O que esperar do mercado de cerveja em 2021

Mercado de cerveja no Brasil continuará tendo a pandemia como um direcionador importante enquanto as adaptações ao novo cenário precisam ser amadurecidas

Após um ano de 2020 bastante turbulento, o mercado de cerveja entra em 2021 com um nível de incertezas acima do normal para um começo de ano. Porém, com alguns aprendizados alcançados nos últimos meses que podem ajudar a guiar as perspectivas para o período.

Neste artigo serão abordados os principais temas para buscar lançar luz sobre grandes questões que afetarão o mercado cervejeiro no Brasil neste ano, eles estão divididos em 6 tópicos (Cenário atual, Pandemia como direcionador, Grandes cervejarias, Pequenas cervejarias, Mercado consumidor e Mercado online).

O cenário atual

O mercado de cerveja no Brasil vem de um ano agitado sob o ponto de vista da ruptura promovida pela pandemia que provocou uma desorganização da cadeia em diversos de seus elos. Isto foi percebido tanto na ponta final, com a alteração dos pesos dos canais de distribuição para se acessar o consumidor, quanto no fornecimento de insumos que se tornaram escassos e mais caros devido as alterações ocorridas.

A crise afetou o mercado consumidor de cerveja de maneira desigual, com o público mais fortemente impactado estando entre aqueles que consomem produtos de menor valor agregado.


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Pandemia continuará sendo o maior direcionador do mercado de cerveja

A pandemia do novo coronavírus e seus efeitos não terminarão em 2021. Logo, os impactos sobre o mercado de cerveja ainda serão sentidos ao longo do ano. Sob um olhar mais otimista, no máximo a intensidade apresentada pelos impactos da pandemia será menor do que a do ano anterior.

O desenrolar de um programa de vacinação atingirá inicialmente camadas reduzidas da população e a imunização eficiente da sociedade contra o vírus é um fenômeno ocorre gradativamente num momento posterior a campanha de aplicação de vacinas. A partir deste ponto a pandemia deixará de ser um questão de gravidade para os sistemas de saúde e as incertezas relativas a isto para o mercado tendem a diminuir.

Adicionalmente, as perspectivas de imunização da população dão indicativos que ocorrerão de forma não uniforme pelo Brasil. Logo, os efeitos da pandemia tendem a ser mais persistentes em determinadas regiões do país e menos em outras, a não ser que ações de coordenação nacional evoluam rapidamente.

Com isso, a probabilidade da aplicação de restrições a abertura de bares, restaurantes, locais turísticos e a ocorrência de eventos continuarão ao longo de 2021 o que acaba por impactar diretamente diversas ocasiões de consumo de cerveja fundamentais para o funcionamento mais equilibrado da cadeia.

O mercado de cerveja para as grandes cervejarias em 2021

Os investimentos promovidos e os projetos anunciados pelas maiores cervejarias do país (Ambev, Heineken e Grupo Petrópolis) ao longo dos últimos meses são um prenúncio de que 2021 dará continuidade ao acirramento da disputa do mercado de cerveja no país pela grande indústria.

Novas fábricas, ampliação de distribuição, sustentabilidade ambiental, valorização de diversidade e inovação foram temas alvo de investimento em maior ou menor grau pelos três maiores grupos cervejeiros presentes no Brasil.

Um assunto de destaque para as grandes cervejarias e que tem recebido diferentes abordagens é o crescimento do mercado de cervejas premium que não foi impactado pela pandemia, pois sua faixa de consumidores foi muito pouco afetada pela crise e mesmo no consumo em casa deu preferência por este tipo de produto.

O mercado de cerveja para microcervejarias

O mercado para as microcervejarias em 2021 continuará com desafios acima dos normais para este segmento.

Esses produtores contam com um fôlego financeiro bastante curto para as variações que o mercado tem apresentado e muitos dependem quase que exclusivamente de lojas e eventos especializados que continuam com funcionamento distante do que era considerado normal antes da pandemia, seja por restrições ou inatividade permanente desses elos finais da cadeia.

