Bodebrown explora linha de cervejas que dialogam com vinhos

cerveja vinho bodebrown

Foto: Divulgação Bodebrown

Bodebrown tem investido consistentemente em aproximar seu portfólio do mundo dos vinhos através de lançamentos utilizando uvas viníferas

A cervejaria Bodebrown de Curitiba, capital do Paraná, tem promovido ao longo de 2020 uma série de lançamentos de cervejas que têm chamado a atenção por sua aproximação do mundo dos vinhos.

Estas cervejas utilizam uma parcela de mosto de uvas viníferas junto a base insumos cervejeiros para buscar uma complexidade sensorial que combina características de vinho e cerveja num mesmo produto.

Essa desconstrução das barreiras existentes entre as duas bebidas traz uma série de oportunidades na exploração de temas para a construção de produtos no portfólio de cervejarias.

O primeiro lançamento da Bodebrown deste ano a combinar o mundo dos vinhos com o das cervejas foi a Brut Sour Blanc que utilizou uva moscatel junto a base de uma cerveja belga para produzir uma cerveja clara leve e refrescante que levou dry hopping do lúpulo japonês Sorachi Ace se aproximando de um vinho branco Moscatel, porém com paladar mais seco e sem perder as características de uma cerveja.


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A Grapes Stout, um lançamento mais recente nos eventos de “pega e vaza” da cervejaria, trouxe as cervejas da Bodebrown para um diálogo com o mundo dos vinhos tintos. A receita leva mosto das uvas tannat, cabernet franc e petit verdot, fermentadas com a levedura cervejeira.

A fórmula base foi elaborada a partir da releitura do clássico estilo Dry-Stout irlandês, com um blend que traz 17% de mosto de uvas e 83% de cerveja. O resultado no olfato é complexo, remetendo ao café, cacau e frutas vermelhas como amoras e cerejas. Na boca, tem paladar seco, com notas de pão torrado, além de taninos equilibrados, com 6,1% de álcool.

A fusão inusitada surgiu a partir de uma  viagem de do fundador da cervejaria Samuel Cavalcanti para a Argentina.  Em Mendoza, ele se encantou por cepas muito presentes nos vinhos de lá, como o famoso corte que une malbec, cabernet franc, merlot e petit verdot. Ainda nesta cidade, provou uma cerveja stout da marca local La Zorra.

Destas experiências surgiu a ideia de misturar as duas bebidas. Os vinhos entraram com os taninos elegantes e os aromas frutados. A cerveja veio com notas de torrado e tostado, leve amargor e acidez equilibrada.

Um próximo passo da cervejaria curitibana é o lançamento de um vinho tinto próprio, o Bodebrown Gran Reserva One Millésime 2017.

A busca por adentrar numa possível interface das cervejas artesanais com o mundo dos vinhos gera uma grande oportunidade de alcance de consumidores que valorizam vinhos mas não conhecem o potencial e diversidade do mundo da cerveja.

Os produtos gerados a partir desta fusão podem incorporar a percepção de solenidade muito associada ao vinho como produto e apresentar a complexidade que cervejas podem alcançar.

Adicionalmente, produtos deste tipo se aproveitam do grande espectro sensorial disponível na criação de cervejas artesanais e reforçam o espírito de inovação associado a este nicho de segmento responsável por agregar valor continuamente ao mercado de cerveja.

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Sobre o autor

Felipe Freitas é engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação Tecnológica pela EQ/UFRJ e analista do mercado de cervejas.