Stone Brewing celebra 25 anos fazendo escolhas inesperadas

A icônica cervejaria norte-americana Stone Brewing chega a 25 anos de estrada e, em meio a celebrações, busca novos caminhos para superar desafios

A cervejaria californiana Stone Brewing chega aos seus 25 anos promovendo uma série de ações que marcam as celebrações do seu um quarto de século de trajetória. Um dos destaques é uma votação online onde convoca fãs a elegerem sua favoritas de anos anteriores para que retornem à produção em 2022.

Por outro lado a Stone está passando por mudanças bastante grandes buscando mudar uma parte da base de seus consumidores devido ao baixo desempenho de uma parcela importante de seu portfólio de cervejas, principalmente da queda em vendas de seu principal rótulo a Stone IPA.

A Stone IPA no primeiro semestre do ano passado caiu 14,8% em vendas, isto após 3 anos consecutivos de quedas. A queda em 2020 ocorreu em um período onde cervejarias do porte da Stone, que está entre as 20 maiores cervejarias artesanais independentes dos EUA, se alavancaram no grande varejo devido ao posicionamento anteriormente conquistado.

O caminho escolhido pela Stone para redirecionar sua estratégia é inusitado. A cervejaria está buscando focar investimento em cervejas mais leves e até mesmo no lançamento de uma linha de Hard Seltzer, tirando uma pouco do foco das IPAs que fizeram a marcada reconhecida no mercado da cerveja artesanal norte-americano.


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A Stone foi uma das cervejarias que, dentro da geração dos anos 1990, ajudaram na formação de consumidores amantes de lúpulo, fazendo o estilo IPA se descolar do restante do mercado de cervejas artesanais, um fenômeno ainda não observado durante os anos 1980.

Porém, atualmente os tempos são outros. Apesar do seu porte e infra-estrutura ( a Stone possui também uma distribuidora própria) a cervejaria não conseguiu tirar vantagem de seu posicionamento no varejo durante o agravamento da pandemia. Por outro lado a Stone sofre também com a competição de cervejarias pequenas e locais, mas que recentemente tiveram seus canais de distribuição desestruturados durante o momentos de restrições sanitárias.

Outro fator de que marcou nos últimos anos os obstáculos da Stone em expandir seu negócio foram as dificuldades na construção de suas perspectivas internacionais. Enquanto na àsia a marca continua trabalhando sua inserção, na Europa a Stone sofreu um grande revés com o insucesso da operação de sua megafábrica em Berlim na Alemanha, que foi pensada para fazer com que a cervejaria se expandisse pelo continente europeu. A Stone acabou por decidir vender a unidade para a escocesa Brewdog.

A alternativa pensada pela Stone foi a de fazer crescer uma nova base de seu portfólio focado em cervejas mais leves, onde lançaram a Buenaveza Salt and Lime. Uma lager com adição de limão e sal marinho, inspirada no que chamam de mexican lagers no mercado americano

“Buenaveza é nossa prioridade número 1 no momento. Para que ela seja bem sucedida, isso significa focar nosso investimento em marketing para direcioná-la para o sucesso. É uma ótima cerveja em uma ótima embalagem a um ótimo preço.” declarou Maria Stipp ao jornal local The San Diego Local Tribune, atual CEO da Stone e que anteriormente trabalhava na Lagunitas, outra marca californiana.

Apesar do mercado de IPAs ainda estar forte e em permanente evolução para grandes artesanais nos EUA, uma outra forte tendência tem sido a de fortalecimento de opções mais leves e de baixo teor alcoólico, na busca de oferecer opções ainda pouco exploradas pelo segmento artesanal dos EUA.

“Se eles [cervejeiros da Stone] podem criar uma cerveja mexicana de alta qualidade, por que não? Isso nos amplia. Ajuda a atrair novos consumidores para a marca que talvez nunca tenham pensado em Stone. Steve e Greg [fundadores da Stone] fizeram parte da revolução. Nós agora fazemos parte da evolução. É assim que eu descreveria. ” analisou Stipp sobre o momento atual da cervejaria.

Um outro movimento no redirecionamento da Stone, apontado para bebidas mais suaves ao invés de suas tradicionais cervejas extremas, foi o surpreendente lançamento da sua linha de Hard Seltzer chamado de Buenavida que chegará aos mercados nos EUA em julho. Os Seltzer da Stone são produzidos a partir de açúcar de cana e virão em quatro sabores: Manga, Cereja Preta, Tangerina e Melancia e Limão. 

O lançamento de Buenavida era algo tão inesperado que seu próprio anúncio foi feito no 1º de abril o que fez muitas pessoas acharem que era uma brincadeira e duvidarem da real existência do produto. Buenavida será a primeira marca de Hard Seltzera chegar ao mercado dos EUA exclusivamente em vidro. As garrafas de vidro foram moldadas de forma personalizada para transmitir a marca da Stone.

A experiência das grandes cervejarias artesanais dos Estados Unidos mostra de uma forma cada vez mais clara que atravessar gerações num mercado extremamente dinâmico e com competidores em diferentes níveis faz da gestão de portfólio uma atividade bastante complexa, sendo que muitas vezes a saída pode está em buscar caminhos antes inimagináveis para o que se espera de uma marca.

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Sobre o autor

Felipe Freitas é engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação Tecnológica pela EQ/UFRJ e analista do mercado de cervejas.