Soma-se a isso o impacto da escassez de insumos que atinge mais fortemente também estas pequenas cervejarias, fazendo com que as duas pontas apresentem um alto nível de incerteza, o que acaba se revertendo em perdas financeiras e aumento da pressão sobre estes negócios.

Com isso, o cenário para viabilização da operação de pequenas cervejarias artesanais requer um maior grau de realização de parcerias de diferentes níveis de comprometimento, sejam elas para atividades pontuais ou pensando em ações de longo prazo, o que pode ajudar na redução de incertezas e racionalização de alguns custos para se atravessar os desafios da situação atual.

Por outro lado, microcervejarias com negócios mais robustos e que já conseguiram se adaptar de maneira mais eficiente as condições atuais irão ganhar chances de expansão de público nos canais de distribuição que foram preservados, devido ao espaço deixado por outras que estejam vivenciando maiores dificuldades.

Mercado consumidor

Embora uma parte do público não se preocupe com os perigos da pandemia, existe uma parcela de consumidores que ainda permanecem temerosos de reassumir antigos hábitos de consumo devido ao potencial de infecção e desta forma o consumo total de cerveja ainda é distante do que ocorria antes da disseminação do novo coronavírus..

É importante perceber que parte deste consumo de fato nunca mais retornará aos mesmos patamares. Por exemplo, em regiões de alta concentração de prédios comerciais muitos dos profissionais não retornarão devido a implementação permanente do trabalho a distância o que impactará o consumo de cerveja dos negócios presentes nestes locais.

A tendência de avanço do consumo de cerveja para um portfólio de produtos de maior valor agregado continua forte e não perdeu fôlego durante a pandemia, conforme mencionado anteriormente. É válido observar que estão aumentando consideravelmente também o aparecimento no mercado de outras bebidas alcoólicas com ocasiões de consumo próximas ao da cerveja, como vinhos e coquetéis em lata que tem ganho atenção do público, mas se encontram numa fase bastante inicial se comparado a outros países.

O mercado online

Se por um lado o consumo de cerveja nos canais chamados de “on-trade” formado por bares, restaurantes, hotéis e outros negócios do segmento de hospitalidade foram os que mais sofreram com a pandemia, a aceleração dos canais de venda online seguiram exatamente a direção oposta.

Consumidores que já utilizavam estes canais ampliaram seu consumo e aqueles que nunca haviam experimentado esse meio de se comprar cerveja realizaram suas primeiras compras, o que marcará a experiência deste público para sempre daqui pra frente.

Os formatos de vendas online de cerveja tendem a ganhar cada vez mais sofisticação e aqueles que conseguirem oferecer aumento de conveniência para os consumidores certamente irão ampliar espaço nestes canais.

Seja através de desenvolvimento próprio ou de parceiros, o comércio online de cerveja continuará a ganhar novos patamares de amadurecimento e não poderá ser mais negligenciado, permanecendo como um canal relevante ao lado dos mais tradicionais.

Um ponto que provavelmente deve marcar 2021 em relação a este tópico será o aumento da integração de canais de marketing com o consumo online. Com isso, a distância entre o ponto de contato com as marcas de cerveja e o momento da compra tende a ser encurtado e nesta direção as prateleiras tenderão a continuar se tornando cada vez mais virtuais.

O ano de 2021 será uma transição para o fim da pandemia, que todos desejam que seja o mais breve possível. Desta maneira, é muito importante trabalhar os fundamentos dos negócios para que essa travessia utilize o aprendizado recente que levaram a um mercado de cerveja com funcionamento bastante diferente do habitual de antes da pandemia..

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Sobre o autor

Felipe Freitas é analista do mercado de cerveja, engenheiro químico, mestre em Gestão da Inovação pela UFRJ. Fundador e editor do portal Catalisi.