Grupo Petrópolis pede recuperação judicial com dívida de R$ 4,4 bilhões

Grupo Petrópolis reporta grave crise financeira, com perda de mercado e redução do seu nível de produção, ao pedir recuperação judicial

O Grupo Petrópolis, terceiro maior grupo cervejeiro do Brasil e dono de marcas como Itaipava, Crystal e Petra deu entrada em pedido de recuperação judicial esta semana em regime de urgência na justiça do Rio de Janeiro reportando dívidas de R$ 4,4 bilhões.

Entre as motivações para o endividamento apontados pela empresa estão o aumento da taxa básica de juros e a perda de market share, devido a falta de repasse de custos por parte de seus concorrentes. O Grupo Petrópolis é a 11ª maior cervejaria do mundo.

Segundo o pedido da defesa, a dívida de R$ 4,4 bilhões está desdobrada em obrigações financeiras e de mercado de capitais da ordem de R$ 2 bilhões e também dívida com fornecedores e terceiros com mais R$ 2,2 bilhões. A parte restante não foi detalhada.

Foi destacado que o vencimento de uma parcela de R$ 105 milhões de uma operação financeira poderia acarretar o vencimento antecipado de toda a dívida e com isso comprometer o caixa e operações imediatas da companhia.


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Com o pedido de recuperação judicial o Grupo Petrópolis busca renegociar dívidas e prazos e também fazer com que a empresa possa retomar sua função social perante a sociedade, o que poderia acarretar em impactos econômicos maiores sobre o setor, dado a magnitude de suas operações.

O Grupo Petrópolis é dono de 14 marcas, como Itaipava, Crystal, Petra, Lokal, Black Princess, Brassaria Ampolis, Cabaré e TNT,contando em seu portfólio com cervejas, água, refrigerante e energéticos.

Perda de market share está entre as razões da crise do Grupo Petrópolis

A solicitação de recuperação judicial destacou dois pontos como os de maior impacto como razões do endividamento da companhia

Um deles foi o aumento dos juros básicos da economia que vem gerando um impacto de aproximadamente R$ 395 milhões por ano no fluxo de caixa da empresam, por impactar as despesas financeiras do negócio.

Outro foi a queda expressiva de mercado do Grupo Petrópolis. A empresa reportou que vendeu 24,1 milhões de hectolitros de bebidas, equivalente a uma queda de 23% na comparação com 2020. Isso significou um recuo de 17% na receita bruta do período.

Essa perda de receita ocorreu ao mesmo tempo em que os custos do setor subiram e não foram repassados ao consumidor, de acordo com a defesa do grupo.

De acordo com a empresa, seus concorrente teriam maior poder para absorver a pressão de custos, praticando preços que levaram a perda de mercado dos produtos da Petrópolis. O Grupo Petrópolis é a única das três grandes cervejarias do Brasil que não possui uma atuação multinacional.

Impressiona o dado revelado de que a empresa, para não agravar a situação financeira, está utilizando apenas 40% de sua capacidade instalada total, das 8 unidades fabris que possui, sendo uma delas a fábrica mais nova do Brasil.

Perspectivas para a crise do Grupo Petrópolis

A revelação da crise do Grupo Petrópolis, onde a perda de mercado é um dos fatores de destaque da perda de receita evidencia que suas grandes concorrentes, Ambev e Heineken, estão tomando a participação da primeira no mercado brasileiro.

Em 2022, como publicado recentemente na Catalisi, o Brasil apresentou recorde no volume vendido de cerveja e com a queda reportada em vendas pelo Grupo Petrópolis claramente uma fatia maior passou a ser ocupada por seu concorrentes.

Potenciais desfechos desta crise podem estar em compras parciais ou totais dos ativos do Grupo Petrópolis por concorrentes persentes ou não no mercado brasileiro.

Entre os presentes no mercado brasileiro os de de maior potencial seriam Heineken, a segunda maior cervejaria no Brasil que está buscando ampliar sua presença no Brasil ou ainda a Coca Cola que tem investido em sua cerveja Therezópolis e deseja ampliar sua capacidade de produção.

Compras de ativos da Petrópolis pela Ambev é menos provável pois dificilmente seria aprovada pelo órgão regulador da concorrência dado a dominância da empresa no Brasil.

Uma outra possibilidade estaria na entrada de alguma marca internacional com intenções de adentrar no mercado brasileiro, com desejo de comprar a Petrópolis.

Uma empresa que está exatamente no meio do caminho neste sentido é a espanhola Estrella Galícia que está iniciando construção de fábrica no Brasil. Além dela alguma outra grande internacional pode se interessar pelo mercado brasileiro tendo o crescimento do segmento de cervejas premium como grande atrativo.

De acordo com a solicitação de recuperação judicial , o Grupo Petrópolis gera 24 mil empregos diretos e cerca de 100 mil indiretos e já enfrenta uma crise de liquidez há 18 meses decorrente da redução de receita.

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Sobre o autor

Felipe Freitas é engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação Tecnológica pela EQ/UFRJ e analista do mercado de cervejas.