O Brasil, antes de chegar ao fim deste ano, já superou o montante de cevada importado no ano de 2023 e além disso superou também o recorde histórico de importação desse insumo cervejeiro que foi estabelecido no ano de 2019.
O país está passando por um momento de aumento da demanda por cevada devido ao crecimento da demanda por malte nacional que tem substituído malte importado com grande foco no aumento da fatia de cervejas premium no mercado nacional.
A cevada no Brasil é destinada majoritariamente à produção de malte cervejeiro de forma a abastecer a produção de cerveja do país que é o terceiro maior consumidor da bebida no mundo.
O Brasil de janeiro a outubro de 2024 importou 769 mil toneladas de cevada, 27% a mais do que todo o ano de 2023, representando um valor de 218 milhões de dólares em compras.
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Já em setembro as importações brasileiras do cereal haviam ultrapassado o montante do ano anterior de 607 mil toneladas e também a maior quantidade já importada durante um único ano alcançada em 2019 com 671 mil toneladas.
O maior fornecedor de malte para essas importações de 2024 é a Argentina com 690 mil toneladas, representando 90% do total, o resto do montante é fornecido pelo Uruguai.
A demanda por cevada para produção de malte no Brasil tem sido crescente e se ampliou recentemente com a inauguração da maltaria Campos Gerais da Agrária Malte, localizada no estado do Paraná. A produção brasileira de cevada tem ficado entre 400 e 500 mil toneladas por ano, sendo que o o dobro desta quantidade tem sido importada para complementar a demanda das maltarias.
A importação de cevada para o Brasil tem como destino os estados das unidades de produção de malte persentes no país localizadas no Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo e Santa Catarina.
Ao se adentrar um pouco mais nos detalhes dos dados de importação de cevada se verifica como o Paraná se destaca na demanda do cereal pois o estado até outubro já mais que dobrou a quantidade de cevada importada em relação a 2023, crescendo 120% com o valor de 363 mil toneladas.
Em segundo lugar está o Rio Grande do Sul que ainda está 3% abaixo do total importado do ano passado, mas que importou até o momento pouco mais da metade da quantidade do Paraná com 190 mil toneladas. Em seguida estão Santa Catarina e São Paulo.
Um novo demandante de malte no estado do Paraná e que tem impulsionado esse volume de importações é a Maltaria Campos Gerais da Agrária Malte inaugurada neste ano. Com capacidade de produção de 240 mil toneladas por ano, a unidade ocupa um terreno de 800 mil m², resultado de investimento de R$ 1,6 bilhão.
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Dois fenômenos que tem impulsionado a demanda de malte no Brasil em anos recentes são o aumento da produção brasileira de cerveja e também o aumento da fatia de cervejas premium deste total.
Consequentemente, a demanda de cevada para as maltaria brasileiras que tem como o maior foco o fornecimento para cervejarias no Brasil também tem passado por um período de crescimento e essa produção de malte tem substituído a importação do insumo.
Nos últimos anos a produção de cerveja no Brasil chegou a volumes recordes atingindo um pico em 2022 o valor de 15,2 bilhões de litros. Um dos grandes beneficiados em relação a volume de vendas neste periodo foi a Ambev que também bateu recorde de vendas da empresa.
Além do aumento de volume no país outro ponto que tem levado ao crescimento da demanda por malte é a ampliação da fatia do segmento do mercado chamado de cervejas premium.
Em sua maioria as cervejas premium são puro malte, consumindo mais deste insumo em comparação a outras cervejas que compõem o universo dd mercado brasileiro. O crescimento das cervejas premium tem sido alvo de disputa comercial por diferentes cervejarias de grande porte do Brasil.
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Sobre o autor
Felipe Freitas é analista do mercado de cerveja, engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação pela UFRJ. Fundador e editor do portal Catalisi.