto e Ux Brew) é a democratização da cerveja artesanal e a crescente impressão de sustentabilidade em todos os processos que envolvem a sua produção.

A Startup, que desde seu início busca se tornar uma referência para a produção terceirizada de cerveja, recentemente passou a ser uma das responsáveis pela produção da cerveja Nauta de propriedade do Carrefour, uma das líderes de varejo no Brasil.

A fábrica destaca que devido ao investimento prévio em tecnologia, que até o momento soma R$ 20 milhões, o desenvolvimento da técnica para a Trub Sessions não necessitou da aquisição de nenhum equipamento adicional, sendo necessário apenas uma adaptação em uma das etapas do processo, treinamento às equipes e muita coragem para fazer os testes em lotes maiores de produção.

De modo mais específico, a técnica consiste em retirar os lúpulos que foram usados no processo de dryhopping de uma cerveja muito lupulada, onde quantidade/volume é muito alta, e utilizá-lo como insumo para uma nova produção. A massa vegetal desse lúpulo, ainda concentra de alta carga de aroma.

A técnica acaba funcionando como uma bioreciclagem, reutilizando o insumo em uma segunda receita de cerveja que precisa de menor carga de lúpulo. Desta forma, cada vez um mesmo rótulo da série Trub ganhará um perfil sensorial diferente, por conta da diversidade das cervejas doadoras desses lúpulos.

Sobre a utilização da técnica em outras partes do mundo, existe apenas uma referência em um site americano, citando estudos. “Não temos informação se lá essa técnica já é utilizada com a mesma finalidade, mas é certo que, por aqui, já estamos queremos expandir a receita”, comenta André , que pretende estender em breve o processo a produtores ciganos que utilizam a estrutura da fábrica.

O ganho econômico gerado pelo desenvolvimento da inovação no processo de lupulagem vem sendo repassado para o consumidor final de acordo com a marca.

Startup Brewing encara missão sustentável como rotina da fábrica

A StartUp sempre promoveu ações permanentes para a reutilização do lúpulo onde fosse possível, pois essa ser uma matéria prima notavelmente abundante na cervejaria.

Em paralelo ao projeto Trub Session, a StartUp continuará com outros projeto sustentáveis já existentes, como a secagem posterior dessas massas vegetais oriundas do lúpulo, que são enviadas para uma empresa especializada e certificada nos órgãos ambientais para reaproveitamento desses resíduos em adubo.

Já o bagaço de malte de toda produção da fábrica, outro resíduo gerado em grandes quantidades na produção de cerveja, também tem destino certo. Ele é armazenado em bombonas fechadas e enviado a criadores de ovinos que o utiliza como ração para os animais.

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Sobre o autor

Felipe Freitas é engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação Tecnológica pela EQ/UFRJ e analista do mercado de cervejas.